Meia-Noite na Austenlândia – Austenlândia #02 – Shannon Hale

Charlotte Kinder é uma mulher bem-sucedida, inteligente, rica, mãe de dois filhos, calma e comum, que se divorciou há pouco tempo, depois que seu marido a traiu e a deixou e, agora, está prestes a se casar com a amante. Vivendo entre encontros às escuras desastrosos, ela praticamente desiste de relacionamentos amorosos. Mas nem tudo está acabado. Eis que, em um fim de semana sem os filhos, ela decide ler todas as obras de Jane Austen, que lhe despertam as mais variadas sensações boas: frio na barriga, gargalhadas, palpitações, etc.
Nossa protagonista percebe que Austen tem uma grande habilidade de fazer com que sinta, o que acaba se revelando algo novo e esperançoso para ela. Então, em um verão quando os filhos ficarão com o pai, Charlotte decide visitar a Inglaterra, e pensa em seguir roteiros inspirados na autora que tanto mexeu consigo.
Mas parece que as coisas serão ainda melhores. Eis que Charlotte acaba descobrindo um pacote de duas semanas que não traz apenas roteiros relacionados ou inspirados em Jane Austen, mas, sim, a experiência de viver em um romance da escritora de verdade!
Pembrook Park, em Kent, na Inglaterra, convida seus hóspedes a voltar no tempo, vivendo de acordo com os costumes da época, como na Inglaterra regencial, com roupas e espartilhos, passeios, comidas, bailes, e, o mais importante: homens que são perfeitos cavalheiros.
Claro que, ao mergulhar naquele mundo, nada mais será real, Charlotte terá um novo nome e uma nova identidade, podendo escolher qual personalidade mais lhe convier, e viverá um verdadeiro romance como as heroínas criadas por Austen (ou quase, porque, na verdade, os homens são atores contratados para cortejarem as mulheres e as fazer se sentirem entretidas e felizes).
Conforme os dias passam e ela está mais imersa neste mundo, começa a se perguntar o que ali é realidade e o que não passa de encenação. E, quando um cadáver surge em um quarto secreto, Charlotte começa a se questionar se está vivendo num mundo imaginário inspirado em Jane Austen ou se está vivenciando uma realidade estilo livros de Agatha Christie. Será que tudo não passa de uma brincadeira de mau gosto ou ela realmente está correndo sérios perigos? E o que seu coração quer dizer com todos aqueles pulos? Ela realmente está se apaixonando por um dos atores ou aquele sentimento é só alegria por ganhar algum tipo de atenção?
Shannon Hale é uma autora com diversos títulos e séries publicados lá fora e aqui no Brasil também (no país foram seis livros de séries variadas mais contos,). Apesar de algumas de suas obras estarem presentes na minha estante, esta é a primeira experiência que tive lendo algo dela, e gostei de sua forma de escrita, leve e divertida, me deixando com bastante vontade de conhecer outros de seus livros.
Achei a trama desenvolvida pela autora bem criativa e curti muito acompanhar esta mistura de realidade do nosso tempo com um “teatro real” do século XVIII. Era divertido ver os pensamentos e ações de hoje em dia misturados com situações antigas. Fiquei imaginando como seria viver esta experiência também, e cheguei à conclusão de que seria incrível se existisse mesmo uma Austenlândia (sem a parte macabra) e a gente pudesse visitá-la em uma viagem de férias.
A narrativa intercala momentos no presente de Charlotte em sua estadia em Austenlândia, com momentos de seu passado, apresentados em pequenos trechos. Achei desnecessário este vai e vem, levando em consideração que as coisas do passado não tinham tanta relevância ao que ocorre em seu presente, que não poderiam ter sido citadas no texto normal, até porque vários dos relatos não precisavam nem mesmo existir.
A escrita da autora é bem envolvente e instigante. Junto com a protagonista, criamos várias teorias e expectativas para saber se tudo o que ela viu ou acredita ter visto é mesmo real, fruto de sua imaginação ou faz parte do “faz de conta”. Só acho que, mais da metade para o fim, a autora repete muitas vezes as palavras “depois da meia-noite”, acredito que tenha ficado meio forçado e desnecessário dizer isso tantas vezes.
Apesar de a narrativa ter sido escrita em terceira pessoa, o foco principal era a protagonista Charlotte e seus sentimentos, pensamentos e ações, o que acabou sendo ruim porque não pudemos conhecer tão bem assim os personagens secundários.
O romance é fofo, mas demorou a acontecer porque a autora quis aumentar bastante o suspense. Ou seja, a gente fica um bom tempo tentando descobrir qual dos dois que mais se aproximam de nossa protagonista é o cara por quem ela vai se apaixonar, e quem poderia ser o verdadeiro assassino, responsável pela morte real – ou não – que aconteceu naquela casa.
Um ponto que pode incomodar é que Charlotte, apesar de estar beirando os quarenta anos de idade, tem algumas atitudes e pensamentos bem joviais, como se fosse muito mais nova do que é na verdade. Isso não me incomodou tanto assim, porque não acho que todas as pessoas precisam ser tão sérias só porque já são mais do que adultas e podem, sim, ter medos “bobos”, mas sei que alguns leitores não vão gostar nada disto.
Quando descobrimos uma verdade quase no fim do livro, a autora pecou bastante na reação das pessoas em relação a isso. Afinal, uma coisa terrível havia acontecido e todos ficaram calmos e tranquilos, permanecendo no local e demorando a chamar autoridades que deveriam estar lá desde o primeiro momento para investigar com vontade. Esta foi, com certeza, a parte mais negativa de toda a história.
Este livro na verdade é o segundo e último volume de uma série, cujos ambos os títulos já foram lançados no Brasil. Até onde eu sei, esta não é realmente uma continuação de “Austenlândia”, primeiro volume da série homônima, o único ponto de comum é o cenário, já que ambas as histórias ocorrem neste ambiente que remonta os romances de Jane Austen. Tem apenas um momento que um personagem cita um acontecimento anterior neste mesmo local, que eu acredito que seja uma referência direta a este primeiro volume (não tenho certeza absoluta porque não o li).
Eu acho esta capa legal, mas ela não me chama tanta atenção assim, apesar de remeter ao conteúdo, tanto na parte da frente, com este clima de Jane Austen, quanto na contracapa, com elementos que lembram Agatha Christie. E é bem interessante que as capas dos dois volumes sigam um padrão, fazendo com que a gente reconheça facilmente que pertencem a uma mesma série.
A versão impressa traz capa com textura soft touch (aveludada), verniz localizado em alguns detalhes gráficos, e folhas amarelas. A diagramação interna está bem feita apesar de simples, com fonte e espaçamento em tamanhos que facilitem a leitura sem cansar a vista.
Recomendo “Meia-Noite na Austenlândia” para todos que buscam uma leitura para entreter, enquanto viajam numa aventura recheada de referências a Jane Austen, mistérios e romance, com uma trama gostosa, leve e divertida.
Avaliação



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Um comentário:

  1. Não li o primeiro, mas vi o filme que saiu e achei bem legal. Gostaria de ler os dois, entretanto é só por curiosidade mesmo. Os livros não me chamaram muita atenção, acho que ler resenhas é o máximo que faço por eles Até achei esse mais legal, só que tem muita enrolação pelo que entendi, vai e vem de passado e presente e narrativa com um ponto de vista só peca em alguns livros...
    É mais pra quem quer passar o tempo com uma leitura levinha.

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