Noites Brancas - Fiódor Dostoiévski


Em todos esses anos de leitura eu sempre me pegava pensando em ler algum autor clássico russo, minha experiência com os russos se limitava a teóricos de outras áreas, mas até então nunca peguei algum de peso literário. Para começar finalmente essa saga escolhi alguma obra pequena para sentir o clima, o escolhido foi Noites Brancas, do autor Fiódor Dostoiévski, publicado pela Penguin Companhia.

Na São Petersburgo do século XIX um homem solitário passa seus dias pelas ruas observando as pessoas e os acontecimentos que o cercam. Muito tímido ele tem dificuldade de estabelecer relações com as pessoas, especialmente com as mulheres.  Em um de seus passeios ele observa uma jovem chorando a beira do rio, e decide ajudá-la, depois de uma pequena perseguição ele acaba por ajudá-la a se defender de um homem. E a partir deste momento começa aprender com Nástienka como ser mais humano e homem.

O livro é composto pela novela Noites Brancas e o conto Polzunkov. Noites Brancas é narrado pelo protagonista, o sonhador, em primeira pessoa. Não espere como é de costume de narrativas em primeira pessoa uma narrativa muito coesa e linear, já que o personagem divaga pelas ruas e em seus pensamentos, e mesmo depois quando conhece Nástienka ele têm diversas falas que não se conectam muito bem.

Vou ser muito honesta em dizer que tive diversos sentimentos ao longo da leitura, comecei otimista e gostando da estória, mas quando ele começa a falar de si mesmo para mocinha ele se coloca como o sonhador e divaga tanto que eu me perdi nos sentidos, e não vi razão para seu discurso, a ponto de não ver a hora de acabar. Mas quando a fala é passada para Nástienka, embora ela também não seja alguém que podemos dizer 'normal', sua fala é muito mais coerente e que de fato nos conta alguma coisa, e salvou a estória para mim.

O sonhador é um personagem melancólico e pessimista, mesmo assim sonha o tempo todo com o dia em que vai conhecer as pessoas e conseguir ter uma mulher. Mas acredito o fato de nunca conversar com as pessoas o fez ter falta de habilidade para um discurso comum. Ele não sabe como abordar alguém e se apresentar. Ele se atropela nas falas, não consegue não compartilhar seus pensamentos, aqueles que costumamos guardar para nós mesmos. Enfim ele é um homem com uma mentalidade infantil, e até soa um pouco atrasado.

Já Nástienka é uma adolescente ainda, com apenas dezessete anos, tem uma estória de privação grande já que a avó cega não a deixava sair de casa. Cheia de sonhos e dona de uma grande inocência ela facilmente estabelece uma amizade com o nosso protagonista. E abre seu coração a ele falando sobre seu amor por um inquilino da avó.

Um fato que me incomodou muito é que o livro se passa ao longo de poucos dias, quatro encontros do casal ao todo, que se dão em uma espaço de seis dias. E nesse pequeno tempo o sonhador já se apaixona perdidamente pela mocinha, de uma maneira shakesperiana e desesperada. A mocinha também é toda visceral e intensa como se o mundo fosse acabar, e entrega seu destino nas mãos do sonhador para ajudá-la, sem nunca o ter visto antes. Ela ainda pode ter uma atenuante pela sua adolescência, mas ele não. Esses amores instantâneos nunca me agradam.
Considerado como um livro romântico e lúdico, Noites Brancas é uma obra tida como um ponto fora da curva do autor que costuma abordar temas mais difíceis em seus livros. E uma curiosidade sobre o nome da novela, ela se refere a um fenômeno climático que marca a cidade de São Petersburgo em certo momento do verão, onde o sol nunca chega a se pôr completamente, e assim as noites conservam uma constante luminosidade do crepúsculo. Esse fenômeno acaba por gerar certa confusão na referência de tempo e conferir um contorno irreal e onírico aos personagens e ambientes.

Quanto ao conto Polzunkov em apenas vinte páginas é um relato de um homem que vive nas ruas fazendo graça para os outros para ganhar dinheiro, em um momento ele resolve contar uma estória de sua vida para seus ouvintes, a estória de quando ele quase arrumou uma noiva seis anos atrás chantageando seu ex-chefe. Honestamente me fugiu a lógica este conto. Busquei algumas repostas na teoria, e soube que trata-se de uma crítica ao exército, mas ainda sim acho que me faltou conhecimento prévio de algumas coisas russas para compreender a dimensão que este conto deve ter.

Noites Brancas e Polzunkov não foram portas de entrada muito simpáticas ou atrativas para a literatura russa, não sei pela falta de costume da minha parte, ou talvez pela falta da cultura russa em si que é evocada em sua escrita com frequência, e logo as referências se perderam. Mas seguirei tentando com outros autores e com outra obra de Dostoiévski.

Avaliação






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