Acho que todo mundo sabe, mas é
importante frisar que sou Psicóloga, meu olhar clínico é de abordagem
psicanalítica freudiana, ou seja, amo Psicanálise, não só do tio Freud como
também de seus seguidores, e inclusive do tio Jung que rompeu com ele (na
verdade meu sonho é ser junguiana quando crescer rs!). Digo isso tudo porque
minha opinião a respeito de Madame Freud, escrito pela psicanalista e escritora
Nicole Rosen, publicado pela editora Versus, é diretamente influenciada por
essa minha condição.
Neste livro conhecemos Martha
Bernays que casou com Sigmund Freud em 1886. Embora com um noivado de quatro
anos marcado por declarações de amor, depois do nascimento de seus seis filhos
Martha passou de figura importante para Freud, para mais uma peça do cenário
que compunha o fundo da vida do mesmo.
Enquanto Freud produzia
fertilmente o que seria conhecida como Psicanálise, Martha o apoia
incondicionalmente, anulando suas vontades, toda sua vida para acompanhar tudo
que seu marido desejasse de forma submissa. Mas quem foi Martha Freud? É essa
resposta que Rosen nos dá através de sua narrativa ficcional, mas baseada em
seus estudos a respeito da vida de Freud e sua família.
Narrado em primeira pessoa a
estrutura do livro é bastante interessante, alterna capítulos de cartas de
Martha para uma jornalista americana que se torna sua amiga, e capítulos onde
ela analisa aquilo que veio a tona em suas cartas. E aqui entra o meu
conhecimento psicológico que fez toda diferença na análise do livro, a
narrativa é estruturada de forma a parecer uma análise, pois Martha revê e
resignifica sua vida através do que descreve, se lembra e sente. A evolução de
seu estado depressivo e triste para alguém que mesmo idosa ainda quer
aproveitar o que lhe resta da vida é palpável.
O fato de aparecerem cartas é
muito importante visto que na época as cartas eram extremamente comuns, em
especial na família Freud, já que este trocava com diversas pessoas resultados
e teorias sobre suas descobertas. Inclusive Freud fez sua análise através das
cartas que trocava, coisa que os mais ortodoxos hoje jamais conceberiam!
É magnífico conhecer Freud
através do olhar de sua esposa, visto que ela não se foca em sua teoria e sim
na pessoa que ele é. E que personalidade este tinha!, das mais fortes e
complexas, visto que era uma homem ciumento, possessivo, com comportamentos que
a Psicologia diria não muito normais a um homem adulto. Por outro lado a
relação obsessiva que este tinha com sua mãe aparece de forma pontual e nos explica
todo o comportamento onipresente que ele tentava ter.
A relação de Freud e Martha com os filhos
também é explorada, ela inclusive aborda de forma explícita suas preferências
quanto a estes, e seu comportamento displicente com Anna Freud, que veio a ser
seguidora do pai, assim como filha preferida do mesmo. Martha também nos fala de fotos
ao longo de suas descrições, fotos essas que pude verificar na biografia de
Freud do autor Peter Gay. Ver todos os personagens ganhando vida foi
encantador.
Admiro a pessoa que Martha foi
visto que ela segurou firme seu casamento mesmo diante de todas as adversidades
que enfrentaram: os filhos, a irmã que vai morar com ela, as guerras, e os
seguidores. Por muito menos eu já teria virado a mesa, mas Martha achava que
este era seu papel: ser uma peça importante na vida de Freud mesmo que jamais
reconhecida ou vista. Fato é que Martha é peça fundamental na vida de Freud, e
é uma pena que pouco tenha se escrito a seu respeito, afinal acredito que ela
no fundo deveria saber mais sobre Psicanálise do que supunha.
Madame Freud é um livro do ponto
de vista literário muito bem escrito e detalhado, mas não sei se tão
interessante para quem não sabe nada a respeito de Freud e sua teoria. Se
indico o livro para todas pessoas? Sim, quem sabe ele não lhe ensine mais sobre
a vida como foi comigo, que pude juntamente com Martha rever comportamentos
meus diante da vida? Ou ainda se apaixone pela figura e Freud e sua teoria rica
em conhecimento? Dê uma chance, saia do lugar comum e reveja você mesmo!
Bruna!
ResponderExcluirComo você sou psicóloga, embora goste das linhas mais dinâmicas à psicanálise, mas é claro que Freud foi o pai' de tudo e dele vieram outras vertentes.
Interessantíssimo o livro e mais... difícil ver destaque nas esposas das celebridades e pelo que observei, o livro foi bem escrito e analisado.
Gostei ainda mais de saber que a análise feita sobre Martha foi através de cartas, que são mais uma das minhas paixões (e confesso que faço essa análise dos amigos ao receber suas cartas...).
Vou procurar o livro para leitura.
Gostei demais de sua análise.
cheirinhos
Rudy