Stanley
Potts é um menino bom e doce, que perdeu os pais cedo e, por isso, encontrou
uma nova família com sua tia Annie e seu tio Ernie, irmão de seu pai. Eles três
moravam juntos na Alameda do Embarcadouro, nº 69, e levavam uma vida normal,
até que tudo virou uma loucura.
Tudo começou
com o fechamento do estaleiro Simpson, que funcionava no rio da cidade há
muitos anos e empregava boa parte da população local. Os homens da família
Potts trabalhavam lá desde tempos remotos, ou seja, o tio Ernie trabalhava lá,
assim como seu irmão, pai de Stanley, o pai deles, o pai do pai e assim
sucessivamente. Quando as portas fecharam e todos os homens da cidade ficaram
desempregados, alguns arrumaram outros empregos, outros simplesmente desistiram
e definharam, alguns buscaram apoio na bebida, outros se voltaram para o crime.
Mas não Ernest Potts, este tinha um grande plano.
Um belo dia,
revoltado com sua perspectiva de futuro, o senhor Potts teve uma absolutamente
brilhante ideia: uma fábrica de peixes enlatados para produzir as
“Espetaculares Sardinhas Potts, Magníficas Cavalas Potts e Perfeitos Arenques
em Conserva Potts”. E foi aí que tudo começou a mudar e ficar muito esquisito,
a ideia fascinou tanto Ernie, que ele simplesmente transformou toda a casa em
uma grandiosa fábrica, cheia de máquinas e equipamentos barulhentos e fedidos.
Mas isto não
foi o pior de tudo, sua loucura obsessiva acabou encontrando um outro rumo e
Ernest fez uma coisa inesperadamente absurda e cruel que acabou afetando
negativamente seu pequeno sobrinho. Então Stan não vê outra alternativa a não
ser fugir de casa e resolve ir embora, deixando tudo e todos para trás.
Nesta nova
jornada de sua vida, Stanley acaba conhecendo pessoas boas, outras excêntricas,
e, sendo o mais relevante de todos: o legendário Pancho Pirelli, um homem que
tem uma grande fama por nadar em um tanque cheio de perigosas piranhas e sair
vivo e intacto.
Ele encontra
em Stan algo de especial, uma vocação. Mas será que o menino Stanley vai ter a
coragem necessária para também entrar em um tanque cheio de piranhas e nadar
com elas? E será que a coragem basta para ele também sair ileso de um risco de
vida tão grande como este? E agora, qual será o destino de Stanley Potts? Ele
saberá escolhê-lo sabiamente?
A primeira
coisa que me chamou atenção neste livro foi a capa, simplesmente porque, além
de linda, me remeteu a um outro livro que li em 2014 que teve a capa ilustrada
pelo mesmo profissional talentoso: Oliver Jeffers. Por já conhecer o trabalho dele
e por ter gostado tanto deste outro livro (A Coisa Terrível que aconteceu com
Barnaby Brocket, de John Boyne), eu fiquei empolgada para ler “O Menino que
Nadava com Piranhas” e, quem sabe, gostar tanto quanto?
Além do
mais, para a minha empolgação ficar completa, este livro aqui foi escrito por David
Almond, ganhador do prêmio Hans Christian Andersen, “o mais importante prêmio
internacional para autores de livros infantis”.
Então, esta parceria não poderia ser menos do que ótima, certo?! E,
depois de terminada a leitura, posso afirmar que este trabalho realmente é
muito bom e vale muito a pena. Quer saber os motivos? Continue lendo a resenha!
A história
de Stanley Potts é extremamente fofa, além de admirável, porque transmite muitas
coisas boas ao leitor, principalmente aos pequenos que estão na época de
formação de caráter, e para quem o livro é oficialmente destinado.
Algumas das
características que vamos encontrar durante a leitura são: saber lidar com a
perda, seja ela de parentes, animais de estimação ou ‘a vida como ela é’;
encontrar coragem dentro de si para enfrentar qualquer obstáculo, incluindo as
adversidades que todo ser humano encontra em seu caminho; aprender a amar e
respeitar o próximo, por mais que ele seja diferente do que você está
acostumado; criar amizades; buscar ser feliz; lutar pelo que quer; saber se
arrepender do que fez de errado e buscar se redimir de peito e coração aberto;
entre muitas outras coisas.
Tudo isso é
apresentado de forma sutil, enriquecendo o texto ao mesmo tempo em que inspira
o leitor a buscar algo melhor, incluindo ser melhor. Gostei muito de como o
autor soube desenvolver uma trama em cima de tudo isso de um jeito bem
prazeroso de acompanhar.
“Quanto a mudar... O que acontece é que você não
vai se transformar num Stanley Potts completamente diferente. Você vai ser o
velho e o novo Stanley ao mesmo tempo. Vai ser o Stan da pesca ao pato, o Stan
do tempo da Alameda do Embarcadouro e vai ser o Stan novinho em folha que nada
com piranhas. Seja tudo isso junto, ao mesmo tempo, e é aí que vai estar sua
verdadeira grandiosidade.”
Claro que
meu personagem preferido é Stanley, este menino bondoso, carismático e meigo,
que também é muito corajoso. Sua jornada exterior foi tão grandiosa quanto a
interior e foi muito bacana acompanhar esse desenvolvimento e amadurecimento
dele.
Mas posso
afirmar que gostei de todos os mocinhos criados por David Almond, com destaque
para a tia Annie, que é uma querida, e sr. Dostoiévski e Nitasha, que ajudaram
bastante nosso pequeno Stan no momento que mais precisou.
Os “vilões”
da trama são engraçados e caricatos (inclusive falam errado!), e gostei do “final”
que o autor decidiu escrever para eles, que vou deixar vocês lerem para saber o
que aconteceu para não estragar nada.
Também
adorei o narrador deste livro, que apresenta a história de uma forma agradável
e ainda conversa com o leitor em muitos momentos de um jeito bem descontraído e
adorável, ótimo para as crianças que forem lê-la ou ouvi-la.
“... vamos
viajar através da noite e nos aproximar daquele lugar. Como poderemos fazer
isso?, você deve estar perguntando. Mas é fácil, não é? Bastam algumas palavras
colocadas em algumas frases e um pouco de imaginação.”
A escrita de
David Almond, aliás, é deliciosa, leve e envolvente, além de bastante fluida, e
gostei do uso que ele fez da metáfora em alguns trechos. Todos estes pontos
positivos juntos fizeram com que as páginas fossem rapidamente avançadas e ainda
nos deixaram com um gostinho de quero mais no final.
Por falar
nisso, curti o fim deste volume, que teve um tipo de fechamento ao mesmo tempo
em que ficou em aberto para deixar nossa imaginação correr solta. Eu só consigo
acreditar em mais coisas boas vindo no futuro dos meus personagens preferidos.
O único ponto
que me incomodou foi que no começo houve uma parte meio estranha no momento da
fuga de Stanley. Afinal, ele passou por um problema grande e, ao invés de
conversar com alguém sobre isso para poder se sentir melhor e voltar para casa,
ele simplesmente decide fugir com duas pessoas que ele nem conhecia. Claro que
ele teve sorte de ter encontrado gente com ótima índole que só queria lhe fazer
bem. Mas, na vida real, este poderia não ser o caso. Talvez eu teria aceitado
mais caso a família dele já conhecesse estas pessoas e elas não fossem
estranhas, ou se a tia, por exemplo, tivesse seguido com ele em sua escapulida,
ou algo do tipo.
Ainda mais
porque Stanley é apenas uma criança, e muito ingênua, deveria ter encontrado
mais conselhos dos tios (ou pelo menos da tia – quem for ler vai entender o que
quero dizer) e uma supervisão maior antes de sair triste e magoado sozinho pela
cidade. Em outros momentos ele confiou em mais gente que ele nunca tinha
conhecido antes e isso me incomodou novamente porque não tinha ninguém nestas
horas para ter certeza de que a pessoa era digna de confiança.
Eu sei que
este é um livro infantil de ficção, mas, mesmo assim, acredito que crianças
pequenas não sabem distinguir direito o que é certo do errado, o que é real e o
que é só inventado no papel, e uma leitura voltada para esta faixa etária acaba
influenciando os mais novos, e, neste ponto, pode ter uma influência negativa.
Então recomendo que o adulto que for ler este livro com a criança, deva
alertá-la deste ponto, para que ele também não sinta vontade de fugir quando
algo der errado, e não confiar em ninguém que não seja a família próxima.
A leitura de
“O Menino que Nadava com Piranhas” é super fofa, gostosa e envolvente, e traz
um protagonista incrível e extremamente carismático que conquista qualquer um
com seu jeitinho todo especial de ser, além de personagens memoráveis. Se for
presentear uma criança, aconselhe-a sobre os pontos que comentei aqui em cima. Super
recomendado!
“E o que você faria se alguém caísse
do céu e lhe dissesse que você era alguém especial? Que você tinha um talento
especial, uma habilidade muito especial e que, se tivesse a coragem de usá-la,
poderia ficar famoso, poderia ser grandioso, poderia deixar de ser você para se
tornar um tipo muito especial de você? [...]
Você teria coragem e ousadia?
Enfrentaria seus medos? [...]
Não dá para responder, não é? Não mesmo. Só dá para
saber o que você faria no momento...”
Avaliação
Eu tenho um filho menino e concordo muito com um ponto que tu comentaste, que é superimportante essa ponte que o autor faz com a criança, não só narrando a história mas falando diretamente a ela. as vezes a criança se perde ou não tem muita paciência e esses pontos fazem ela focar novamente na história e se sentir importante. Bem legal!
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