Desde o primeiro instante que eu
vi Confissões do Crematório, da autora Caitlin Doughty, publicado pela editora
Darkside, eu o quis! A sinopse me interessou muito, porque seja através da
Psicologia, seja através dos meus estudos espiritualistas, a morte é um tema
recorrente e que desperta em mim um interesse que pode até soar macabro rs, mas
é honesto!
Após terminar a faculdade de
história com especialização em História Medieval, Caitlin desejava trabalhar
com a morte, e com apenas 23 anos ela conseguiu um emprego em um crematório na
Califórnia. O trabalho não se mostrou exatamente como ela esperava, barbear um
morto ou fazer maquiagens são apenas alguns dos trabalhos que esta jovem teve
que fazer para que estes depois fossem incinerados. Morto após morto, e
história após história Doughty mudou sua visão sobre a morte e sobre a
indústria da morte nos EUA. Um novo sonho nascia, espalhar entre as pessoas
novos conceitos e uma relação mais saudável sobre a morte.
Doughty narra suas histórias em
primeira pessoa com seu humor nada convencional, envolvendo a cada página quem
lê com suas situações vividas durante este um ano como operadora de fornos do
crematório. O primeiro ponto interessante é que ela é capaz de apontar com
muita nitidez e maturidade o que a fez ir atrás deste trabalho e porque de sua
fascinação pela morte. Não trata-se de uma mulher gótica, ou que flerte com o
tema de modo fantasioso, ela simplesmente queria ver a morte como ela é na
realidade, já que desde muito pequena ela percebeu que a mesma era escondida
dos vivos. Assim ao mesmo tempo que diversos casos são contados, ela os
intercala com relatos de sua própria história, como sua infância e faculdade.
O segundo ponto que faz deste
livro algo mais valioso que um livro de memórias são os diversos fatos
históricos, mitológicos e filosóficos que a autora trás, citando diversos
autores, costumes e acontecimentos ao longo de nossa história. Alguns deste
inclusive são familiares a mim através da leitura do livro de Elisabeth
Kübler-Ross, Sobre a Morte e o Morrer (que eu indico!). Estes dados são
evocados especialmente para defender o quanto nossa sociedade tem uma relação
doente com a morte, o que antes era visto como natural e esperado, hoje é tido
como sujo, errado e é escondido.
Antes os mortos eram velados em
suas casas, preparados pelos integrantes de suas famílias, e as crianças eram
desde cedo acostumadas a frequentar velórios e encarar a morte como algo que
vai ocorrer a todos. Não eram embalsamados, não eram modificados, e tudo
transcorria como a natureza mandava. Depois da guerra da sucessão americana e a
quantidade expressiva de mortes o embalsamamento foi criado, e aos poucos
influenciando a mudança destes costumes.
Claro a autora foca nos atuais costumes nos Estados Unidos, e em cada
país esta relação se dá de formas diferentes.
No Japão, por exemplo, a queima
do corpo é acompanhada pela família, e são eles mesmos que depois separam as
cinzas e ossos após a cremação. Enquanto no ocidente o costume é raro, as
cremações assistidas são poucas (na verdade me pergunto se existe isso aqui no
Brasil).
A crítica que Caitlin trás é
muito válida e interessante, e precisa ser colocada a todos, afinal todos
morreremos, e todos algum dia perderão alguém. E a questão é como agiremos,
faremos da morte um circo que o morto se tivesse vivo iria abominar? Cremar,
enterrar? Afinal a morte é surpresa para alguém que está vivo e tem apenas esta
como a única certeza de sua vida?
Hoje Doughty tem um canal no
youtube Ask a Mortician onde continua estas questões sobre a morte e seus
desdobramentos sob diversos aspectos. Ela também gerencia uma agência funerária
sem fins lucrativos, além de fundar a organização The Order of the Good Death, que
defende o enterro natural e abraça a mortalidade humana. From Here to Eternity
é seu segundo livro publicado que pretende ser uma jornada de imersão global
para compreender como outras culturas cuidam de seus mortos.
Antes de ler apenas fique ciente
de um detalhe importante, o livro relata em detalhe o estado dos mortos, ou
seja, alguns são muito nojentos de imaginar. Alguns atos dela, e de seus
companheiros de trabalho também podem ser fortes para alguns, então se você
tiver algum gatilho com estes aspectos não leia o livro. Eu acreditava que
teria algum problema neste aspecto, mas me sai bem, não sei se porque de alguma
forma mudei mais do que imaginava, ou se porque Caitlin narra tudo com respeito
e descontração.
Dizer que está edição está linda
demais é chover no molhado quando se trata de Darkside Books, não é mesmo? Mas
preciso dizer que entre todas as edições lançadas no mundo a brasileira é a
mais bonita. Sua capa é linda, sua guarda perfeita, seu corte em vermelho sem
palavras! Além do marcador em formato de tarot, no caso a carta da morte!
Tratando com leveza um tema tão
espinhoso, Caitlin nos brinda com um livro que vale a pena ser lido. Talvez soe
estranho indicar um livro sobre morte e sobre detalhes de um crematório, mas
elucidar estas etapas tiram muito do medo e do misticismo envolto nela, talvez
você se descubra um curioso sobre o tema, talvez você reveja sua própria vida,
mas um fato é certo ao final do livro você não será mais o mesmo, afinal ficar
frente a frente com a morte sempre nos modifica!
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