Quando comecei minha fase de
leituras diárias e em sequência um dos autores que eu mais lia quando mais nova
foi Paulo Coelho, por ser adepta de leituras espiritualistas ele me parecia
adequado. O tempo passou e nunca mais li nada que saiu do autor até que surgiu
a chance de ler seu último lançamento, A Espiã, publicado pelo selo Paralela da
Companhia das Letras.
Mata Hari foi uma dançarina a
frente do seu tempo, executando danças exóticas que terminavam com ela sem
roupa. Com isso ela se tornou alvo da imprensa e de homens da alta sociedade
com dinheiro e poder político. Com uma busca incessante por liberdade ela se
envolveu em tramas da primeira guerra mundial, e pagou caro pela sua liberdade
de moralismo e costumes.
Narrado em primeira pessoa na
parte 1 pela própria Mata, e na segunda parte pelo seu advogado de defesa, a
narrativa de Coelho não lembra as antigas leituras que fiz do mesmo, não sei se
pela temática muito diferente ou por uma mudança de escrita, mas todos os fatos
correram de forma rápida, objetiva, sem reflexões ou pensamentos além do raso.
O objetivo do autor foi recontar a estória desta mulher que foi condenada a
morte inocentemente por se envolver com as pessoas erradas no momento errado.
Diversas fotos originais aparecem pelo livro, tanto de Mata como de jornais.
Mata, nascida Margaretha Zelle,
nasceu na Holanda e escolheu casar para sair de seu país, mas com uma escolha
feita pelas páginas do jornal não foi bem sucedida, o marido foi péssimo para
ela. E como não conseguia se ver presa a infelicidade para sempre, ela abandona
o marido e a filha para ir para França e
se tornar dançarina. Infelizmente o livro começa com sua execução, então não
existe surpresa em momento algum de nada, apenas conhecemos como ela se tornou
dançarina e se envolveu com espionagem.
Ela era uma mulher vanguarda, mas
sem muita inteligência, já que acreditava que o sexo justificava para alcançar
seus objetivos, sem se dar conta das consequências. Em meio ao estouro da
primeira guerra ela não hesita em se meter na política, mesmo quando foi
aconselhada a se afastar disto, tudo pelo capricho de voltar a Paris. Com isso
ela não desperta empatia ou solidariedade, pois é teimosa e não resguarda a
própria segurança. Não dá para torcer por alguém tão vaidosa como ela!
Nenhum personagem além de seu
advogado passa tempo suficiente na trama para que conhecêssemos ou nos
envolvêssemos. Tudo é muito focado na personagem, mesmo quando a mesma conhece
ninguém menos que Picasso, tudo se passa de forma muito superficial. Porque não
brincar um pouco com ícones tão interessantes?
O livro é interessante do ponto
de vista histórico para conhecer os bastidores da época, como quando Mata chega
a Paris e a Torre Eifel ainda não tinha seu nome, e ainda poderia ser
desmontada. Mas do ponto de vista literário ou até biográfico (embora Coelho
diga que esse não é seu objetivo) o livro é fraco. Mesmo que a estória já havia
sido delineada pelos fatos reais, não é nada empolgante. Acredito que o autor
poderia usar a estória para passar mensagens, seja quanto aos crimes comentidos
na guerra, seja quando ao tratamento com as mulheres.
A sensação ao final deste livro
breve é que li um artigo de revista sobre Hari, e não um livro, menos ainda
escrito por um autor como Paulo Coelho. Um dia vou ler outro livro do mesmo e
descobrir se este é um problema deste livro, ou do meu gosto literário que
mudou.
A Espiã nos conta uma estória de
vida que só por isso é interessante, mas sob minha ótica não representa a
homenagem adequada a esta mulher extravagante. Faltou mais riqueza e mais
detalhes. Faltou um mergulho nesta mente um tanto perturbada que levou uma
mulher a morte por o que ela acreditou ser liberdade!
Avaliação
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