Cada livro é como um espelho do
inconsciente de quem escreve, pode ser que o autor nem perceba, mas quando leio
eu consigo perceber a lógica que aquela mente tem sobre determinados assuntos,
ou como a concepção da estória se fez. Em alguns livros isso é muito
perceptível, em outros é um desafio, já que parece que nem mesmo o autor tem
certeza de como tudo vai se ligar. O desafio logo se torna duplo, e fica uma
delícia quando é possível alcançar a ideia do livro, assim foi o caso de Jardins
da Lua (O Livro Malazano dos Caídos #1), do autor Steven Erikson, publicado
pela editora Arqueiro.
Desde pequeno, Ganoes Paran
decidiu trocar os privilégios da nobreza malazana por uma vida a serviço do
exército imperial. O que o jovem capitão não sabia, porém, era que seu destino
acabaria entrelaçado aos desígnios dos deuses, e que ele seria praticamente
arremessado ao centro de um dos maiores conflitos que o Império Malazano já
tinha visto. Paran é enviado a Darujhistan, a última entre as Cidades Livres de
Genabackis, onde deve assumir o comando dos Queimadores de Pontes, um lendário
esquadrão de elite. O local ainda resiste à ocupação malazana, e é a joia
cobiçada pela imperatriz Laseen, que não está disposta a estancar o
derramamento de sangue enquanto não conquistá-lo.
Porém, em pouco tempo fica claro
que essa não será uma campanha militar comum: na Cidade do Fogo Azul não está
em jogo apenas o futuro do Império Malazano, mas estão envolvidos também deuses
ancestrais, criaturas das sombras e uma magia de poder inimaginável.
O que pensar de um livro que logo
no seu prefácio o próprio autor diz que seu livro é difícil, para poucos
leitores e que ele não tem objetivo de dar muitas explicações sobre seu
universo? Honestamente o que me despertou foi uma enorme curiosidade, já que de
livros de fantasia seguindo a cartilha da jornada do herói as livrarias já
estão cheias! E já começo dizendo a narrativa em terceira pessoa de Erikson é
de fato para poucas pessoas! Trata-se de uma estória muito ampla sobre um
local, não de um determinado personagem, mas de diversos que se entrelaçam mais
a frente na trama.
Assim temos diversas camadas, a
primeira sobre o Império, onde uma mulher toma o poder e quer expandir seus
domínios, para isso utiliza de sua conselheira que anda pelo mundo, que a
atualiza sobre o que acontece por onde passa, está é Lorn. Atuando ainda a
favor do império existem diversos guerreiros, em diversos níveis de hierarquia,
alguns conhecidos como garras, outros conhecidos como magos, que utilizam a
magia como ataque e defesa, e muitos deles que estão em Pale eram do antigo
Império. E ainda nesta camada existe um
grupo, os queimadores de pontes, um grupo muito unido que parece ter vontade
própria sobre o que deve ser feito.
Agora uma outra camada que se
localiza na cidade de Darujhistan, um território ainda não conquistado. Lá
temos um grupo de assassinos, ladrões, e mais magos. Uma estória se desenvolve
lá, alguns a partir questões pessoais que acabam se ligando a uma questão
maior, a defesa da cidade. Por fim a camada que a tudo permeia é a dos deuses
vivendo em uma outra dimensão, o autor chama estes lugares de caminhos. Esses
deuses acabam por escolher lados diferentes desta disputa, alguns tomando posse
de corpos, outro revivendo mortos, só que até que eles se mostrem suas
influências são nas sombras.
Acho que por este pequeno resumo
já é perceptível a grandiosidade de tudo não é? Depois da metade do livro todas
estas camadas começam a se misturar, e se unificar em uma única estória, já que
no fim todos acabam com um único objetivo, ou diria alguns a favor dele, outros
contra, mais todos olhando para o mesmo local, com a mesma preocupação.
Não vou me ater em falar de cada
personagem como é do meu costume porque aqui temos muitos - Imperatriz Laseen, Conselheira
Lorn, Sargento Whiskeyjack, Tattersail, Hairlock, Ben Ligeiro, Piedade, Ganoes
Stabro Paran, Dujek Umbraço, Tayschrenn, Kruppe, Crokus Jovemão, Baruk, Rallick
Nom, Anomander Rake para citar só alguns! - são muitos mesmo e aparecem em
momentos diferentes, e todos com um traço em comum, o mistério. O autor não nos
explica seu universo, nos joga na ação que a medida que acontece vai pincelando
ora uma informação ou outra sobre quem é quem, sobre como se estrutura o mundo.
Isso de uma maneira muito inteligente e única, utilizando recursos variados,
com volta no tempo, diálogos e etc.
Em meio a tantas coisas
diferentes a única coisa que me incomodou de fato foram os nomes de
personagens, especialmente os deuses que tem nome de objetos, e acabam por nos
confundir mais ainda no início, 'será que é uma pessoa ou um local?' era uma
pergunta recorrente, e mesmo dos personagens constantes, acho que deveriam ser
mais curtos e acessíveis, não sei quanto isso foi traduzido ou apenas mantido.
No começo do livros temos um
lista de personagens, que ajuda pouco, já que existem mais personagens não
descritos lá, por isso logo a abandonei! E no fim outra lista com locais, raças
e títulos e grupos, mas tudo de forma muito breve, o que no fim também não é de
grande ajuda. Gostaria que Erikson tivesse explorado mais a magia. A série
conta com dez livros, por aqui ainda só temos o primeiro, e a editora só
comprou os direitos dos primeiros três!
Jardins da Lua é um mergulho
profundo que exige fôlego e dedicação, mas que nos leva a lugares maravilhosos.
E digo é preciso persistência paciência para está leitura, já que é um livro
denso e grande que não agrada a quem gosta de leitura fácil. E talvez depois de
tantos senãos, você se pergunte, afinal você indica a leitura? E digo, sim, é
claro! Mas prepare-se, pois é uma maratona!
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