Belinda
Portman é a única sobrinha solteira de Mrs. Stanhope, que quer encontrar um
partido ideal, rico e bem visto pela sociedade para a jovem. Só que ela não
está em grandes condições de sair em busca do par perfeito para a moça porque
sua saúde já não está tão boa quanto antes para frequentar os locais certos com
a frequência desejada. Por isso, pede que a viscondessa lady Delacour, a dama
mais influente de Londres, a receba em sua casa, tendo certeza de que Belinda
encontrará o futuro marido ideal.
Miss Portman
não é uma pupila tão dócil quanto as outras sobrinhas de Mrs. Stanhope e se
incomoda com os ideais de sua tia a respeito de modos e aparências, mas acha
lady Delacour fascinante, então fica animada com sua visita a essa dama. E é
então que Belinda começa a perceber que as pessoas nunca são como aparentam ser
na intimidade de seus lares, e suas vidas possuem muito mais camadas do que as
superficiais que todos conhecem.
Vivenciando
tumultos sociais, intrigas, fofocas, elogios falsos e conselhos reflexivos, a
vida de aparências, coquetismo, glamour e muito mais, Miss Portman, vinda do
interior da Inglaterra, passa a ver de perto como funciona a alta sociedade Londrina
e, mais ainda, a família Delacour com suas questões mal resolvidas e um
casamento problemático.
Nesse meio
tempo, ela conhece Mr. Clarence Hervey, que todos dizem ser um homem admirável,
encantador e honrado, e começa a nutrir sentimentos por ele. Até que Belinda
descobre que ele também possui segredos e talvez não seja aquilo que todos
pensam. Enquanto isso, também conhece Mr. Vincent, que fica encantado por ela e
tem as melhores intenções pela moça, além do apoio absoluto da família
Percival, que Miss Portman logo passa a admirar. Então ela fica dividida entre
os dois homens em sua mente, mas seu coração parece ter tomado uma decisão
sozinho.
E, em meio a
tudo isso, Belinda tem cada vez mais certeza de suas convicções, de seu modo de
agir e de pensar e fará de tudo para se manter fiel aos seus sentimos e perspectivas,
enquanto mantém sua integridade, mesmo que todos ao seu redor tenham sua
própria opinião de como ela deve ser ou agir.
Confesso que
até o começo deste ano, não me lembro de ter absorvido conhecimento a respeito
da existência dessa obra, escrita por Maria Edgeworth, e citada em Abadia de
Northanger, de Jane Austen, uma de minhas autoras favoritas. Porém, desde que Chirlei,
editora da Pedrazul, me contou que “Belinda” era um dos livros mais lindos que
já tinha lido e também o melhor lançamento da editora até então, eu senti necessidade de lê-lo. E agora,
depois de ter finalizado minha leitura, posso dizer que em minha opinião, ela
está certíssima. E vocês vão poder entender o que achei com a minha resenha
(que ficou bem grande por sinal, mas leiam porque escrevi de coração).
Um dos pontos que achei mais incrível nesta leitura foi justamente o comportamento da protagonista, Belinda, no iniciozinho do século XIX. Sei que muitas obras contemporâneas de romances de época trazem personagens femininas fortes como protagonistas, só que o livro de Maria Edgeworth é mais especial porque realmente foi escrito no século XIX (foi publicado em 1801 para ser mais exata). Ou seja, ela vivia toda aquela repressão por ser uma mulher, considerada erroneamente na época de “o sexo frágil”, e foi contra toda a sociedade e a ideia de como uma mulher deveria se comportar e mudou muita coisa através de Belinda. Foi realmente lindo de ler e completamente admirável. Me senti feliz por conhecer essa personagem, que me lembrou muito as mocinhas de Jane Austen, só que essa trama é passada antes, e quanto mais olharmos para trás na linha do tempo mundial, pior a situação feminina era.
Um dos pontos que achei mais incrível nesta leitura foi justamente o comportamento da protagonista, Belinda, no iniciozinho do século XIX. Sei que muitas obras contemporâneas de romances de época trazem personagens femininas fortes como protagonistas, só que o livro de Maria Edgeworth é mais especial porque realmente foi escrito no século XIX (foi publicado em 1801 para ser mais exata). Ou seja, ela vivia toda aquela repressão por ser uma mulher, considerada erroneamente na época de “o sexo frágil”, e foi contra toda a sociedade e a ideia de como uma mulher deveria se comportar e mudou muita coisa através de Belinda. Foi realmente lindo de ler e completamente admirável. Me senti feliz por conhecer essa personagem, que me lembrou muito as mocinhas de Jane Austen, só que essa trama é passada antes, e quanto mais olharmos para trás na linha do tempo mundial, pior a situação feminina era.
Belinda é
aquela personagem forte que entende que deve ter uma personalidade própria e
não se guiar pela opinião alheia. Então ela percebe que tem seus gostos,
ideias, conceitos e valores pessoais, e, independentemente do que os outros lhe
dizem ou como esperam a forma como ela deve agir, Belinda não aceita isso e se
move e pensa por vontade própria. Até mesmo se a outra pessoa tiver títulos,
valores ou fama, ela não se deixa intimidar e nem abaixa a cabeça, costume
comum da época.
Com uma
escrita bem envolvente, o leitor consegue entender essas nuances de Belinda,
que mostram que ela é muito mais do que a aparência e o modo de agir esperado
pela alta sociedade. Podemos acompanhá-la crescendo e amadurecendo conforme as
páginas são avançadas, principalmente quando ela precisa lidar com algumas
questões que a fazem refletir e se questionar se o que escuta dos demais é o
mesmo que ela própria pensa também ou se sua opinião diverge deles. E ela faz
isso de forma bem autêntica, doendo a quem doer. Ela não muda sua forma de ser
só porque alguém quer ou porque poderia “ferir” os sentimentos alheios. Mas,
claro, Belinda é uma jovem de um ótimo coração e uma grande sensibilidade,
então sempre se impõe de maneira delicada e gentil, mostrando a forma que pensa
de uma maneira ao mesmo tempo autêntica, leve e firme, sem ofender alguém, levantar
sua voz ou se impor forçadamente.
Maria
Edgeworth elimina preconceitos e desconstrói pensamentos da época em diversos
momentos da trama, e não apenas através da protagonista, como também por meio
de outros personagens. E eu só sei que, a cada trecho que lia com algo assim,
tão à frente de seu tempo, eu me sentia ainda mais orgulhosa por essa mulher
ter existido naquela época e ter colocado no papel personagens que pensavam de
uma forma mais moderna e diferente do que era esperado. Me sinto realmente
feliz por ter conhecido essa autora, já que ainda não tinha lido nenhuma obra
dela, e gostaria de voltar no tempo só para poder agradecê-la por isso.
Todos os
personagens são muito reais e foram bem construídos, fazendo com que o leitor
tenha a chance de ver suas nuances e camadas, mostrando que todos têm diversos
lados, assim como qualquer ser humano na vida. Ninguém é cem por cento bonzinho
ou ruim, claro que algumas pessoas tendem a ter uma personalidade com um ponto mais
forte em um lado ou no outro, mas nunca é apenas bom ou mal. E ela mostra isso
com todos os seus personagens.
Um exemplo de
personagem real, com diversas características diferentes dentro de si, é uma
das pessoas mais importantes do livro, Lady Delancour, que está presente na
vida de Belinda na maior parte de leitura e também é alguém que tenta
influenciá-la muitas vezes, algumas dessas de maneira errônea, mesmo que suas
intenções sejam as melhores. Podemos conhecê-la de duas maneiras bem distintas.
Uma delas é a forma como se apresenta à alta sociedade, mostrando que é feliz e
vive bem com um casamento perfeito, e achando que o correto é sempre fingir que
está bem e contente, mesmo que por dentro esteja um verdadeiro caco. Afinal,
seu orgulho fala mais alto e ela jamais mostraria fraqueza, tristeza, dor ou
qualquer coisa negativa em frente a seus inimigos, afinal nunca lhes daria esse
“gostinho”. E podemos vê-la sendo alguém completamente diferente quando está na
companhia de Belinda “por trás dos panos”, quando as duas convivem e ela acaba
demonstrando o que sente ou o que lhe incomoda e que nem tudo – ou quase nada –
em sua vida é o que ela mostra que seja, uma perfeição. Essa é uma personagem
bem complexa, a qual gostei bastante de conhecer. Claro que não concordo com
todas as suas opiniões, mas sempre pude enxergar seu lado bom.
Por outro
lado, conhecemos pessoas que vivem uma vida mais simples e feliz, sem fingir
aquela alegria completa para os outros, mas que no fundo também cometem erros e
não são cem por cento corretos em todas as suas opiniões. E também percebem
que, assim como não gostam de serem julgados, não é correto julgar o próximo. É
muito bacana podermos conhecer tantas pessoas assim tão distintas umas das
outras, mas sendo todas complexas, bem trabalhadas e desenvolvidas, o que só
mostra que os seres humanos são exatamente assim; pessoas completamente
diferentes, que as vezes possuem gostos e ideais semelhantes, outras vezes não,
mas nem por isso são melhores ou piores do que os próximos, independentemente
de posição social, recursos, gênero, etc.
A escrita de
Edgeworth é leve, envolvente, deliciosa, reflexiva e interessante. Os parágrafos
muitas vezes são bem longos (inclusive há alguns com mais de uma página), o que
dificulta um pouco na fluência do texto. Mas, ainda assim, a gente se sente tão
inserido naquele enredo, mergulhado nos acontecimentos e reviravoltas que
acontecem, nas mudanças de cenário ou não dos personagens, em cada conversa reflexiva,
por vezes filosóficas, que tecem com as visitas, no contexto da época, etc.,
que fica bem difícil largar o exemplar de lado por muito tempo. Minha leitura
pode ter demorado um pouco além do que geralmente estou acostumada, porém foi
muito prazerosa da primeira até a última folha.
Algo que
acho válido comentar nesta resenha é que os leitores atuais conseguem, sim,
tirar lições desta história, ainda que ela tenha sido escrita numa época muito
diferente da nossa, na qual os costumes ainda eram muito mais enraizados do que
atualmente, e as pessoas agiam de acordo com os padrões comportamentais esperados
ou sofriam consequências negativas perante a sociedade com muito mais
intensidade do que hoje. Mas, ainda assim, podemos notar que certas
características nunca mudaram e hoje ainda continuam bem semelhantes a coisas
vividas há mais de duzentos anos.
Quem espera
uma obra voltada para o romance, sinto muito em informá-los, mas a autora não
foca nada nesta questão, que nem no segundo plano fica. Não que isso seja algum
ruim, só estou comentando para que as pessoas não comecem a leitura esperando algo
diferente. O foco é mais na vida social e no comportamento humano, e podemos
acompanhar como cada pessoa, com personalidades diferentes das demais, lida com
situações que aparecem em seus caminhos, sejam elas novas ou não.
Há muitos
conflitos e questões sociais sendo trabalhadas, tanto com relação ao papel da
mulher na sociedade como o papel do ser humano em si, a visão de como cada um
deve se comportar no meio, seguindo ou não regras, devendo ou não encontrar o
que lhe agrada pessoalmente e não como um todo dentro da sociedade de maneira
geral, como as pessoas tendem a julgar os próximos mesmo que não tenham total
conhecimento dos casos, entre muitos outros pontos de extrema importância, que
nos levam à reflexão.
Gostei
bastante das reviravoltas da trama, que deram movimento à mesma e ainda
conseguem surpreender o leitor de uma maneira positiva. Confesso que em
determinados momentos eu mesma duvidava de algumas coisas e depois pude
entender que nada era como eu imaginava.
Considero
que este é um livro de força feminina, já que as personagens mais importantes e
donas das personalidades mais marcantes, são, justamente, as mulheres. E esse
foi um dos meus pontos preferidos na leitura. Os homens acabaram ficando em
segundo plano e quase nunca tinham opiniões mais fortes do que as mulheres.
O desfecho
foi bem interessante e diferente. Eu já li muitos livros na vida, mas nunca
antes tinha lido algo semelhante e aprovo por ser saído do lugar comum, além de
ter sido divertido também. Devo admitir que no momento em que fechei o exemplar,
gostaria que tivesse sido um pouco mais desenvolvido, mas depois eu até aceitei
melhor como terminou.
A edição
nacional ficou a cargo da Pedrazul Editora, que tem um catálogo maravilhoso com
obras clássicas incríveis que merecem ser lidas. A capa de “Belinda” é linda e
a contracapa é ainda melhor – sou apaixonada por ela. A diagramação do texto
está bastante confortável para uma leitura fácil e agradável, o miolo é repleto
de ilustrações originais, que são muito bonitas e representam algumas cenas
importantes da trama, e as páginas são amarelas. Gostei bastante da tradução de
Bianca Costa Sales, que soube dar o tom certo ao texto.
Só posso
afirmar que “Belinda” é uma obra maravilhosa, envolvente, inteligente e
admirável, que deveria ser lida por todos, inclusive por aqueles que ainda não
se aventuraram nos clássicos. Porque, como já aprovado pela Jane Austen, este
romance aborda o conhecimento mais profundo da natureza humana enquanto provoca
nosso poder intelectual.
Avaliação
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