Lincoln
O’Neill não tem muita certeza do que fazer em sua vida no momento, mas ler os
e-mails dos seus colegas de trabalho não estava em seus planos quando se
candidatou à vaga para trabalhar no The Courier, como administrador de segurança
de internet. Mas é exatamente isto que o trabalho engloba: monitorar conversas
dos jornalistas e equipe que trabalham no local para, caso eles falem algo que
não é permitido, Lincoln escrever um alerta sobre o assunto. O emprego paga
muito bem e ele planeja manter-se lá por um tempo para usar o dinheiro e mudar
algo em sua vida.
Beth Fremont
e Jennifer Scribner-Snyder trabalham no mesmo local, sendo a primeira uma crítica
de filmes bem divertida, e a segunda uma revisora de grandes matérias. Por estarem
há alguns anos neste emprego, elas já são amigas íntimas e conversam entre si
de maneira agradável e com um senso de humor afiado. Ambas sabem que alguém
monitora seus e-mails e não parecem se importar nada com isso, continuando com
seus papos descontraídos e usando termos “proibidos”.
Lincoln não
conhece muita gente de seu local de trabalho, pois seu turno é o noturno e
muitas pessoas já foram para casa neste horário, além disso, ele trabalha no
setor de tecnologia da informação, no andar de baixo. Mas, quando começa a ler
os e-mails das duas moças, algo muda dentro dele, que passa a se divertir e se
importar com elas mais do que deveria, como se fossem suas amigas, e não
pessoas que nem nunca tinha visto na vida. Ele simplesmente não consegue
denunciá-las quando falam as palavras proibidas e de repente se vê meio viciado
em ficar lendo as conversas entre elas.
Até que
Lincoln percebe que seus sentimentos são ainda mais fortes do que deveriam ser,
e ele está envolvido demais numa situação onde não vê uma saída positiva,
inclusive porque se apresentar nesta altura do campeonato, sabendo tudo o que
sabe, pode ser complicado. O que ele diria? E, mais importante, o que ela
responderia?
“ – Você acredita em amor à primeira vista? [...]
– Não sei – disse ele. – Você acredita em
amor antes disso?”
“Anexos” foi
o primeiro livro que Rainbow Rowell escreveu, mas apenas o terceiro a ser
publicado no Brasil, pois "Eleanor & Park" e "Fangirl",
segundo e terceiro escritos por ela respectivamente, são os responsáveis pelo grande
sucesso da autora atualmente e chegaram ao país primeiro. “Ligações”, sua
quarta e última obra até o momento, chega ao Brasil agora, também pela Novo
Século, e em breve vou resenhá-lo.
Este é o
primeiro contato que tenho com a autora e gostei bastante. A escrita dela é bem
gostosa e envolvente, e logo nas primeiras páginas já me vi encantada pelos
personagens. Sua história é apresentada aos leitores de uma forma não tão comum
(apesar de existir vários outros livros assim), sendo que os capítulos são
intercalados e alguns são narrados em primeira pessoa e acompanhamos um
bate-papo entre Beth e Jennifer, já que elas trocam mensagens por e-mails no
trabalho e são as grandes responsáveis por nos mostrar que dias estamos
acompanhando naquele momento, enquanto os outros estão em terceira pessoa e seguimos
Lincoln, o que sempre ocorre depois dos das meninas na linha do tempo. Os capítulos
são relativamente curtos e a leitura flui muito bem, e, com esta forma de
narrativa, a experiência também é bem dinâmica.
A história é passada na época da virada do milênio, começando um pouco
antes da data, ainda em 1999, e acabando em 2000. Considero que este livro
apresenta três protagonistas, pois mesmo que somente dois deles vão fazer parte
de um romance, a outra está tão presente nas páginas e é tão importante quanto
os primeiros.
Eu amei os protagonistas, e confesso que meu preferido foi o Lincoln,
que também é quem conhecemos com maior proporção do que as personagens
femininas da obra, porque o acompanhamos em sua vida, no momento em que ocorrem
suas decisões, as cenas e os diálogos, enquanto só sabemos quem são as duas
moças por causa de suas conversas e pontos de vista, e somente através do que
uma decide contar para a outra e de que jeito estas confissões são feitas,
então não as vemos em suas vidas, como são seus relacionamentos de fato, seus
contatos com outras pessoas ou o que realmente fazem quando não estão no
trabalho, somente as acompanhamos através de suas próprias visões.
Os
personagens foram bem construídos e amadureceram com o passar das páginas, e
ainda são adoráveis e bem reais, como se realmente existissem fora do papel,
apesar de eu acreditar que Lincoln beira a “perfeição” e é difícil outro homem
como ele existir realmente. Ele é total e completamente encantador e
apaixonante, e gostei muito de sua personalidade. O jeito de Beth me fez
lembrar de situações vivenciadas na minha pré-adolescência (mesmo que a personagem
já seja adulta), o que fez com que eu me identificasse ainda mais com ela e sua
história.
Conforme a leitura vai avançando, o leitor fica ainda mais cativado
pelo romance, torcendo para que o casal fique junto ao mesmo tempo em que fica
com receio de que algo dê errado no meio do caminho por conta da maneira pouco
convencional que se “conhecem”. E achei bem fofo quando podemos ver que os
pensamentos de Lincoln e Beth se assemelham em termos de interesse mútuo, mesmo
sem se conhecerem.
Só acho que
demorou demais para o casal realmente se conhecer e de fato terem alguma coisa
física entre eles. Como é um livro de quase quatrocentas páginas, acredito que
isto poderia ter ocorrido antes do que apenas nas menos do que quinze últimas páginas.
Não vou dizer se eles ficam ou não juntos, claro, mas confesso que teve
momentos em que, quando estava chegando ao final, fiquei com raiva porque
pensei que poderia ser ridículo por falta de tempo e espaço. Por sorte isto não
aconteceu e foi fofo, mas queria que tivesse sido maior e mais desenvolvido, já
que demorou tanto tempo para ocorrer aquilo, pelo menos que pudéssemos
aproveitar por mais tempo, então, a minha opinião é que se tivesse sido melhor
trabalhado, teria sido perfeito.
Lincoln
reclama bastante do emprego dele, mas seria ótimo trabalhar fazendo quase nada
e ainda ganhar muito por isso, sendo que eu amo a noite, então acho que este
seria um emprego perfeito para mim. Hahaha
“Anexos” é um romance com personagens adultos, mas a leitura é bem
leve e descontraída, algumas pessoas inclusive o consideram um chick-lit, e não
há cenas quentes ou de sexo. É uma história doce e fofa, que faz a gente
acreditar no amor à primeira vista ou até mesmo antes disso.
Mesmo que eu
goste desta capa, de todos os livros da autora já publicados esta é a que menos
curto e até preferia a da outra edição lá de fora, a inglesa, mas entendo a
decisão da editora de ter escolhido manter um padrão com os demais títulos de
Rowell no Brasil, optando pela americana mesmo.
O trabalho
gráfico de dentro está lindo, com a parte de trás da capa em laranja com duas
cadeiras iguais às da capa, só que na cor branco. A fonte do miolo é bem grande
e o texto está bem espaçado, além de contar com folhas amarelas, fazendo com
que a leitura seja bem confortável.
Adorei este livro e a narrativa da autora, então estou bem empolgada
para ler todas as suas outras obras, ainda mais porque vi opiniões de muitas
pessoas e “Anexos” dificilmente é o preferido delas, então se já curti bastante
esta leitura, imagino o que vou achar das demais.
Se você
busca uma história com uma delicadeza contagiante e muito bom humor, que nos
aproxima dos encantadores personagens a ponto de parecer que somos amigos
íntimos, e ainda quer encontrar um romance gostoso, leve e descontraído, então
indico fortemente este volume.
Avaliação
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