Cinema x Bookcase: O Lado Bom da Vida – Matthew Quick



Em “O Lado Bom da Vida” acompanhamos a vida e o desenvolvimento psicológico de Pat Peoples, um homem com pouco mais de 30 anos que acaba de sair de uma instituição psiquiátrica, onde ficou internado por um grande período por causa de uma situação que ocorreu em seu passado, da qual ele não consegue lembrar porque sua memória ficou nebulosa depois desse trauma e o que ele gerou.
Ele vai morar com seus pais quando sua mãe consegue tirá-lo do “lugar ruim”, já que ele não tem mais casa e nem emprego. Ela fez um tipo de academia para ele no porão, que acaba se tornando seu lugar preferido porque agora ele é um viciado em exercícios físicos, e uma boa parte de seu tempo está malhando ou correndo, porque ele acredita que Nikki gostaria disso. Pat também acredita no lado bom das coisas, no amor e em finais felizes, e faz de tudo para seguir sua nova filosofia de vida, priorizar a gentileza e não a razão.
 Com a ajuda das pessoas próximas a ele, como sua querida mãe, seu irmão, seu vizinho e melhor amigo, além de seu novo médico, o Dr. Patel, um indiano baixinho que não prega o pessimismo (o que para ele é de muita importância), em seu consultório “agradavelmente estranho”, onde ele se sente relaxado, e da amizade de uma mulher que passou por problemas por causa de depressão e também faz tratamento psicológico depois de um acontecimento muito ruim, Pat vai aprendendo a lidar com o que está passando enquanto vai vivendo o filme de sua vida, se lembrando do que aconteceu entre ele e sua mulher, sem deixar a esperança de lado de finalmente acabar o “tempo separados”.
Esse livro foi magnificamente escrito por Matthew Quick, ele soube dosar momentos engraçados, com cenas cativantes, uma bonita lição de superação, esperança, personagens incrivelmente bem construídos, muitos sentimentos, um relacionamento amoroso inesperado, além de saber expressar tão bem mentes perturbadas e depressão, e fazer com que o leitor se insira na história, tudo isso com uma narrativa sensível, gostosa e fluida.
A narrativa é em primeira pessoa, então podemos entender tudo o que se passa na mente de Pat, desde as dificuldades para entender o que aconteceu com o mundo fora da clínica no tempo em que ficou internado, passando por seu complicado relacionamento com o pai, sua esperança em voltar com sua esposa Nikki, chegando a seus esforços para ser uma pessoa melhor, buscando sempre encontrar o lado bom da vida.
Amei conhecer Pat e acho que o livro não teria ficado tão bom se não fosse narrado diretamente por ele. Conhecer seus anseios, acompanhar sua luta interna, ver como algumas coisas não saíam como planejado e ainda assim ver que o otimismo não o deixava nunca. É impossível não admirar sua força de vontade, essa foi uma lição incrível que eu adorei acompanhar.
“Sorrio para ela, (...) não há o menor indício de que 2007 será um ano bom para minha mãe ou para mim, e, no entanto, minha mãe continua tentando encontrar o lado bom da vida, como me ensinou a fazer há tanto tempo.”
É impossível não se cativar com ele e, a cada página avançada da leitura, a gente só consegue torcer mais e mais para que tudo dê realmente certo no final, para que ele consiga entender o que realmente aconteceu e saiba lidar com todos os seus medos e angústias de uma forma positiva. Ele sempre fala se como ele era no passado, como agia errado com Nikki, e hoje se condena por isso. O leitor acaba conhecendo um lado totalmente diferente do protagonista que ele é agora através de seus comentários, e ver como ele mudou e tudo o que faz para ser alguém que dê orgulho a sua ex-mulher, é lindo.
Algumas vezes nosso protagonista lia alguns livros clássicos que Nikki usava em suas aulas, já que ela é professora, e queria estar preparado quando o reencontro entre eles ocorresse. Adorava essas partes, porque o modo que ele ficava revoltado quando lia que os livros não eram tão positivos quanto ele gostaria que fossem, eram ótimos. E, como eu também sou fã de finais felizes, me identifiquei bastante com ele nesses momentos.
Uma característica que eu gostei muito na escrita do autor, é a curiosidade que ele desperta no leitor. Porque não sabemos o que aconteceu a Pat para ele ter sido internado, e o porquê de uma música o afetar tanto. Dá para imaginar que há uma ligação entre as duas coisas, mas só mais para o final do livro é que vamos descobrir exatamente o que ocorreu, e isso de uma maneira muito bem feita, sem soar chato ou cansativo.
Uma coisa que talvez incomode algumas pessoas, mas até que não ocorreu comigo, é a quantidade de vezes que ele cita o futebol americano, principalmente os Eagles, já que quase tudo relacionado ao pai, principalmente a seu temperamento, é devido ao desempenho do time, também há muito da relação entre seu irmão e até seu médico que tem a ver com os Eagles, inclusive eles cantam o hino diversas vezes.
Que final fofo! Admito que não era muito fã de Tiffany em muitos momentos do livro, principalmente porque ela era muito calada, e também não concordo com algumas de suas atitudes, mas entendo que essa visão que eu tive dela tem a ver com o fato de não poder acompanhar seus pensamentos, como ocorre com Pat. Então, por ela ser uma pessoa mais fechada, não dava para conhecê-la tão bem assim.
Uma curiosidade que eu achei interessante comentar e que eu não sabia é que a expressão em inglês “Silver Linings” refere-se a, em um dia nublado, aquela luz que escapa no meio das nuvens, e significa que mesmo as coisas ruins tem seu lado bom, coisa que tem tudo a ver com a mensagem passada no livro e no filme.
“Se as nuvens estão bloqueando o sol, sempre tento ver aquela luz por trás delas, o lado bom das coisas, e me lembro de continuar tentando, porque eu sei que, embora as coisas possam parecer sombrias agora, minha esposa logo voltará para mim.”
Amo essa capa! Além de ter Bradley Cooper (nem preciso de mais comentários! Hahaha) e Jennifer Lawrence nela, o trabalho da Editora Intrínseca está ótimo. Com verniz localizado apenas na parte central, enquanto o resto está fosco. Fora que adoro o jogo de cores utilizado, com preto, branco, cinza e amarelo (inclusive na logo da editora), além do destaque para a única cor diferente ser nos olhos dos dois.
A diagramação está muito bem feita, com um ótimo espaçamento entre as letras e um tamanho de fonte confortável para leitura. Além de as páginas serem amarelas, ótimas para ler por mais tempo.
Com capítulos curtos e uma narrativa ágil, indico essa leitura a todos que gostam de ler algo emocionante, com pitadas cômicas, personagens reais (você com certeza conhece alguém com características próximas a pelo menos um deles), através de uma história de superação e, principalmente, otimismo.
Agora vou falar das minhas impressões sobre o filme. Eu gostei dele, mas nem se compara ao livro. Sei que, quando um livro é adaptado para outro formato tem que haver mudanças drásticas para se encaixar melhor a quem assiste, principalmente porque no livro podemos acompanhar os pensamentos de Pat, já que tudo que acontece é sob seu ponto de vista, mas no filme isso não é possível porque o espectador tem que ouvir com uma visão em terceira pessoa.
Ao mesmo tempo em que sei que isso é necessário, não acho que tantas mudanças assim precisem ser feitas e é isso o que ocorre. A essência da história foi mantida, sendo que em ambos Pat passou um tempo internado em um hospital psiquiátrico, mas a duração foi totalmente diferente. Os personagens apresentam certas características próximas, mas não iguais, algumas situações vivenciadas foram parecidas, mas o rumo que elas tomavam eram outros, a participação de alguns personagens ocorreu de uma forma totalmente oposta, principalmente o modo como vemos a relação entre filho e pai amoroso, coisa que não existe nem de perto no livro, já que seu pai é distante e quase não dirige a palavra ao filho, nem a mulher (no livro eu não o suporto, mas no filme eu o adoro!), o irmão no filme também é um babaca, coisa que no livro ele não é, pelo contrário, é super legal.
Mesmo com essas e outras mudanças, o filme teve um roteiro muito bem escrito e consegue passar uma realidade para quem está assistindo sobre o que se passa com os personagens de uma maneira muito bem feita, claro que isso também pode ser notado devido a ótima interpretação dos atores escolhidos para os papeis, que deram o tom certo a eles, passando emoção e diversão na medida perfeita.
Uma outra característica que eu preciso comentar é que, como disse anteriormente, gostei da curiosidade que Matthew despertou no leitor sobre o que realmente aconteceu no passado de Pat, e isso não ocorre no filme, já que logo no começo sabemos o que o levou a ficar assim, e acho isso uma pena. Então aconselho que leia primeiro para não perder a graça a respeito dessa revelação.
Estou dando quatro casinhas na minha nota ao filme não porque ele é ruim, mas porque o livro é melhor e mais profundo, então eu esperava um pouco mais do filme. E, apesar de melhorar da metade para o final, eles apresentam finais bem diferentes.
Com diálogos inteligentes, performances admiráveis (tanto é que Jennifer Lawrence recebeu o Oscar por sua atuação), uma história comovente ao mesmo tempo em que diverte e tem um certo clima de comédia romântica, indico muito o filme também.
Uma ótima novidade para quem vai à Bienal do Rio esse ano é que o autor, Matthew Quick vai estar presente. Ainda não há uma data certa, mas será ótimo poder conhecê-lo e pegar um autógrafo.
Avaliação
Livro: 



Filme:


Vencedor: Livro
Considerações Finais: Indico ambos, mas por favor leia o livro primeiro para não estragar nenhuma surpresa.
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9 comentários:

  1. Ameiii o Post.. ♥
    Ainda não li o livro muito menos vi o filme mas depois desse post maravilhoso que só me fez pensar o que estou esperando pra conhecer de verdade essa historia vou passar o Livro O lado bom na vida na frente na minha pilha de leitura e correr ver o filme por que como vc mesma aconselhou o ler o livro primeiro é sempre melhor!!
    Beijos

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  2. Oie!!! Fazia tempo que esta coluna não ia ao ar heim!!! Já estava com saudades....

    Enfim, AMEI!!!! quero muito ler este livro, me recuso a ver o filme antes!!! ¬¬

    Bjo^^

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  3. O post esta maravilhoso eu amei!!!
    Eu ainda não li o livro, mas to louca pra ler e pra ver o filme também é logico né, e eu concordo com você prefiro ler o livro primeiro pra depois ver o filme sei lá acho assim bem melhor, a resenha esta ótima e eu não vejo a hora de poder curti os dois, livro e filme.

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  4. Livro sempre!!!
    (eu tinha escrito varias linhas dizendo tudo o que veio nacabeça mas minha net caiu e me lasquei ¬¬ mas enfim...)
    resumindo kkk acho que livro nos da uma capacidade incrivel de fazer com que imaginemos as coisas, é magico imaginar lugares e pessoas, como elas realmente são, suas reações....
    os filmes mesmo "dando essas respostas" não é tão proveitante, na minha opinião, até por que muitas vezes acontece de mudarem algo, ou cortarem partes legais, colocarem alguem com caracteristicas fisicas diferentes dos personagens dos livros etc. Prefiro o Livro 100%
    Adorei a resenha deste livro, é muito belo, cativante e com aquele gostinho de que eu sei que esse livro é aquele que vai marcar... pelo menos pra mim, eu tenho essa impremssao ^^
    espero ler, estou bem animada (:
    bjus meninas ♥

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  5. Não vejo a hora de ler esse livro. Vi o filme e adorei, agora vou atrás do livro! Obrigada pela dica.

    Beijos,

    Lulu
    http://blogamantesdelivros.blogspot.com

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  6. Ganhei o livro e estou super ansiosa para lê-lo! Mais ainda agora vendo que você deu 5 "casinhas" para ele! *-* E depois, claro, quero ver o filme! Gosto bastante de fazer comparações! :D hehe

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  7. Oi adorei.. muito obrigado, amei a maneira que vc usou para descrever essa resenha...me fez se interessar pelo livro....mas vc já leu o livro reverso escrito pelo autor Darlei... se trata de um livro arrebatador...ele coloca em cheque os maiores dogmas religiosos de todos os tempos.....e ainda inverte de forma brutal as teorias cientificas usando dilemas fantásticos; Além de revelar verdades sobre Jesus jamais mencionados na história.....acesse o link da livraria cultura e digite reverso...a capa do livro é linda
    www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?

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  8. Comecei a ler esse livro e gostei, porém não continuei a leitura de onde parei, porque estava lendo virtualmente (E odeio ler assim, prefiro os livros fisicos). Então, pretendo comprá-lo para terminar de ler. É um livro divertido, ao mesmo tempo dramático. É show!
    Bjss e parabens pelas resenhas!

    http://robertabrandao24.blogspot.com

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  9. Sem dúvida, isso é ótimo livro, mas o filme também foi e está satisfeito com a história. Filme muito bom. Bem dirigido, um bom roteiro, divertido, inteligente. Jennifer Lawrence esta digna em seu personagem, ja mostrou que é uma excelente atriz, ja Bradley Cooper me surpreendeu. Filmes globais Cooper são muito bons, "Francotirador" é um de seus filmes mais bem sucedidos, eles recomendam. Voltando à história que nos interessa também gostaram… Atuações ótimas até mesmo dos coadjuvantes Robert De Niro e Jacki Weaver estão ótimos. Uma ótima historia, madura, diferente de todas essas comedias dramáticas/românticas. Vale muito apena acompanhar.

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