Reinações de Narizinho – Monteiro Lobato


Cresci escutando, assistindo e adorando as histórias do Sítio do Pica Pau Amarelo, principalmente por conta das adaptações para a televisão. Por esse motivo, me considerava uma apreciadora do trabalho de Monteiro Lobato. Então resolvi ler a obra “Reinações de Narizinho”, recentemente publicada pelo selo infantojuvenil Companhia das Letrinhas, que me traria uma coletânea com onze histórias escritas por Lobato nesse universo e a oportunidade de relembrar uma época da minha infância que eu gostava muito.
Porém, quando comecei a ler esse título fiquei horrorizada com algumas atitudes do autor, ele claramente era um homem racista, e podemos perceber isso em algumas falas e atitudes dos personagens. Até entendo o contexto da época, quando as pessoas tinham pensamento diferentes e horríveis, mas isso não diminui o fato de que ele falava coisas bem desnecessárias, que realmente não precisavam ser escritas e muito menos propagadas para leitores de qualquer idade, menos ainda para as crianças. Fiquei muito decepcionada em ver que um autor que eu admirava não era nem um pouco da imagem que eu pintava em minha cabeça.
Por outro lado, fiquei extremamente feliz por ter lido essas histórias pela edição da Companhia da Letras, que fez questão em colocar explicações sobre o certo e o errado, para que, quando alguma criança leia, entenda que essas palavras e xingamentos são super errados e ofensivos. Podemos pegar como exemplo a frase dita por Emília na página 168: “Nasceu preta e ainda mais preta há de morrer.”. Mas, logo no final da página temas o comentário “Puxa, Emília! Você não tem o direito de desrespeitar ninguém porque está brava. E desde quando cor de pele é xingamento?”
A coletânea de historinhas seria ótima, se não fossem essas ressalvas, e daria para nos divertir enquanto acompanhamos as aventuras dos personagens. Porém, eu particularmente não consigo distanciar uma obra do autor com tanta facilidade, e não consegui me divertir sem ficar irritada com comentários maldosos e ofensivos.
Monteiro conseguiu utilizar muita imaginação em seus personagens e criou histórias memoráveis, por isso, indico apenas a leitura do volume da Companhia das Letras, que teve o trabalho de mostrar e falar sobre o certo e o errado, não apenas publicar como foi na época. E ainda nos trouxe um texto de apresentação explicando o contexto cultural da época e comentando as questões polêmicas que o autor apresentou em suas tramas.
A edição merece atenção. Com Capa Dura, tamanho maior do que o padrão nacional com 27,6 cm x 20,2 cm, páginas grossas, alta qualidade de impressão e diversas ilustrações magníficas e muito coloridas da artista nacional Lole, que casaram muito bem com as histórias por serem divertidas e bem relacionadas ao enredo. A folha de guarda também está belíssima!
Indico para aqueles que querem conhecer um pouco mais sobre esses personagens tão memoráveis que fizeram parte da infância de grande parcela da população brasileira, mas também recomendo que ao ler para uma criança explique como é feio e errado alguns pensamentos.
Avaliação





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