Ela não é invisível - Marcus Sedgwick


Um bom livro é aquele que permite que mesmo em uma realidade muito distante da nossa você consiga se identificar e ter empatia pelo protagonista, e mais que isso permite que por um instante, nem que seja por segundos se veja naquele lugar e com os mesmos problemas que quem lhe conta sua história. Ela não é invisível, do ator Marcus Sedgwick, lançado pela Galera Record é uma dessas obras que nos permitem essa experiência.

Laureth Peak é uma jovem inglesa de dezesseis anos, ela responde os emails de seu pai escritor todos os dias, e entre os costumeiros fãs do pai um email chama sua atenção, alguém encontrou o caderno de seu pai em New York, ao mesmo tempo em que lê ao email ela se dá conta que fazem alguns dias que o pai não entra em contato com ela, e que ele não deveria estar na America.

Preocupada com o pai ela compra passagens para New York acompanhada pelo pequeno irmão de sete anos, e atravessa o mar para saber porque o pai não responde suas ligações. Tudo parece uma aventura adolescente se não fosse um detalhe, Laureth é cega e vai precisar de seu sexto sentido para procurar o pai e ao mesmo tempo cuidar do irmão.

Eu não sei vocês mas quando estou lendo um livro é automático imaginar locais, pessoas e cenas acontecendo como um filme em uma tela, alguns livros auxiliam nessa criação, outros nem tanto, quando Sedgwick em sua narrativa em primeira pessoa sob o ponto de vista de Laureth começa contar sua saga foi um processo diferente já que eu deveria "ver" a cena sem enxergar, mas ao mesmo tempo tentar compreender o que acontecia com ela. Foi um diferente e  único, além de um pouco angustiante, afinal se privar da visão não é fácil.

Laureth é cega de nascimento, assim é desprovida de determinadas informações de quem enxerga como as cores, mas mesmo assim é inteligente e não cede ao lugar de vítima, embora não seja dona de uma auto estima alta consegue manter suas inseguranças no lugar, ainda mais quando tem uma missão e tem que cuidar do irmão. O processo de procura pelo pai é também uma busca pessoal onde ela quer se fazer visível e útil. E durante boa parte da viagem ela consegue disfarçar bem sua deficiência.

"Tenho que continuar fingindo que sou confiante, porque, se não fizer isso, se ficar na minha, me torno invisível". (pág. 169)

Seu irmão Benjamin é a coisa mais fofa! Acredita piamente na irmã e não se dá conta da busca até já estarem sem saída. É os olhos da irmã a auxiliando em tudo que precisa. Tem uma relação de respeito e amor por ela, com a ternura que uma criança da sua idade tem. Tem um amigo de pelúcia, um corvo, que muitas vezes 'fala' aquilo que o menino não se permite verbalizar.

A busca em si é angustiante visto que você espera que a qualquer momento uma menina ingênua e uma criança sejam engolidos pela malícia da cidade grande. Essa espera de que algo ruim vai acontecer é constante, e eu torci muito para que o pai dela aparecesse logo. Uma vez que o caderno do pai volta a suas mãos ele começa a aparecer durante o livro de forma literal. Essas anotações do pai são bastante interessantes porque trabalham a coincidência, tema que seu pai está estudando faz algum tempo.

Para evocar a coincidência ele dialoga com pensadores que trabalharam com o tema, entre eles Jung, autor da teoria da sincronicidade. A reflexão que ele faz sobre o tema é bastante interessante: a coincidência só faz sentido e é importante para quem a viveu, para quem ouve a respeito é apenas um fato interessante, mas irrelevante. Ele também evoca o fato de quanto alguma situação é de fato inesperada e quanto já tem uma probabilidade muito alta de ocorrer.

Ela não é invisível é uma aventura pelos meandros do pensamento, ao mesmo tempo em que você acompanha a busca desses irmãos pelo pai, enquanto outras questões da vida são colocadas e refletidas. E mais do que nunca como diria o Pequeno Príncipe o essencial é invisível aos olhos, e esse livro consegue captar isso muito bem!






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