Fahrenheit 451 - Ray Bradbury



"...Entende agora porque os livros são odiados e temidos? Eles mostram os poros no rosto da vida. Os que vivem no conforto querem apenas rostos com caras de lua de cera, sem poros nem pêlos, inexpressivos..." (pg. 121)

A moda das distopias ainda continua, e embora eu compreenda o interesse das pessoas pelo tema em geral elas não me cativam, pelo menos não estas voltadas para os jovens adultos. Entretanto, todavia, rs eu não posso dizer o mesmo quando o assunto se volta para as antigas distopias, pelo menos não quando se trata de Fahrenheit 451, do autor Ray Bradbury publicado pela Globo de Bolso.

Em uma sociedade futura controlada por meios de comunicação, os livros foram proibidos, e mais do que isso foram queimados, e os bombeiros passam a ser responsáveis por esta tarefa, deixando de ser responsáveis por apagar o fogo. Uma noite o bombeiro Guy Montag esbarra em sua nova vizinha, e com ela uma nova consciência toma forma, ele passa a refletir sobre o que está acontecendo ao seu redor. Invés de queimar livros, ele passa a guardá-los e com isso torna-se rebelde, e a ter que viver assim, será que possível nesta sociedade?

Embora a trama passe em um futuro ela soa muito atual, ainda quenão tenhamos chegado a alienação social que o livro mostra, eu honestamente acredito que estejamos a caminho. No livro sua esposa, Mildred, interage apenas com as telas (televisões) que em sua casa chegam a três simultâneas, ela chama estes de sua família, e não consegue ter um diálogo sem que suas palavras se repitam ou se percam, ela nem sequer consegue se lembrar onde conheceu o marido.

Guy é bombeiro por herança familiar, e não acreditava que poderia fazer outra coisa. As conversas breves que teve com sua jovem vizinha balançou sua segurança e mais que isso abriu seus olhos para a verdade. As falas desta vizinha são muito interessantes! E ela com sua lucidez é tida como maluca entre a população.

Beatty é o bombeiro chefe, que mais do que controlar os passos da população tenho um passado obscuro. Com uma fala enigmática ele parece ter prazer em ameaçar Montag, ao mesmo tempo em que seu desfecho desperta outras interpretações.

Faber é um professor que ajuda Guy em sua fase de revolta. É um acadêmico que perdeu a serventia, mas que guarda dentro de si a vontade da mudança. É fundamental para a sobrevivência de Montag depois que ele passa a ser perseguido.

Existem foragidos que existem a margem deste regime, e a existência deles é linda, a forma como eles se descrevem é poética! Não posso entrar em detalhes para não perder o encanto da fala destes, mas o modo como eles encaram os livros e seu conteúdo é de um respeito ímpar.

O livro é breve, mas a história é profunda porque apresenta as várias facetas do que a tecnologia sem profundidade pode fazer com as pessoas, e mais que isso quando o conhecimento contido nos livros é tido como inimigo, já que a lei nesta sociedade é evitar o desprazer.  Olhe ao seu redor veja quanto as pessoas querem tudo de forma breve, resumida e superficial, e acima de tudo querem apenas o prazer. Cada dia mais a educação, informação e conhecimento tem se perdido, embora o acesso a eles seja cada vez mais fácil. O esquecimento do que é ser humano está se espalhando, apesar de apenas as doença infectocontagiosas chamem atenção, a pior coisa que pode acontecer ao ser é deixar de ser humano, e é isso que o livro mostra com perfeição.

A narrativa de Bradbury é feita em terceira pessoa, de maneira dinâmica e reflexiva. Todas as cenas, detalhes e personagens compartilham uma crítica que o autor quis fazer a sociedade do espetáculo. Nesta edição do livro que tenho as páginas finais tem um Coda, que são dois textos de autoria do autor falando sobre seu livro, e nestes breves textos podemos perceber sua personalidade marcante, além de um suplemento de leitura que trabalha as principais questões do livro, além de oferecer indicações de leituras e filmes relacionados.

Fahrenheit 451 é uma distopia que acrescenta e nos faz pensar. Ler livros não é só acumular histórias é adquirir conhecimento e lidar com o que o conhecimento acarreta, porque depois que você levanta este véu não pode ser mais ignorante, não pode mais aceitar o que é imposto, não pode ser mais um robô, vai ter que ser humano, e tocar outros com o que aprendeu. Leia, por favor leia, porque esse sim é um livro perigoso rs!

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