A Vida dos Elfos - Muriel Barbery


Conheci a autora francesa Muriel Barbery através de resenhas do seu conhecido livro, A Elegância do Ouriço, desde então coloquei ela na minha lista de leituras, e quando me deparei com o seu livro mais recente, A Vida dos Elfos, lançado pela Cia das Letras, não tive dúvidas que era para mim, uma autora boa + elfos não podia dar errado!

Maria e Clara são duas jovens orfãs, uma vive em uma aldeia perdida nos Abruzos no sul da Itália, a outra em uma granja na região da Borgonha, França, ambas têm dons que desconhecem que aos poucos contaminam todos que a cercam através de suas comunicações com um mundo misterioso.

Este mundo ao mesmo tempo em que oferece profundidade e beleza trás uma grande ameaça aos seres humanos. Sombras de uma guerra crescem, e apenas Maria e Clara podem combatê-las, mas antes de enfrentar a ameaça elas precisam compreender os enigmas que as envolvem e fazem delas o que são.

Eu já li muitas fantasias nesta minha breve vida de leitora, e raramente algo de impactante surge. As narrativas sempre seguem caminhos conhecidos e comuns, e me deparar com a narrativa singular de Barbery foi muito impactante! Feita em terceira pessoa através de um alguém que vive na região que Maria vive, conhecemos a história destas duas pequenas meninas através de uma escrita lírica, sensível, rebuscada, atemporal, onírica e muito pagã, e que proporciona todo o encanto que seres como elfos podem promover. Não sei se fui capaz de compreender tudo que a autora quis dizer, mas daquilo que apreendi foi uma experiência única!

A forma como a autora trabalha a conexão que todas as coisas são diretamente conectadas, o ele entre dois universos paralelos, a comunicação através da música e outros aspectos são alguns dos itens delicados e singelos que são abordados no livro. Os dons das meninas exploram essas possibilidades que eu acredito serem possíveis aos humanos que se dediquem a ouvir a natureza e tudo que ela tem para contar. A estrutura do livro se dá primeiro com dois contos, um de cada uma das garotas, e depois a história com ambas de forma alternada que se juntam ao final.

Maria, a francesinha, consegue conversar com os animais, e promover mudanças climáticas, desde que foi encontrada na neve quando bebê, fato este que pode ser sentido na granja onde vive que teve estações diferenciadas de antes de sua vinda. Sua família é muito dedicada a ela, e a vida no campo desta comunidade é linda, já que eles promovem a ideia de que estão em uma terra que não é deles, mas é dela por si própria, assim eles a respeitam caçando por exemplo o necessário e não para acúmulo.

Ela vive com os pais e alguns velinhas, uma delas, Eugene, tem o dom da cura através das plantas, e é uma personagem que desperta muita empatia. Alias todos os habitantes desta pequena vila, como o Padre tem personalidades muito marcantes e honestas, são muito puros e conectados a natureza.

Clara, a italianinha, descobre ter dom para música, e é levada para Roma para estudar com um maestro. É comunicativa e curiosa, e usa a música para comunicar o que percebe da vida das pessoas. Seu núcleo de convívio é formado pelo maestro que escolhia partituras e salpicava seu caminho de pêssegos e mulheres amadas. Petrus, seu companheiro diário que gosta de uma bebida, entre outros que a cercam. Eles escondem conhecimentos que apenas aos poucos explicam a jovem, e a ligam a Maria. Todos os personagens importantes têm suas vidas brevemente explicadas, ou seja, porque são como são. As estruturas psicológicas deles são bem exploradas e desenvolvidas.

Quanto a mitologia usada pela autora ela se desenvolve lentamente, embora o nome do livro fale em elfos nos só vamos saber a respeito deles depois da metade do livro, o foco não é bem sobre eles, mas o conflito que eles enfrentam e elas como salvação. Os elfos aqui não tem nada haver com os elegantes elfos de Tolkien, eles parecem ser mais próximos de duendes e gnomos no sentido da sua estrita ligação com os elementos e animais. Mas no que tange a conhecimento universal, ai sim se aproximam mais do clássico élfico.

A vida dos Elfos é uma romance maravilhoso (não no sentido adjetivo mais classificativo) sem paralelos que trabalham com conteúdos muito profundos. É uma conversa com a natureza não só a verde como a humana. É uma oportunidade de entrar entre as brumas e viver um momento único, é um resgate da magia pura. A história ainda continuará em um segundo volume ainda não lançado por aqui.


Manterei Sempre!



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