A Abadia de Northanger - Jane Austen

Catherine Morland vem de uma família grande (tem nove irmãos – sendo, portanto, um total de dez filhos) e respeitável, que tem boas condições de vida, apesar de não serem ricos e da alta sociedade. Mas todos vivem bem e tranquilos. Quando criança, ela fazia um estilo mais moleca para os padrões da época, curtindo atividades até então consideradas mais masculinas. Também era uma pessoa comum, sem grandes conquistas ou uma mente brilhante. Por isso, ninguém a consideraria como a protagonista de uma história. Porém, quando alcança a adolescência, aos quinze anos, decide mudar e começa a se interessar mais por moda e coisas “femininas”. Além disso, ela decide embarcar em diversas leituras para enriquecer a memória e o modo de agir.
Sem muitas esperanças de grandes acontecimentos ou de conhecer pessoas muito interessantes e diferentes das que está acostumada, Catherine fica imensamente feliz quando é convidada pela família vizinha, com quem seus pais têm uma ótima relação, a passar uma temporada de algumas semanas em Bath. Empolgadíssima com a mudança de ares, nossa protagonista começa a imaginar tudo que pode acontecer por lá, desde os perigos que podem espreitar pelo caminho quanto coisas diferentes que podem surgir nesse lugar novo para ela.
Primeiramente ela e sua companheira de viagem, Sra. Allen, vivem dias monótonos, pois não encontram conhecidos. Porém, as coisas estão prestes a mudar quando é apresentada ao Sr. Tilney, que é divertido e agradável, e depois uma antiga amiga de aulas da Sra. Allen a encontra e apresenta seus filhos, entre eles Isabella, que logo se torna amiga de Catherine, e John Thorpe, um rapaz bem enfadonho que se interessa por Catherine.
Divertindo-se bastante nos encontros sociais que vivencia com tão agradáveis companhias em Bath em diversas atividades e bailes, Catherine fica cada vez mais interessada no Sr. Tilney. Quando recebe um convite para visitar a residência da família, a Abadia de Northanger, nossa protagonista passa a imaginar uma maravilhosa aventura gótica que vai experienciar no local, com certeza cheia de intrigas e suspense. E começa a elaborar as mais variadas teorias a respeito do local e de seus moradores. Mas talvez sua imaginação esteja solta até demais...
Mesmo gostando muito mais da experiência de ler os livros antes de assistir as adaptações para séries ou filmes, acabei fazendo o contrário com essa história. O que acontece é que alguns anos atrás estava apaixonada por séries e filmes de romances clássicos, então assisti várias. Como Jane Austen é uma autora favorita, vi diversas de suas adaptações, inclusive o filme de 2007 desta obra. Lembro que adorei a história, mas deixei o livro para ler depois. Acabou que não consegui ler antes, mas finalmente tive a oportunidade. O ponto positivo disto é que eu só me lembrava de alguns detalhes e da essência da história, mas não da trama inteira, então é quase como se eu conhecesse o enredo pela primeira vez. E amei!!
Diferentemente de outros de seus títulos, considero que “A Abadia de Northanger” é uma história mais simples, com menos acontecimentos e reviravoltas, mas, como sempre, Jane consegue nos apresentar uma trama bem construída e ótimos personagens bem desenvolvidos, que nos mostram o ser humano e suas peculiaridades, e como os diferentes tipos de motivação das pessoas fazem com que suas ações sejam completamente distintas e, quase sempre, inesperadas. A impressão que tenho sempre que leio uma de suas obras é que Jane sempre se interessou pelo “estudo” da natureza humana e seu comportamento, e gostava de explorar muito isso com os personagens que criou.
Algo que ela também trabalha é o poder da imaginação e de como a mente humana pode pregar peças na própria pessoa. Quando alguém “tem certeza” de algo ou acredita firmemente em determinado assunto sem antes pesquisar, por exemplo, pode acabar se surpreendendo futuramente quando souber a verdade, que nada tinha a ver como o imaginado.
A trama é bem divertida com diversas ações e comentários cômicos tanto por parte da protagonista, Catherine, como de outros personagens secundários. Além disso, é uma paródia aos Romances Góticos, que estavam em voga na segunda metade do século XVIII na Inglaterra. Por conta disso, também tem um quê mais “sombrio”, remetendo a esse gênero dos romances, em especial “Os Mistérios de Udolpho”, de Ann Radcliffe, porém de uma forma irônica e hilária.
Há críticas sobre o cenário da época, em especial o literário, que diminuía os romances (obras de ficção) e também os autores do gênero, como se fossem de segunda categoria ou pouco dignos de serem lidos. Refletindo sobre esse assunto, podemos notar que ainda hoje isso acontece, mesmo que numa escala um pouco menor já que existem muitos títulos do gênero e também diversos leitores. Mas sempre ouvimos comentários de como esse tipo de leitura é inferior ou coisas semelhantes. O que já era chato naquela época e continua sendo hoje.


Adorei Catherine Morland, que é divertida, afável, honesta e ingênua até certo ponto. Ela é facilmente impressionada e sua imaginação é realmente muito fértil, e, por isso mesmo, a gente solta ótimas gargalhadas com sua forma de pensar. Ao mesmo tempo em que confia nas pessoas, ela também é madura o suficiente para entender quando fazem algo questionável e sabe como seguir em frente. Tem uma personalidade mais aberta, mas também sabe ser forte e manter suas opiniões e convicções. Sr. Tilney é amável e fazia comentários bem interessantes, tendo uma ótima química com Catherine e papos irônicos.
A edição que li foi a publicada pela Nova Fronteira, que veio no Box Grandes obras de Jane Austen #02, cujos títulos são em capa dura, têm ótimas traduções e diagramações bem confortáveis para leitura. Os outros dois livros que vieram nesse box foram Persuasão, que amo, e “Mansfield Park”, cuja resenha sai no blog no próximo mês.
Esse foi o primeiro livro que Jane concluiu na vida, em 1798, porém a edição e publicação só ocorreu postumamente, em 1818, um ano depois de deixar esse mundo.
Para mim, Jane Austen é maravilhosa. Adoro sua forma de escrita e humor ácido, além das tramas bem elaboradas. Porém, suas obras possuem narrativas mais lentas, um pouco indiretas e bem explicativas. Então considero que não vai agradar todo mundo logo de cara. Eu mesma, no passado, teria dificuldade para avançar na leitura, porém, conforme fui ficando mais madura e também já tendo lido diversas obras durante a vida, tudo ficou mais fácil.
Claro que tem gente que já se acostuma logo de primeira, mas acredito que a maioria das pessoas precisa esperar o tempo certo para ler. Tanto Austen quanto qualquer outro clássico. Posso falar isso por experiência própria e também por conhecer muitas outras pessoas que também passaram por isso, mas, novamente, isso vai de indivíduo para indivíduo. Só gostaria de deixar uma sugestão é que, se você tem vontade de ler seus livros e acha que ainda não é o seu momento de apreciá-la totalmente, deixe para outra ocasião. Tenho certeza de que vai fluir bem melhor quando você estiver mais preparada.
E, para começar a conhecer sua escrita, indico muito iniciar a experiência lendo “A Abadia de Northanger”, pois a história é mais simples e direta, além de bastante divertida e conter todo o jeito mordaz de Austen.
Essa obra espirituosa é uma história de amor encantadora com uma veia cômica maravilhosa, críticas sociais, personagens incríveis e bem construídos, e um mergulho na virada do século XVIII para o XIX. É um romance de costumes, que nos mostra a vida cotidiana e a natureza humana de forma inteligente e interessante. Recomendadíssimo!
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