Já faz algum tempo que Elena
Ferrante estava na minha lista de must-read, não tinha me decidido por onde
começar, mas quando Um Amor Incômodo foi lançado pela Intrínseca, me decidi por
começar por ele, afinal esse foi o primeiro romance lançado pela autora em
1992.
Quando Delia acredita ter se
libertado de seu passado em Nápoles, na Itália, sua mãe falece de forma
misteriosa em uma praia onde foi encontrada afogada, e vestindo apenas um sutiã
caro que jamais teve. Para o enterro de sua mãe Delia volta a sua cidade natal,
mas ao retornar ela descobre que terá que fazer bem mais do que enterrar a mãe
para que suas feridas cicatrizem. Confrontada pelas memórias do passado ela irá
descobrir quem era sua mãe e quem ela mesma se tornou.
Explicar a narrativa de Ferrante
em termos comuns é limitante, recentemente ouvi uma opinião a respeito deste
livro sobre ele ser psicanalítico, e concordo, a sensação é que a protagonista
está sentada diante de um psicanalista, e que conta sua própria história de
maneira desordenada e estranha, colocando muita fantasia e traumas não
resolvidos. A proposta não é contar uma estória de forma tradicional e linear,
assim em alguns momentos acabamos nos perdendo no que e real e o que é
lembrança ou visão de Delia. Tudo de forma muito brusca e direta não nos poupando
de causar repulsa e asco, ela não suaviza as sensações em momento algum.
Outro aspecto importante de
salientar é que temos aqui também uma estrutura de romance policial no sentido
que ela tenta compreender a morte da mãe, já que esta foi encontrada afogada em
uma praia onde na infância de Delia a família havia passado férias. O mistério
que ninguém sabe é se ela se foi morta, se foi um acidente ou se foi suicídio,
a filha tenta compreender a partir de um quebra cabeças qual a resposta para
este enigma, se é que de fato existe uma resposta.
Delia é uma mulher que precisaria
de severos anos de terapia, sua infância a marcou de forma profunda e
definitiva, a ponto de ela direcionar a sua vida não para as coisas que deseja,
mas para as que mais se afastam do que ela acredita ser sua mãe. Ela parece não
nutrir respeito e amor pela mesma, já que acredita que na infância sua mãe
traiu seu pai, e este fato mudou o rumo da família de Delia.
Tio Fillipo, irmão da mãe de
Delia é conhecido por não guarda para si suas opiniões, com a idade um pouco
avançada mistura sua tendência aos palavrões com um pouco de senilidade.
Alterna momentos de carinho e agressividade com a sobrinha. Caserta, é o suposto
amante da mãe, uma figura estranha com atitudes mais estranhas ainda que vem
nos confundir sobre quem era Amalia e sua ligação com ela.
O foco da trama é a relação mãe e
filha, e o quanto Delia acaba tendo muitas identificações com as ações da mãe,
a ponto de se confundir com ela. Só que ao fim ao invés de ela sair analisada
do divã, com os traumas resolvidos, ou diria compreendidos, a sensação é que a
todo tempo ela falou consigo mesma apenas diante do espelho, e um sentimento
leve de frustração é despertado.
Um Amor Incômodo é um livro
curto, mas consegue causar muito incômodo porque evoca toda a sombra da
personagem, e sombras de outros personagens que vemos por aí. Não trás alivio a
alma, mas sim interesse na mente. Não é um livro de fácil assimilação, e não
agradará a todos, mas se você deseja ir além da estórias fictícias leves pode
ser um bom caminho para esbarrar com sua própria sombra.
Avaliação
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