Minha Coisa Favorita é Monstro – Emil Ferris


Desde que li a respeito dessa HQ, que foi inteiramente desenhada com (pasmem! :O) Canetas Bic, fiquei louca para conhecer essa história e o traço da autora. Fiquei ainda mais maravilhada quando descobri que ela desenhava quando estava em seu processo de recuperação da febre do Nilo Ocidental, causada pela picada do mosquito Culex, que atingiu seu sistema nervoso central e, entre outros sintomas, causava delírio, paralisia, etc. Então essa obra demorou seis anos para ser concluída. Por todos esses motivos, resolvi embarcar na Chicago dos anos 1960 pelos olhos de Karen Reyes assim que me foi possível.
Nessa HQ conhecemos Karen Reyes, uma menina de dez anos que vive com a mãe e o irmão e que ama histórias de terror. Em seu diário, ela se desenha como uma jovem lobismoça, e narra sua vida cotidiana, contando um pouco sobre as coisas que acontecem ao seu redor, e também suas aventuras como uma detetive que está tentando desvendar o mistério sobre quem assassinou a bela e enigmática Anka, vizinha do andar de cima.
Conhecemos então um pouco mais sobre nossa protagonista, que queria se tornar um monstro para todos os seus problemas desaparecerem. Acompanhamos ela em sua rotina, suas dificuldades na escola e com amigos, os segredos que sua mãe e seu irmão guardam, pedaços do cotidiano de diversas pessoas que moram na região, etc. Tudo o que ela passa, vivencia, descobre e escuta, incluindo cenas e objetos, desenha nas páginas de seus cadernos, assim como capas de revistas de terror.
E também temos a oportunidade de conhecer melhor o passado e Anka através de fitas que Karen escuta, nas quais entendemos sua vida, as dificuldades e coisas terríveis que enfrentou na época da Segunda Guerra Mundial e do holocausto. São trechos fortes, que mexem bastante com nossas emoções, principalmente porque sabemos que tudo aquilo realmente era baseado em fatos reais, e muitas pessoas enfrentaram coisas terríveis e abomináveis na época.
Além disso tudo, a autora também aborda diversos assuntos importantes, como orientação sexual, sexualidade, bullying, doenças, traição, racismo, crimes, violência, crueldade, discriminação, abuso infantil e sexual, entre muitos outros. Tudo foi bem construído e surgiu no enredo de forma natural. É uma leitura pesada, que mexe com nossos sentimentos e muitas vezes temos que parar para respirar. Acompanhamos tudo na visão de uma menina ingênua de 10 anos, que ainda não conhece muito da vida, mas relata o que vê, então ela não entende tudo o que descobre (ainda que nós, sim – e dói).
Na minha opinião, o mais fantástico de tudo é a parte gráfica da obra (ainda que o enredo, obviamente, também seja). Como comentei no início da resenha, foi completamente escrita e desenhada em Caneta Bic e podemos afirmar que se tem algo que Emil Ferris tem é talento de sobra. Suas ilustrações são perfeitas, completas e bem estruturadas. Em diversos momentos fiquei abismada com tamanha capacidade de criar algo tão bonito e bem feito assim com um material tão simples. Até reproduziu quadros famosos magnificamente!
Com certeza indico muito essa leitura para todos aqueles que curtem obras excepcionais, completas, bem desenvolvidas e que prendem o leitor de uma maneira incrível. Foi bem bacana ver a trama crescer a ficar cada vez mais profunda e reflexiva conforme as páginas eram avançadas. Não foi uma leitura que fiz direto, porque me sentia esgotada e triste em diversos momentos, mas foi bem interessante acompanhar essa história, principalmente por conta da protagonista, essa menina encantadora, inteligente e curiosa, que tem um ótimo coração e uma grande força dentro de si.
Avaliação





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