Muitas pessoas têm preconceito ou
más experiências na leitura de livros clássicos. Essa classificação em si já é
polêmica e não unanime, já que trata-se de uma definição ampla. Eu depois de
tanto anos de leitura sou aberta a qualquer tipo de livro, os clássicos para
mim têm um gostinho especial porque sei que inspiraram pessoas que eu admiro.
Logo ler Por que ler os Clássicos, do autor Italo Calvino, publicado pela
Companhia das Letras é não só obrigatório como um 'clássico' no tema rs!
A obra conta com ensaios de
Calvino publicados ao longo dos anos 50 a 80, e foram reunidos por sua esposa,
Ester Clavino, e publicados postumamente. Todos eles com exceção do primeiro
ensaio aprofundam aspectos de livros, contos e poesias que são consideradas
pelo autor dentro desta categoria clássica. Os ensaios estão organizados em
ordem cronológica de publicação das obras, o que é uma excelente maneira de
perceber os movimentos literários que as obras fizeram parte e suas épocas, já
que todos juntos são como uma breve viagem pela literatura ao redor do mundo.
Praticamente em todos os ensaios existem
trechos e citações das obras em questão, o que auxilia muito na ilustração do
que o autor quer trabalhar e apresenta de forma sucinta a narrativa dos
autores. Embora talvez não tenha sido sua intenção, Calvino escreve tudo a
partir da ótica de onde vive, a Itália, assim autores italianos são frequentes,
e o impacto que as obras tiveram no país sua referência.
Italo ainda consegue ao longo de
seus escritos mostrar que os livros clássicos não se propõem apenas a narrar
estórias, mas a gerar pensamentos filosóficos, críticas ao modo da época,
promover mudanças e causar incômodo. Não se satisfazem em descrever os
personagens, pois fazem convites ao comportamento humano, com objetivos
psicológicos que geram mudanças de paradigmas.
O primeiro ensaio e o mais
interessante deles tem como título o mesmo nome do livro, nele o autor pontua a
partir de afirmações quais seriam as principais características dessas obras.
Embora seja breve, é repleto de material verídico para quem ama ler, como os
efeitos da leitura dos clássicos : a vontade de relê-los, o fato de serem
inesquecíveis e marcarem o inconsciente e também de provocarem uma nuvem de
discursos críticos. Conta ainda com os aspectos desses livros: é um livro que
nunca terminou de dizer a que veio e trazem marcas de leituras que precederam a
nossa.
Na sequência cada texto se ocupa
de alguma obra, a começar pelos clássicos da antiguidade como Homero,
Xenofonte, Ovídio e Plínio. Já li Ilíada e Odisséia, mas as demais obras e
autores citados eram desconhecidos a mim, assim fiquei muito curiosa para
conhecer esses livros, em especial a História Natural, uma coleção de livros
que se aprofunda em diversos temas como cosmografia, homem, animais, e etc, com
relatos que parecem ter saído de um livro de criptozoologia.
Depois Calvino segue com Nezami e
a literatura persa medieval; Tirant Lo Blanc e seu romance de cavalaria
ibérico; Galileu e o livro da natureza; Cyrano de Bergerac o precursor da
ficção científica- sua imaginação poética nasce de um verdadeiro sentimento
cósmico, e isso se reflete na sua obra; Robinson Crusoe e as memórias escritas
por um náufrago.
O autor que é mais citado em
diversos textos é Balzac, e ele claro conta com seu próprio texto, onde Italo
explora História dos treze, que é como uma mitologia da metrópole, no caso Paris.
É um autor muito curioso sobre o que o cerca, e isso pode ser percebido em suas
obras.
A partir das análises
apresentadas podemos sentir as características dos livros, como sua
complexidade, gênero e peculiaridades. Charles Dickens, por exemplo, e Our
Mutual Friends soou tão inglês e interessante que não consigo conceber como
ainda não o li. Ou ainda Borges, mestre do escrever breve que compartilha com o
leitor uma riqueza extraordinária de sugestões poéticas e de pensamento.
A lista de autores não param por
ai, ainda temos Gustave Flaubert, Lev Tolstói, Mark Twain, Henry James, Robert
Louis Stevenson, Eugenio Montale e Hemingway, além de diversos outros que nunca
ouvi falar e que formam outra lista.
Por que ler os clássicos enumera
de todas as formas e aspectos possíveis diversas razões para ler esses livros,
estes textos em si já são carregados de informações que nos tocam e não
precisariam de mais nada para despertar atenção, mas ler suas análises coloca
luz sobre elas e as faz brilharem para os olhos dos leitores. Imaginem então a
leitura de cada um deles? É uma jornada que não soa fácil, mas que parece
transforma a todos que os lêem!
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