Sempre gostei de estórias com
princesas, reis e rainhas, mas depois da minha viagem para Londres eu virei fã
de carteirinha da monarquia inglesa. Ver a monarquia atuante é o tipo de
experiência que transforma, e surtiu uma grande conexão comigo. Desde então
procuro conhecer a história pregressa dessa família, Xeque-Mate da Rainha, da
autora Elizabeth Fremantle, publicado pela Paralela, foi uma chance de conhecer
a vida de Katherine Parr a sexta e última esposa do rei Henrique VIII.
Henrique VIII está em busca de
uma nova esposa, e Katherine Parr acaba de perder o marido muito doente, após
uma visita a corte o rei passa a cortejá-la, e decide que ela será sua nova
esposa. Katherine não pode dizer não mesmo quando seu coração já tem outro
dono. Cercada por intrigas, traições e disputas de poder, ela terá que ser a
rainha e ainda manter sua fé a prova da inquisição.
A primeira coisa que precisa
ficar clara ao ter esse livro em mãos é que trata-se de um livro histórico, ou
seja, por mais que tenha sido escrito em terceira pessoa em forma de romance, ora
através da própria Kat ora através dos olhos de Dot. Os fatos narrados foram
retratados em cima de muita pesquisa por parte da autora, ela inclusive lista
ao final do livro uma lista bibliográfica de suas fontes de pesquisa. Suas
maiores liberdades se deram com apenas dois personagens, Dot a criada pessoal
da rainha e seu médico Huicke, já que embora ambos tenham existindo não existem
dados aprofundados sobre os mesmos.
A narrativa é bem feita, mas não
prende desde o início. Ela desperta sim curiosidade, mas não tem um ritmo
rápido e pode demorar a desenrolar para algumas pessoas. Fica claro que o
objetivo é fazer um relato histórico, e não romancear o que ocorreu.
Katherine foi uma mulher a frente
do seu tempo, isso fica muito claro nas atitudes que têm. Primeiro mesmo depois
de rainha ela não trata seus empregados ou qualquer outra pessoa abaixo dela
(ou seja, todo mundo menos o rei) com superioridade, ao contrário, gosta de
conhecer as pessoas e tratá-las com respeito. E de tão diferente que é de todas
as damas ela tem que constantemente controlar suas opiniões e atos para no
chamar atenção demais para si. A atenção do rei por ela inclusive foi
despertada pela capacidade dela de ser autêntica e honesta.
Henrique VIII foi um homem de
personalidade extremamente forte, demonstrando especialmente a todos seu lado
genioso e agressivo, que faz o que quer e quando quer, não importando o que
isso signifique para seu povo ou os que o cercam. Prova disso é que quando não
estava satisfeito com seus casamentos ele dava um jeito de terminar com suas
esposas seja com divórcio- que gerou sua separação da igreja católica romana-
seja as enforcando ou cortando suas cabeças por supostas traições (não fica
claro no livro se de fato foram verdade as traições). Um lado muito pequeno e
breve de sua personalidade era interessado em agradar a esposa dando-lhe presentes
diários, depois de noites de sexo agressivo.
Dot, a criada da rainha está com
ela desde o casamento anterior de Kat. E Katherine a vê como uma filha, já que
não consegue engravidar dos maridos. Dot embora venha de uma origem bastante
humilde e não saiba nem ler e escrever, é muito esperta, gentil e prestativa, e
viver tão próxima da realeza a fez aprender como agir, e descobrir as intrigas
comentadas por todos, já que ninguém a via como uma pessoa, era como se não estivesse
nos ambientes, e logo a mocinha acaba sabendo de tudo.
Existem diversos personagens
secundários, como Meg, a enteada de Kat, garota gentil e tímida que sentiu
demais a morte do pai, a ponto de nunca se recuperar; Will Parr irmão de
Katherine, tem como objetivo galgar degraus para colocar sua família em lugares
de destaque; Anne Parr, irmã mais nova
da rainha, já casada é uma das damas de companhia da irmã, e uma das poucas
pessoas que pode contar.
Um traço forte e muito marcante
na narrativa é a questão religiosa, por conta do rompimento do rei com a igreja
romana a Inglaterra estava migrando para o protestantismo, mas indeciso quanto
sua decisão o rei volta atrás e não rompe seus laços de vez com a igreja que
tem dois representantes muito próximos de Henrique a influenciá-lo. Para não
perder poder a igreja faz uma caça as bruxas de todos que estão de acordo com
as ideias dessa nova fé, sem missas em latim ou itens como incenso e velas nas
missas, um a um eles criam maneiras de pegar essas pessoas. O problema é que a
rainha é uma delas, e todo momento ela tenta manobras para não ser descoberta.
Fugindo das manobras da igreja,
ao mesmo tempo do próprio marido que as vezes a coloca em ciladas para testar
sua lealdade, Kat vive em um jogo de xadrez. Mas ela é uma habilidosa jogadora
que apenas bambeia quando o coração é colocado na mesa.
O final é triste, mas em nenhum
momento a novidade é o que acontece, mesmo porque alguma informação pode ser do
conhecimento de quem lê. O interessante é conhecer os detalhes do que
aconteceu, como essa estrutura funcionava, como ser rainha estava longe de ser
uma posição fácil ou segura. E acompanhar como a fé e a igreja sempre foi mais
uma questão política do que espiritual.
Xeque- Mate da Rainha é uma
viagem no tempo para uma época que influenciou muito do que veio depois. É sobre
história, sobre costumes, mas também sobre amor e fé. E claro é uma biografia
de uma rainha que fez diferença por onde passou.
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