Sempre que eu tento escolher um
livro leve, sem muito compromisso eu caiu de cara com algum livro denso
psicologicamente, e que normalmente lida com o luto. Acho que psicóloga atrai
né? E não posso achar ruim porque A Pousada Rose Harbor, da autora Debbie Macomber,
publicado pela Novo Conceito, foi assim leve e ao mesmo tempo pesado de tantos
lutos que apresenta!
Jo Marie Rose perde seu marido
para a guerra, os meses se passam e todo seu esforço para lidar com a perda não
trás resultados, assim ela se dá conta que precisa de mudança, e rompe com sua
antiga vida. Muda de cidade e compra uma pousada, e agora enfrenta o desafio de
administrar sozinha o local. Seus primeiros hospedes chegam, e ela percebe que
terá que enfrentar mais do que sua própria história, mas também a das pessoas
que chegam, cada uma com sua própria dor e que buscam como ela um lugar para se
curarem.
Ahhh que livro gostosinho rs! Ele
se passa em uma pequena cidade litorânea e com isso tem todos os charmes que as
pequenas cidades americanas parecem ter. Assim acompanhar as três histórias que
se desenrolam na narrativa de Macomber foram refrescantes como a chuva que cai
naquelas terras. Os capítulos são narrados ora em primeira pessoa através de Jo
Marie, ora são narrados em terceira pessoa sob o ponto de vista dos hóspedes,
Joshua Weaver e Abby Kincaid. Essa alternância de personagens e narrativas cria
uma fluência boa para o livro.
Devo confessar que entre os três
protagonistas me identifiquei mais com Jo Marie, ela é uma mulher delicada e
fofa, e é triste a perda repentina do marido que ela acabara de casar. Ao
contrário de muitos personagens em luto, ela nunca foi a pessoa que passava
horas chorando sem forças para seguir. Ao contrário ela fez grupos de luto,
crochê e toda sorte de atividades que a
aconselharam para seguir vivendo. A pousada é a sua última aposta depois de
quase um ano da morte.
Joshua Weaver é um homem que
também teve uma perda, sua mãe quando ele ainda era um adolescente. Entretanto
como ele viva com ela e o padrasto, e ele não se dava com o mesmo acabou
expulso de casa antes mesmo de se formar na escola. Agora anos depois ele volta
porque o padrasto esta para morrer, e ele se vê diante da questão: devo
continuar nutrindo meu ódio, ou devo seguir em frente e fazer o que é preciso
com o meu padrasto? Esse trecho do livro é sobre perdão e resignificação do
passado.
Já Abby Kincaid entre todos os
personagens é o que enfrentou a pior situação já que se envolveu quando jovem
em uma acidente onde sua melhor amiga morre, e ela não consegue lidar com a
culpa e responsabilidade pelo mesmo. É muito triste ver quanta vida ela deixou
para trás quando pega para si essa culpa. E vê-la descobrindo mais a respeito
disso é ótimo, já que ela volta para a cidade que fugiu por tanto tempo para o
casamento do irmão.
A Cidade em si é repleta de
personagens que eu gostaria de ter mais tempo de convivência, especialmente o
faz tudo por quem eu espero que Jo Marie venha a se apaixonar, mas que claro
não aconteceu nesse livro visto que o livro se passa em apenas 3 ou 4 dias.
Este talvez seja também o problema do livro, já que em poucos dias tanto Joshua
quanto Abby conseguem resolver conflitos e traumas de anos. Claro não chegam a
ser situações absurdas, especialmente as de Abby, mas acredito que um pouco mais
tempo de elaboração seria necessário para que tudo ocorresse. Com Jo Marie isso
já não aconteceu, sua linha de tempo foi mais branda, e ela não sofre mudanças
tão drásticas quanto os demais personagens.
O livro vale pelas reflexões que
propõe sobre situações passadas que os personagens sofrem e que os marcam de
tal forma que limitam suas vidas. No momento que eles se permitem reviver esses
dias que ficaram para trás e dar a oportunidade de realmente encontrar a
verdade, a vida começa a caminhar de forma fluída e menos controlada pelos
traumas.
A Pousada Rose Harbor é um livro
de estórias de vida e o que as escolhas que fazemos diante dos problemas nos
resultam. Podemos sentar e chorar, podemos resolver viver. Podemos viver com
medo e culpa, ou podemos escolher a alegria. E seja como for o mais importante
é sempre compreender que você fez o melhor que pode por si mesmo naquele
momento, e que hoje não precisa viver mais no passado, mas criar novas
lembranças para um dia serem o passado. O livro tem uma continuação, Rose
Harbor in Bloom, mas infelizmente não foi publicado aqui no Brasil.
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