Eu simplesmente adoro o modo como
livros podem ser caixinhas de surpresa, mesmo quando achamos que sabemos algo
sobre eles, estes podem nos surpreender, tanto sobre seus temas, quanto sobre
suas estórias e o sentimento que eles despertam durante a leitura. A memória
que eu tinha sobre O Homem de Giz, escrito pela inglesa C.J. Tudor, publicado
pela Intrínseca, era de um livro sobre um crime e os anos 80, de fato existem
crimes e os anos 80, mas o livro foi bem diferente do que eu pensava.
Em 1986 Eddie era um adolescente
descobrindo o mundo, ainda inocente ele se vê próximo de algumas mortes, mortes
estas que não foram bem explicadas, e que no ano de 2016 ele se vê obrigado a
reviver e a finalmente saber o que aconteceu entre seus bonecos de giz.
A narrativa em primeira pessoa
através de Eddie é muito instigante e interessante - a cada final de capítulo,
que alterna entre os anos de 1986 e 2016, nos vemos frente a uma nova
revelação. E logo no começo do livro um acidente no parque já tira a
perspectiva de leveza do livro. Ao contrário do que pode-se esperar não temos
um serial killer, ou um único crime que permeia todo livro. São sucessivos
fatos que se amarram e que aos poucos são revelados e criam cada uma das cenas
de forma muito inteligente e crível.
Eddie é um personagem inocente,
seja jovem, seja adulto ele não amadureceu o suficiente para ver a maldade ou a
malícia das pessoas, e essa visão simplista que conduz a estória. Embora seja
um homem recluso e nerd, ele possui segredos um tanto bizarros que parecem
inocentes, mas que tem um toque bem macabro.
Seus amigos Gav, Nikk, Hoppo e
Mickey são bastante explorados em suas personalidades que se chocam com o dia a
dia dos personagem e dos principais acontecimentos da trama. Vê-los crianças e
depois adultos é uma possibilidade interessante de perceber como cada um deles
evoluiu diante dos fatos que passaram quando ainda jovens. E o mais
interessante é que aqui não existem mocinhos, são personagens reais e dúbios,
que fazem aquilo que suas paixões e emoções os conduzem a fazer.
Por conta dessas emoções os
acontecimentos não são tão previsíveis, e algumas surpresas aparecem a cada
passo da estória. Honestamente eu nem estava preocupada em quem era o assassino
do crime principal, porque o grande destaque é a construção ao redor, o
crescimento e evolução destas crianças e os adultos que estão a sua volta.
É preciso ressaltar o fato de que
embora tenham crianças na trama não se trata de um livro leve. Algumas cenas
podem impressionar, cenas de violência, de abuso (enquanto eu lia eu pensava
sério que eles estão fazendo isso?!) e suicídio. Não são cenas extensas, e
apesar do seu conteúdo achei que a autora passou seu recado sem pesar na mão,
mesmo assim ela narra de forma muito objetiva os acontecimentos, sem deixar
dúvidas do ocorrido.
O desfecho é ótimo, porque até
personagens que parecem apenas apoio para Eddie tem uma importância e segredos
para revelar. O capítulo final é sombrio, é muito macabro, não é um fato que
você possa esperar de uma criança.
Por fim, não posso deixar de
falar da edição linda que a Intrínseca fez deste livro em capa dura, repleto de
homens de giz e com o efeito de giz na capa, além do corte na cor preta que
completa a atmosfera do livro.
O Homem de Giz é uma estória
provocante que instiga diversas partes de seu espírito, ora investigador, ora
observador, ora psicólogo, para entender esta trama é necessário ter os olhos
bem abertos, afinal nem tudo é o que parece, e nunca se sabe quando um homem de
giz pode aparecer na sua calçada.
P.s Outro livro da autora, O que
aconteceu com Annie, acabou de ser lançado pela editora Intrínseca, e parece
seguir trazendo boas estórias!
Avaliação
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