A História de Kullervo - J. R. R. Tolkien


Não é novidade para quem acompanha o blog meu amor por Tolkien não é? Mas já não me lembro mais quantas vezes e se eu citei que tenho também um amor enorme pela terra do Papai Noel, a Finlândia. O fato é que gostar de um lugar tão distante e gelado dificulta e muito o acesso a cultura daquelas terras. Ao ler a sinopse de A História de Kullervo, do mestre J. R. R. Tolkien, publicado pela editora Martins Fontes, e assim descobrir que neste livro Finlândia e Tolkien estariam juntos nele, foi emoção em dose dupla!

O Infeliz Kullervo é o primeiro herói de Tolkien, um personagem órfão que nasceu em meio a uma guerra entre irmãos, e que para vingar a morte do pai se envolve em diversas desventuras, sem conseguir encontrar um lugar para si ou um momento de felicidade, mesmo tendo em suas mãos um poder mágico.

O autor se propõe a recontar a partir de sua visão um episódio da saga finlandesa, o Kalevala. O Kalevala é a epopeia nacional da Finlândia, escrita/copilada por Elias Lönnrot. Lönnrot não foi o único a coletar estes cantos, mas foi a ele que ocorreu fazer uma seleção de forma vagamente conexa. Foi ele quem deu o nome de Terra dos Heróis, ou Kalevala, de Kaleva, o ancestral mitológico de todos heróis. Publicada inicialmente com 25 cantos ou runos em 1835, teve seu tamanho dobrado a partir de um novo material coletado, sua nova publicação data de 1849.

O conto é notável porque consegue antecipar os estilos narrativos do futuro conjunto da obra de Tolkien. Ao mesmo tempo em que é um conto, é uma tragédia, um mito, uma mescla de poesia e prosa. Entretanto trata-se de uma obra não finalizada, com trechos inclusive com palavras faltando, essa falha é 'arrumada' por Verlyn Flieger, que é quem edita o livro. Ela é responsável pela introdução do livro, pelas notas e comentários tanto sobre o conto, quanto sobre as palestras e o Kalevala, seus apontamentos são fundamentas para compreender o conto e tudo que o envolve.

O material sobre a escrita de Tolkien é maior do que o conto que tem apenas 40 páginas. Neste volume além do conto temos ainda o esboço de sinopses do enredo, uma lista de nomes, além de dois ensaios de Tolkien discorrendo sobre o Kalevala. Estes ensaios são muito interessantes porque além de saber mais sobre o épico também é possível saber um pouco mais sobre a cultura finlandesa e o envolvimento do autor com a mesma. O livro ainda conta com uma ilustração feita por Tolkien e algumas fotos de seus escritos.

O artigo final de Flieger amarra Tolkien, o Kalevala e outras obras de Tolkien, especialmente ao explicar que A história de Kullervo foi o primeiro conto feito por Tolkien, e que foi progressivamente caminhando para outros contos até chegar ao Simarillion.


Agora falando do conto em si não é algo de fácil assimilação, a começar pela ideia de que o protagonista é descendente de cisnes, e dai em diante coisas muito desconexas se sucedem. O que é possível apreender é que as principais características de um conto de fadas surgem como a repetição e a rima. Ainda é um embrião do que a escrita de Tolkien viria a ser, e é interessante por isso.

A história de Kullervo é um livro para dois públicos, amantes da Terra Média ou amantes da mitologia/literatura, não é uma narrativa para novatos, e nem para quem apenas aprecia entretenimento, já que a leitura demanda mais dedicação e paciência. Os textos de apoio são ótimos, e mesmo os próprios textos de Tolkien, e também já valem o livro. Gosta de Tolkien ou da Finlândia leia sem medo!

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