O Labirinto do Fauno - Cornelia Funke e Guillermo del Toro

Sou uma grande fã do trabalho do diretor Guilhermo Del Toro, e entre seus trabalhos, O Labirinto do Fauno, é com certeza junto a Hellboy, um dos meus favoritos. E a pedido do diretor a autora Cornelia Funke reescreveu a saga desta criança na Espanha. Publicado por aqui pela editora Intrínseca, o livro nos leva para este momento tenso da história.

Na Espanha do ditador Franco, a jovem Ofélia junto de sua mãe grávida seguem para um lugar isolado, junto de um capitão que luta contra os rebeldes que querem derrubar o governo. A floresta, que cerca este moinho, não é apenas um lugar obscuro como também lar de criaturas mágicas habitantes do reino subterrâneo que procuram por sua princesa desaparecida, uma princesa que parece que finalmente voltou ao lar.

No final do livro Funke descreve como foi o processo de criação do livro, acho que esta explicação deveria ser posta logo no começo do livro, porque já deixa claro que a estória original do filme segue idêntica no livro, a autora quis colocar sem modificação tudo com exatidão, já que acredita que Del Toro foi genial em sua obra ( ela não utilizou o roteiro, ela assistiu o filme diversas vezes e escreveu a partir dele).

Após um encontro com o diretor o que Cornelia fez de próprio punho foram os diversos contos, que eles chamaram de interlúdios, para detalhar diversos aspectos da trama e as estórias de cada personagem. Estes contos são como pedaços de retalho que depois de costurados não soam como partes unidas, mas como unidade, com uma narrativa linear. A origem do Homem Pálido, por exemplo, é descrita, assim como do próprio Fauno, e de toda a família real do Submundo. Estes contos assim como todo o livro é narrado em terceira pessoa através de uma escrita muito fluida e que nos prende e instiga a saber cada vez mais.

Toda a atmosfera pesada e gótica que o filme têm também é encontrada no livro, é de fato uma tradução literal nos sentidos também, mas não por isso sem valor, já que possibilita uma reflexão diferente do que o cinema permite, visto que o livro tem uma passagem de tempo mais lenta, e nos acompanha por mais horas do que o filme.

Todos os sentimentos que senti ao ver o filme eu os tive no livro, a angústia de ver uma criança tão pequena em meio um caos de uma guerra civil. A mãe da jovem morrendo dia a dia com um marido cruel. As criaturas que têm índoles duvidosas e que não deixam claro seu lado da moeda. Tudo está lá, com riqueza e sem poupar o leitor de nenhum detalhe que poderia ser atenuado. A injustiça que nos acompanha por todo o livro é revoltante do começo ao fim como nas telas.

Ofélia é uma criança muito destemida e curiosa, seus sentimentos perante a sua realidade são ricos. Quando ela conhece o outro mundo, ela o agarra porque seu mundo não faz mais sentido. E o amadurecimento que ela tem ao longo da trama é muito visível.

A pergunta que continua é se a estória é uma fantasia, uma realidade fantástica, onde o real se mistura com outro mundo. Ou trata-se apenas de uma realidade onde uma garotinha diante de tanta violência e crueldade acabou sofrendo com visões para conseguir lidar com a realidade. Eu como boa sonhadora que sou, fico no grupo de que o mundo subterrâneo é real.





Esta edição está simplesmente linda, em capa dura com o corte verde água e repleta de ilustrações que também remetem aos traços do filme, é o tipo de livro que você quer na estante para folhar de vez em quando.

O Labirinto do Fauno é uma obra de arte nas telas que foi muito bem transportada para as páginas de um livro. Com forte carga de realidade e com uma fantasia extremamente pesada é uma estória que nos apresenta um novo mundo, e nos lembra de nosso passado, do que aconteceu e que não deve acontecer, e do que podemos fazer quando o mundo parece se despedaçar.




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