Anne Elliot
é a filha do meio de Sir Walter Elliot, um vaidoso e esnobe baronete, que considera
a aparência física algo de extrema importância, perdendo apenas para seu título
de nobreza. Das três filhas, sua preferida é de longe Elizabeth, que tem uma
personalidade bem semelhante à de seu pai, além de ser uma moça muito bonita.
Mary, a mais nova, ganhou um pouco de importância depois de desposar Charles
Musgrove. Já Anne, mesmo sendo uma pessoa muito boa, elegante e de trato gentil
– o que seria apreciado por qualquer pessoa normal –, para seu pai e sua irmã
mais velha, ela era apenas Anne. E, sendo a filha mais negligenciada pela
família, ela encontra o papel de amiga e, por vezes, de figura materna em Lady
Russel.
No auge de
sua juventude, Anne se apaixonou por Frederick Wentworth, jovem belo, cheio de
vida e ambicioso que não tinha título ou posses, mas que queria se casar com
ela. Porém, sua família, assim como Lady Russel, não achavam esta uma decisão
correta. Por conta disso, Anne foi persuadida a romper o enlace, atitude que
deixou ambos profundamente tristes. Depois que ele tentou de todas as maneiras
fazê-la mudar de ideia em vão, decidiu deixar a região.
Agora,
passados mais de sete anos, Sir Walter Elliot está com dificuldades financeiras
e decide se mudar da propriedade da família para Bath, onde poderá continuar
com os gastos sem ter sua imagem denegrida. Para isso, eles alugam a residência
para justamente o cunhado de Wentworth, que agora é um capitão.
Anne
continua solteira aos vinte e sete anos porque não aceitou se casar com alguém
depois de seu primeiro amor, pois não nutria sentimentos pelo novo pretendente,
e o pai ainda não encontra grandes qualidades nela, porque lhe falta beleza, principalmente
por já ter perdido seu viço juvenil, e já tem uma idade avançada para conseguir
casar – menos ainda com alguém adequado. Wentworth também está solteiro e
buscando um casamento, mas não parece ter olhos para nossa querida protagonista
por conta de todo o ressentimento que guardou em seu peito ao longo de todos
estes anos.
Tendo que
conviver um com o outro por conta de situações e conhecidos em comum, Anne,
agora muito mais madura, passa a refletir mais do que nunca sobre suas escolhas
de vida e nutre um grande arrependimento por conta de seu passado. Ela passa a
viver entre o conformismo e a esperança, mas talvez este momento já seja tarde
demais para os dois. Ou, talvez, não.
Acho
extremamente fascinante poder ler algo escrito por uma pessoa de outra época,
quando os costumes eram tão diferentes dos atuais e é ainda mais legítimo e
bacana porque ela viveu naquele momento, aquela era sua realidade. E é tão
natural que nos leva de volta no tempo como se nós mesmos, os leitores,
estivéssemos vivendo aquele período também.
É bem
interessante comparar os hábitos da época com os nossos, como, por exemplo,
eles tinham o costume de viajar juntos, em grupos grandes, e isso é legal
porque os relacionamentos eram mais pessoais, coisa que hoje em dia muitas
vezes não acontece, pois a individualidade muitas vezes fala mais alto. Mas
também tem o lado negativo, porque as pessoas eram ainda mais falsas e
determinadas a construir relações baseadas em poder aquisitivo e títulos de
nobreza, apesar de isto também existir muito ainda hoje.
A trama que
Austen construiu tem pequenos pontos (ações, situações, dramas, etc.) que podem
ser examinados separadamente, mas que se complementam entre si. E,
interligados, formam a rede de acontecimentos que são a história. Ou seja, a
narrativa nunca fica parada, sendo permeada por momentos variados, de tensão,
esperança, suspense, romance, entre muitos outros. A autora ainda inseriu
algumas críticas à sociedade em que vive em seu texto, algumas vezes de maneira
sutil, outras mais diretas, mas todas reflexivas e revolucionárias para a
época.
Apresenta um
teor mais melancólico em alguns trechos por conta da reflexão da protagonista
em relação ao seu passado e o arrependimento de não ter feito o que pretendia,
mas também há resignação por aceitar que foi
melhor assim, ao mesmo tempo em que mantém o
leitor esperançoso quanto ao futuro de Anne e curioso para saber o que vai
acontecer.
Anne é uma
protagonista da qual eu gostei bastante, ela é fofa, sensata e dona de uma
personalidade ótima e incrível, além de amorosa e gentil com as pessoas. Uma
das coisas que mais gostei nela foi sua capacidade de se manter firme e forte,
mesmo não sendo tratada muito bem pela sua família e tendo que viver com um
grande arrependimento em seu passado, coisas que poderiam ter afetado de forma
muito negativa outras pessoas.
Eu curti conhecer os personagens de forma geral por conta de suas peculiaridades e
diferenças em relação aos outros, ao mesmo tempo em que mantém certas
características semelhantes a alguns dos demais. Eles têm nuances além do que
podemos encontrar nas aparências, e alguns se mostram donos de personalidades
péssimas depois de conhecermos mais a fundo, diferente do que pensamos a
princípio.
Além disso,
eles foram muito bem apresentados, apesar de eu não ter curtido muito o perfil
de todos. O pai de Anne é extremamente fútil e fazia comentários desnecessários
diversas vezes, Elizabeth, sua filha preferida, é praticamente quase tão fútil
quanto ele e, do mesmo modo, acaba cansando os demais. Mary é alguém de quem
gostei em certos momentos, mas em outros, não, ela é exagerada, dramática e
hipocondríaca, às vezes me fazia rir e em outras me enjoava. Lady Russel é uma
boa amiga para a protagonista, apesar de nem sempre fazer as melhores escolhas,
mas foi legal tê-la ao lado de Anne, porque esta precisava de alguém bom para
ela.
Dos demais
personagens que tiveram importância, eu gostei de todos, com destaque para,
claro, capitão Wentworth, que, depois de Anne, foi o meu preferido, apesar de
achar que poderia tê-lo conhecido ainda mais. Sua carta, um dos grandes
destaques de todo o livro – se não, o maior – foi total e completamente
encantadora e fiquei realmente apaixonada por ele. Depois que terminei de lê-la
pela primeira vez (porque, claro, li várias vezes! Hahaha), não consegui evitar
ficar com um imenso sorriso no rosto de felicidade. Jane Austen definitivamente
sabe construir personagens masculinos adoráveis e romances fofíssimos.
Jane Austen
era uma leitora assídua e isto fica claro em seu texto por conta da grande
quantidade de referências literárias que ela cita. Sua narrativa é imensamente
cativante e envolvente, mas não considero que haja tanta fluidez em suas
palavras por conta da linguagem da época, que era mais formal, mais indireta,
então eu tive que prestar mais atenção, fazer uma leitura mais calma para poder
entender tudo e não deixar nenhuma informação escapar.
Apesar de
ficar bem evidente o século em que a história se passa, esta também pode ser
considerada atemporal se excluirmos este fato, por conta dos acontecimentos que
rodeiam a trama, como, por exemplo, os desentendimentos, os sentimentos
confusos, a possibilidade de nos deixarmos influenciar por alguém de quem
gostamos (mesmo que acabe não sendo tão positivo assim no final, sendo que esta
tenha sido a intenção inicial da pessoa ao nos aconselhar), consequentes
arrependimentos por escolhas de nossas vidas (sendo estas vindas de nós mesmos
ou persuadidas por outros), dramas, reviravoltas, momentos recheados de tensão,
boas e más escolhas, mais afinidades com algumas pessoas e menos com outras,
amizade e, claro, o amor. Então, por mais que você não possa viver no mesmo
cenário dos personagens, consegue se identificar com suas vidas e isso é
extremamente agradável e bem positivo.
Todo o texto
é bem escrito e apresentado, a narrativa é em terceira pessoa e, portanto, traz
uma visão mais ampla dos acontecimentos, apesar de ter um foco maior na
protagonista Anne. Suas palavras são calmas e Austen não tem pressa em nos
mostrar nada, ela explica, nos situa, descreve locais e sentimentos, etc. E
considero que o ritmo foi gradativo, aumentando o nível de tensão, torcida por
Anne, e interesse do leitor conforme as páginas vão sendo avançadas. O único
ponto que achei que podia ser diferente foi o fim, que achei meio corrido, já
que, depois de uma coisa importante acontecer, as demais só foram citadas em
estilo de resumo sobre o que aconteceu com as outras pessoas e com o próprio
casal principal, e a história logo encontra seu ponto final, sem nenhuma frase
mais impactante para finalizar. Mas acredito que esta seja uma característica
da autora, porque a mesma coisa aconteceu nas duas novelas que estão neste
exemplar, “Lady Susan” e “Jack e Alice”.
Já li alguns
títulos de romances históricos escritos por autoras atuais e os achei bem
diferentes, principalmente na questão carnal, já que neste título de Austen há
romance, mas não há cenas mais íntimas entre os personagens, coisa comum em
livros do gênero escritos atualmente (pelo menos todos os que li foram assim).
Sobre esta
edição maravilhosa da Zahar que eu li, só tenho elogios, o que já é esperado
porque a editora tem todo um cuidado nas suas publicações, com destaque para os
clássicos, e todas elas são lindas na parte gráfica e com conteúdo superior a
outras edições por conta dos ricos comentários e ótima apresentação. Além
disso, esta da Jane Austen em específico ainda vem com duas novelas inéditas da
autora em português completando o exemplar, cronologia no final, capa dura, a
guarda, como sempre, é linda e tem a ver com o estilo, e sou fã da ilustração
da capa e do jogo de cores utilizado. Uma pena que a Zahar não tem previsão
para publicar outros títulos da autora, porque seria incrível fazer uma coleção
de suas obras nesta versão incrível.
Um grande
elogio que eu preciso fazer sobre esta edição é que eu simplesmente amei as notas
de rodapé, então precisam ganhar um parágrafo meu aqui na resenha exclusivo
sobre elas. Fernanda Abreu (que também é a tradutora da obra) e Juliana Romeiro
arrasaram, e dá para notarmos o quanto ambas conhecem bem o universo da autora
e também detalhes sobre a época em que ela viveu. Todos os pontos importantes foram
explicados, que vão desde obras e personagens citados por Austen, passando por
locais que os personagens visitam ou sobre o qual comentam, momentos
históricos, termos utilizados, explicações sobre alguma expressão, etc., de
forma direta e de fácil entendimento, e nenhuma foi desnecessária. Inclusive
considero que a experiência de ler esta história foi ainda melhor por conta de
suas notas.
Depois de
terminado “Persuasão”, encontramos as duas novelas da autora. A primeira é
“Lady Susan” (estima-se que tenha sido escrita entre 1793 e 1794, na
adolescência de Austen), a qual gostei bastante de ler. Diferente das outras
obras dela que tenho conhecimento, esta é narrada através de cartas, com vários
personagens principais se correspondendo entre si em primeira pessoa, e
contando fofocas e situações que vivenciaram ou o que pensam sobre alguma coisa
ou alguém. As pessoas são bem diretas e, por vezes, maldosas, quando falam na
intimidade das correspondências com outras com as quais têm uma relação mais
próxima. Lady Susan é terrível, manipuladora, egoísta e uma péssima mãe, mas
chegou a ser engraçado em alguns momentos a forma como ela conduzia sua vida
com todo aquele drama e flertes, e foi bem interessante poder, também, ver a
história sob o ponto de vista de alguém como ela.
A segunda
novela é “Jack e Alice”, que é bem curtinha, tendo apenas quinze páginas, e
começou instigante e divertida, numa festa à fantasia, mas terminou bem
dramática. Desta história eu não gostei tanto assim.
Jane Austen
começou a escrever “Persuasão” em 1815, a qual, depois de entregue foi
revisada, dando origem à versão definitiva presente nesta edição. Porém, após
contrair uma doença nunca identificada, ela faleceu em 1817. Portanto, seu
irmão foi o responsável por encontrar um agente e publicar esta história
postumamente, em 1818.
Alguns
detalhes deste livro podem ter sido baseados na própria vida de Jane Austen, já
que, aos vinte anos, ela também foi persuadida a não se casar com o rapaz de
quem gostava porque ele não tinha condições financeiras para tal, e depois
recusou outro pretendente mais “conveniente” por falta de amor, já que ela não
queria contrair matrimônio com quem não gostasse. Mas, com rumos diferentes,
sua vida acabou não conhecendo o lado do casamento, já que Austen morreu antes
de ter tido a oportunidade de ficar junto com alguém que amasse.
Antes das
três obras de Austen desta edição, há uma ótima apresentação escrita por
Ricardo Lísias, onde ele fala sobre a autora, e seus textos, com foco em
Persuasão, e alguns comentários sobre as novelas “Lady Susan” e “Jack e Alice”.
Eu preferi ler suas palavras após a leitura do restante do exemplar, porque
sabia que faria um melhor aproveitamento depois de já ter lido por conta
própria as histórias de Jane, e realmente foi o que aconteceu. Então considero
esta uma boa dica para quem também for ler esta edição da Zahar.
Sei que
algumas pessoas consideram “Persuasão” o livro que menos gostaram da autora e, acreditar
que o mesmo pode acontecer comigo, me deixa feliz porque e eu já curti demais esta
leitura, então, se os outros forem ainda melhores, vou gostar mais deles. Isso
me motiva ainda mais a lê-los o quanto antes (e assistir as adaptações para
cinema e TV também, é claro!).
Acho que,
para finalizar, não existem palavras melhores para definir o que eu achei:
Adorei e recomendo, recomendo e recomendo mais uma vez para o caso de ainda
ficar a dúvida.
Avaliação
Olha de tanto eu ver na Blogosfera as pessoas falando das Obras de Jane Austen, eu acabei comprando um livro que vem com as 3 histórias mais famosas da autora, mas eu ainda não iniciei a minha leitura, porque quero ler em um momento mais tranquilo, principalmente quando eu não estiver atarefada e cheia de leituras. Como vc disse, é um livro que se deve ter mais atenção mesmo, porque eu li algumas páginas de Orgulho e preconceito e já vi que a escrita é bastante extensa por conta da época como vc citou. Mas eu espero gostar bastante da história e ser como a maioria dos leitores...fan do Sr Darcy como todos falam heehehe
ResponderExcluirMas olha sua resenha ficou ótima, até porque eu não conhecia ainda Persuasão.
Espero gostar assim que começar a ler o meu livro. Meus parabéns pela sua resenha viu?
Se cuida linda
lovereadmybooks.blogspot.com.br
eu confesso que embora eu tenha muita vontade de ler livros da Jane Austen, eu ainda n~~ao consegui começar nenhum. Quero iniciar estas leituras com calma para, na correria, acabar perdendo todo o encanto destas histórias. Parabéns pela resenha, beijos.
ResponderExcluirhttp://imaginandoasass.blogspot.com.br/