Foi por
pouco (um pouco mais de um mês) que meu último livro lido não foi do mesmo
autor do primeiro livro lido no ano. Haruki Murakami ganhou minha atenção em
janeiro, e agora mais uma vez provou em O Assassinato do Comendador Vol.1,
publicado pela Alfaguara, ser um autor com uma narrativa fantástica única.
Um pintor
retratista abandona Tókio após ser dispensado pela esposa, sem rumo ele anda
com seu carro pelo Japão sem saber o que fazer até que se estabelece entre as
montanhas em uma casa que era do pintor Tomohiko Amada. Dia após dia ele busca
uma nova maneira de ser e pintar até que ele encontra um quadro de Amada
perdido ao mesmo tempo em que um vizinho faz um pedido inusitado a ele. Uma
jornada entre a realidade e o que parece um sonho começa, e este jovem pintor
nunca mais será o mesmo!
Murakami tem
um talento incrível de transformar aparente estórias sem potencial em boas
narrativas. O livro começa com o protagonista narrando em primeira pessoa sua
separação e os rumos que ela gerou, até este momento você não compreende a
relevância e em que ponto o autor quer chegar, já que seu ritmo é lento e
detalhado. Mas a medida que a estória se estabelece e começa a brincar com os
sentidos compreendemos a importância de cada detalhe que o autor se demorou em
narrar.
Pautada no
realismo fantástico a cada cena nos perguntamos se o pintor está aos poucos
perdendo a noção da realidade com o isolamento ou se os eventos sobrenaturais
começam a de fato acontecer com ele. Estes eventos são tão pontuais e sutis que
não geram em momento algum a dúvida no leitor. Minha única questão com o livro
foi o autor pesar um pouco no excesso de páginas para contar sua estória, isso
porque a Alfaguara ainda dividiu o livro em duas partes, ele na verdade passa
das 600 páginas! Por conta desta divisão temos um fim repentino e sem sentido.
O
protagonista, o pintor, tem como obsessão a irmã que morreu muito jovem do
coração. Todas as suas escolhas sejam conscientes ou inconscientes são de
coisas ou pessoas que lembram ela seja pela aparência ou pelo comportamento dos
mesmos. Essa fixação acaba por prejudicar ele já que estabelece relações com
esse pano de fundo, não vê as pessoas como são de fato.
Sua jornada
pessoal é bem detalhada, ele quer deixar de ser retratista e passar a fazer
quadros para si mesmo. Talvez no fim deste caminho ele veja que fazer retratos
não seja algo que ele fez só por dinheiro, pelo menos este é o rumo que o livro
deixou até o seu final. Suas relações amorosas também são bem detalhadas, desde
a escolha de sua esposa até de suas amantes.
Seu vizinho,
Wataru Menshiki, é um personagem enigmático, a impressão é que todo tempo ele
escolhe partes da verdade para contar, e nunca toda a verdade. Não sei até
agora se ele só tem boas intenções, mas ele é um homem culto e muito rico que
passa a ser amigo do pintor, e até a compartilhar algumas coisas estranhas.
Alguns
personagens surgem ao longo da trama, mas tirando o vizinho nenhum deles é
constante. Temos o amigo filho do pintor Amada, as amantes, a ex-esposa, e até
a irmã morta. Todas descritas e apresentadas com densidade, possibilitando
riqueza na imaginação da estória.
Como ocorreu
no livro anterior que eu li do autor, este livro também é repleto de
referências musicais, aqui o foco é na música erudita, em especial as óperas,
já que na casa que o pintor está morando existem diversos discos de ópera que
ele passa a ouvir constantemente.
O
Assassinato do Comendador segue seu ritmo sem pressa pelas cidades do Japão,
unindo a cultura e costumes japoneses ao mesmo tempo em que tem pitadas da
música ocidental. É um jornada lenta mas que desperta diversos sentidos e a
imaginação do leitor. É definitivamente diferente e criativo!
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