Laureth Peak é uma jovem inglesa
de dezesseis anos, ela responde os emails de seu pai escritor todos os dias, e
entre os costumeiros fãs do pai um email chama sua atenção, alguém encontrou o
caderno de seu pai em New York, ao mesmo tempo em que lê ao email ela se dá
conta que fazem alguns dias que o pai não entra em contato com ela, e que ele
não deveria estar na America.
Preocupada com o pai ela compra
passagens para New York acompanhada pelo pequeno irmão de sete anos, e
atravessa o mar para saber porque o pai não responde suas ligações. Tudo parece
uma aventura adolescente se não fosse um detalhe, Laureth é cega e vai precisar
de seu sexto sentido para procurar o pai e ao mesmo tempo cuidar do irmão.
Eu não sei vocês mas quando estou
lendo um livro é automático imaginar locais, pessoas e cenas acontecendo como
um filme em uma tela, alguns livros auxiliam nessa criação, outros nem tanto,
quando Sedgwick em sua narrativa em primeira pessoa sob o ponto de vista de
Laureth começa contar sua saga foi um processo diferente já que eu deveria "ver"
a cena sem enxergar, mas ao mesmo tempo tentar compreender o que acontecia com
ela. Foi um diferente e único, além de
um pouco angustiante, afinal se privar da visão não é fácil.
Laureth é cega de nascimento,
assim é desprovida de determinadas informações de quem enxerga como as cores,
mas mesmo assim é inteligente e não cede ao lugar de vítima, embora não seja
dona de uma auto estima alta consegue manter suas inseguranças no lugar, ainda
mais quando tem uma missão e tem que cuidar do irmão. O processo de procura
pelo pai é também uma busca pessoal onde ela quer se fazer visível e útil. E
durante boa parte da viagem ela consegue disfarçar bem sua deficiência.
"Tenho que continuar fingindo que sou confiante, porque, se não
fizer isso, se ficar na minha, me torno invisível". (pág. 169)
Seu irmão Benjamin é a coisa mais
fofa! Acredita piamente na irmã e não se dá conta da busca até já estarem sem
saída. É os olhos da irmã a auxiliando em tudo que precisa. Tem uma relação de
respeito e amor por ela, com a ternura que uma criança da sua idade tem. Tem um
amigo de pelúcia, um corvo, que muitas vezes 'fala' aquilo que o menino não se
permite verbalizar.
A busca em si é angustiante visto
que você espera que a qualquer momento uma menina ingênua e uma criança sejam
engolidos pela malícia da cidade grande. Essa espera de que algo ruim vai
acontecer é constante, e eu torci muito para que o pai dela aparecesse logo.
Uma vez que o caderno do pai volta a suas mãos ele começa a aparecer durante o
livro de forma literal. Essas anotações do pai são bastante interessantes
porque trabalham a coincidência, tema que seu pai está estudando faz algum
tempo.
Para evocar a coincidência ele
dialoga com pensadores que trabalharam com o tema, entre eles Jung, autor da
teoria da sincronicidade. A reflexão que ele faz sobre o tema é bastante
interessante: a coincidência só faz sentido e é importante para quem a viveu,
para quem ouve a respeito é apenas um fato interessante, mas irrelevante. Ele
também evoca o fato de quanto alguma situação é de fato inesperada e quanto já
tem uma probabilidade muito alta de ocorrer.
Ela não é invisível é uma
aventura pelos meandros do pensamento, ao mesmo tempo em que você acompanha a
busca desses irmãos pelo pai, enquanto outras questões da vida são colocadas e
refletidas. E mais do que nunca como diria o Pequeno Príncipe o essencial é
invisível aos olhos, e esse livro consegue captar isso muito bem!
Avaliação
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