Memórias Póstumas de Brás Cubas
foi um livro que li quando era adolescente, ele me permitiu uma boa memória de
Machado de Assis, enquanto muitos colegas reclamavam de sua escrita eu havia
ficado encantada com o jeito peculiar dele de escrever. Quando surgiu a
oportunidade de ler Machado de Assis do Folhetim ao Livro, escrito pela
professora de literatura brasileira Ana Cláudia Suriani da Silva, e publicado
pela editora Nversos, foi pensando nesta experiência que topei o desafio.
Ana Cláudia tem como objetivo em
seu exemplar analisar a partir da obra Quincas Borbas a transição de Machado de
Assis da publicação das suas obras do formato folhetim para o livro. Ela parte
inicialmente das características do folhetim no Brasil, trabalhando
exaustivamente em cada detalhe do mesmo pela publicação A Estação., desde sua
ligação com o folhetim alemão, até o modo como ele se estruturou aqui no país quanto a quantidade de páginas, fonte e disposição (o livro conta com
ilustrações destas publicações).
A partir desta análise a autora
pode constatar e analisar as influências do temas trabalhados nesta revista de
moda na escrita de Machado, que de alguma forma coloca os assuntos de moda em
sua trama, como ascensão social e trajes femininos demonstrando conhecimento do
público que lia os periódicos.
Depois de longos hiatos de uma
história que demorou ao todo mais cinco anos quinzenalmente para ser publicada
em fascículos, Machado transformou em determinado momento sua história em
livro, modificando a estrutura da mesma em diversas partes. Alguns trechos
foram excluídos, outros acrescentados, mas o fato é que depois desta
experiência que pareceu desgastar o escritor, ele não voltou a publicar
histórias no folhetim. E Suriani acredita que Quincas Borbas pode ser inclusive
o marco do declínio do formato folhetim.
O livro é a transcrição de um
trabalho acadêmico da autora, logo tem o formato exato de um trabalho
científico tanto em sua estrutura de introdução, desenvolvimento e conclusão,
como na sua forma de citação e exposição dos fatos. Assim a leitura do livro
não é das mais agradáveis, já que é um trabalho denso, repleto de citações, inclusive
em suas línguas originais como alemão e inglês.
Não me sinto qualificada para
atribuir notas ao livro já que não trata-se de uma obra para leitor comum, e
leigo em literatura. Não é um exemplar de linguagem fácil, e nem de compreensão
acessível para quem no mínimo não tenha lido Quincas Borbas (eu não li, recorri
a um resumo para pelo menos ter ideia do que tratava o livro). Assim, é sim um
trabalho para o público da área literária, e diria para estudantes de
literatura. Infelizmente não tive muito proveito da obra por conta disso,
primeiro pela ausência de contato com os temas trabalhados, segundo pela
desconhecimento da obra escolhida.
Mesmo quando a autora se propõe a
traçar um histórico dos folhetins, ela não o faz de maneira fácil, recorrendo
todo tempo por autores que estudaram o tema. Senti falta de um capítulo que
trabalhasse um pouco sobre o autor, já que a todo tempo ela busca compreender o
modo de escrita do mesmo apenas através de suas palavras sem buscar na vida
pessoal do mesmo sobre o que estava escrevendo, acredito que sua vida privada
pudesse colaborar com algumas das perguntas feitas.
Machado de Assis do Folhetim ao
Livro não funcionou para mim como trabalho que visa informar, mas trabalha o
que se propõe. O autor por si só já é de difícil manejo e imagino que um
trabalho que se propõe a falar do mesmo não possa mesmo ser dos mais fáceis,
mas particularmente acredito que a partir do momento que o livro foi publicado
(salvo se ela só queria atender a um público específico) a autora deveria ter
adaptado o material para o público em geral.
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