
Lyra Belacqua vive pela enorme
universidade de Jordan em Oxford, sua vida entre os telhados e guerras infantis
com outras crianças pela cidade são sua única preocupação, e ela não deseja
mais nada além da vida simples que tem. Entretanto após participar sem querer
de uma reunião dos catedráticos da universidade, e descobrir sobre o pó, ao
mesmo tempo em que estranhos boatos sobre crianças desaparecendo em diversas
cidades, ela acaba sendo convidada a ir para o norte por uma estranha mulher.
Lyra parte para Londres, onde vai de repente se ver fugindo e ao mesmo tempo
buscando por seu amigo Roger e Lorde Asriel. Uma aventura que tem onde começar,
mas tem onde terminar.
Lyra tem apenas onze anos, mas
tem um perfil de uma criança que frequenta muito as ruas, e sabe se defender.
Convive muito com os meninos, logo não é uma criança chorona ou medrosa, ao
contrário tem a língua maior que a boca e atitudes de sobra mesmo quando os
ventos não estão a seu favor. Quando ela acaba com a Sra. Coulter em Londres
ela começa a amadurecer, não apenas para se aproximar mais dos adultos, mas
para compreender a lógica do mundo, no caso do mundo com elementos mágicos. Seu
crescimento, portanto, é muito interessante, de menina respondona e que só
fazia o que queria, até uma mentirosa e ardilosa é visível, mas ela não muda
seu caráter, se ela mente é para se proteger. Sua luta é sempre pelo bem, ela
quer ajudar que ama.
O que eu sempre achei
interessante desde a primeira leitura da obra foi os elementos mágicos que o
autor explora. O modo como ele os vê tem diversos paralelos com a física
quântica, daí um pouco da complexidade da estória que diversas vezes tenta
explicar o que é o pó por exemplo, que eu entendo como a energia que a tudo
circula e está. Também surge o conceito de mundos paralelos que existem ao
mesmo tempo que o nosso. Com essas possibilidades a partir da física a atmosfera
do livro parece mais realista, embora não tanto quando pensamos nos daemons, os
animais que cada ser humano possui desde o seu nascimento. Outros aspectos não
tão real são as feiticeiras exploradas por ângulos interessantes, já que elas
vivem ligadas aos elementos naturais, a natureza, e usam galhos para voar.
Pantalaimon é o daemon de Lyra -
os daemons são como partes da alma personificadas em forma animais que só tem
forma definitiva depois da puberdade. Eles
poderiam ser definidos como a sombra da alma, pensando em conceitos junguianos.
Pan, como é chamado por Lyra sente tudo que sua dona sente e pensa, e ela o
mesmo com ele, assim eles são como um corpo só dividido em duas partes. Uma
simbiose perfeita que se apoia e precisa viver com o calor e amor um do outro,
separá-los é causar sofrimento e muita dor!
A vilã Sra. Coulter, é uma
criatura vil, sem amor e com um coração frio, embora pareça gostar de Lyra ela
não se importa quem terá que sacrificar para alcançar seu objetivos. Pela
estória de vida dela narrada, ela sempre foi assim, sem empatia pelos que a
circundam, embora eu não goste nada dela, é do seu mico leão dourado que eu
menos gosto, ele é cruel e sádico, gosta de maltratar os daemons dos outros. O
estranho sobre ela ainda é que ela faz as coisas não por crença ou convicção,
mas pelo poder, pelo puro poder, ela não demonstra nada além dessa sede
desenfreada por ser dominadora.
Os gípcios são como ciganos, eles
são fundamentais na fuga de Lyra e são eles quem contam a ela sua própria
estória, ou diria a verdade sobre sua vida e futura missão. São um povo cheio
de tradições, e percorrem canais pela Inglaterra com seu barcos. John Faa e
Farder Coram são os dois principais, e fazem o papel dos mais sábios da trama.
Completando o clima diferente
temos um urso de armadura, Iorek Byrnison, com personalidade de sobra e força
sem igual, diferente dos ursos comuns tem polegares e facilidade para metalurgia.
Além de toda uma cultura no seu lar, com uma estrutura monárquica inclusive.
Ambientado entre o clima inglês e
depois o da Lapônia, o ambiente foge do lugar comum das fantasias inglesas para
adentrar o clima gelado da Escandinávia, posteriormente do polo norte. E em
tudo contribui para unidade e peculiaridade da narrativa realizada em terceira
pessoa sob o ângulo da destemida Lyra.
Toda a trilogia, A Faca Sutil e A
Luneta Âmbar já foram republicados pela Suma de Letras, todos com capas lindas
que refletem o encanto do livro. Reler A Bússola de Ouro me fez lembrar de bons
tempos, e de uma boa leitura. De uma fantasia madura e que não se preocupa para
qual publico escreve, se está na moda, ou se tem temas atuais. É uma estória
bem traçada e pensada. Uma fantasia moderna como deve ser, e para gente grande!
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