Pensando no processo de escrita de um livro acredito pessoalmente que a questão mais difícil a se trabalhar em uma obra é a criatividade, porque ela não é uma característica que pode ser aprendida, é na verdade uma semente que todos temos e que precisa ser regada, e com constante água rende bons frutos. Ler livros com propostas criativas não é o mais comum, livros de fantasia então menos ainda. O Segredo da Caveira de Cristal - Livro I, da autora Mallerey Cálgara, publicado pela Mundo Uno Editora é um desses raros livros criativos, mas que infelizmente me deixou de coração apertadinho em dizer que não foi bem trabalhado em seu plantio.
Heilland é um reino próspero e
feliz, o rei Alphonsus governa com justiça ao lado de sua esposa a rainha
Arápia. Novas esperanças nascem quando ela dá a luz a gêmeos, mas a rivalidade
entre os dois já havia nascido em seu ventre. Com o passar dos anos o novo
herdeiro já havia sido determinado, mas após uma previsão o rei muda seu
escolhido, e com isso dá início a uma guerra sangrenta pelo trono. Uma disputa
entre irmãos e um mago que busca proteger seu rei e reino a todo custo.
Cálgara fez sua narrativa em
terceira pessoa de forma muito peculiar. Primeiro ela nos orienta dentro de
lendas a cerca do mundo que vai nos inserir, depois apresenta cada um dos
reinos que existem neste universo, e isso foi interessante, mas no fim sem
propósito visto que os reinos citados não voltam a aparecer, a não ser
brevemente citados. Acredito que essas lendas poderiam ter sido melhor exploradas ao
longo da narrativa. Depois é que se segue a estória central no reino de
Heilland, mas essa trama é traçada ao longo de uma extensa linha do tempo.
Livros do gênero alta fantasia
pedem por estórias detalhadas, repleta de características e longas, muito
longas. Aqui temos essas coisas de forma abreviada, assim algumas partes
interessantes acabam pode ser apenas brevemente citadas. Exemplo a viagem que o
mago realiza para os reinos, só este trecho renderia um livro, e poderia ter
sido melhor explorado com as características citadas pela autora no início do
livro.
O que mais incomodou na narrativa
foi primeiro, o desaparecimento súbito do rei Alphonsus, quando seu filho
assume o trono e sua esposa falece ele simplesmente adoece e some. Entretanto
ele como ex-soberano deveria pelo aparecer como figura de sabedoria orientando
o filho. Depois mais tarde em uma parte que nada se ligava ele volta a ser
citado. Outro aspecto que a mim soou forçado é o fato de o rei e o mago estarem
sob o mesmo teto que o vilão- irmão do rei, e não se darem conta de nada que se
passa na sua ala de habitação. Tudo bem as pessoas serem mais ingênuas, mas
achei que até o desfecho do livro Mongho, o mago é muito inocente! Alias o rei
também não dá conta da transformação do amigo de aprendiz de mago para mago, e
isso também soou forçado.
Hein, o jovem rei é repleto de
potencial para transformar seu reino em algo justo a todos, mas sua falta de
capacidade de ver além, de observar quem são seus inimigos e estar preparado é
irritante! É uma personagem leve, divertido e leal. Mas carece de profundidade,
de conflitos e majestade.
Mongho, o mago sofre uma perda que acaba por fortalecê-lo, e resgatar sua essência mágica. Embora seus poderes sejam baseados nos elementos a autora não soube dar profundidade a eles. Sabemos que ele acaba por se tornar poderoso, mas sua transformação sofre falta de ilustrações. O mago é determinado a não deixar que nada aconteça ao seu rei, promessa que fez a mãe dele, mas suas atitudes são muito independentes para alguém que deve satisfações ao rei.
Nadjra é uma bruxa, está ligada a
mitologia inicial da trama, ela é a única ponta que explica toda a necessidade
das explicações iniciais. É sábia, dona de conhecimentos herbários e sofreu
muito em seu passado. Seu desfecho no livro é interessante.
Um detalhe que talvez passe
desapercebido a muitos é o nome do livro, ele é muito similar a um livro da
editora butterfly chamado, O mistério da Caveira de Cristal. Visto que o livro
não se foca na caveira de cristal que é apenas um elemento na estória, o livro
deveria ter outro nome, para que assim os livros não se confundam.
O Segredo da Caveira de Cristal é
o primeiro livro da série, e espero que seja seguido de um livro melhor
organizado, as ideias estavam todas lá, mas a forma como elas foram
apresentadas e ligadas deixou tudo um pouco bagunçado em um ritmo um pouco
acelerado. A magia está ao alcance de todos, é só se sentar e deixar ela te
alcançar, sem pressa é só sentir para estória fluir!
Avaliação
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