Jane Eyre
vive uma vida intensa. Desde pequena, passou por diversos sofrimentos, momentos
tristes e repreensões, mas sempre se manteve fiel a seus princípios, sendo
firme e independente e tentando dar o máximo de si em tudo o que faz. Sem saber
o que é amar e ser amada por ninguém além de si mesma, ela sabe seu valor e vai
em busca do que acredita ser o melhor. Porém continua enfrentando tempestades e
pessoas desnecessárias.
Quando
finalmente entende o que é amar alguém e ser amada de volta, o destino lhe
proporciona uma descoberta que acaba mexendo com toda a sua vida e fazendo com
que ela tenha que se adaptar ao novo mais uma vez. Sem deixar de lado sua força
e perseverança, ela recomeça para enfrentar o que estiver pela frente, amadurecendo
a cada etapa e encontrando mais força dentro de si para continuar sua jornada.
E, no meio do caminho, Jane se aproxima de mais pessoas, evolui como ser
humano, aprende mais e decide ir em busca de seu final feliz.
Eu já
conhecia a história de Jane Eyre porque há alguns anos assisti à adaptação
cinematográfica homônima estrelada por Mia Wasikowska e Michael Fassbender. Na
época, gostei bastante do filme, mas não estava preparada ainda para ler o
livro, porque achei que tinha um tom mais melancólico e não era o que eu
precisava/apreciava naquele momento numa leitura. Porém, alguns poucos anos se
passaram desde então e hoje eu me sinto mais preparada para ler obras com esse
teor melancólico e também estou mais acostumada a ler Clássicos, então
simplesmente fiquei apaixonada pela leitura, que entrou para uma das minhas
favoritas da vida. E é assim que podemos concluir que é sempre melhor encontrar
o seu tempo certo de ler determinado livro. O que poderia não funcionar em um
momento de sua vida pode se encaixar perfeitamente em outro e te entregar uma
experiência maravilhosa.
Se tem algo
que eu absolutamente adoro são mulheres fortes, então livros protagonizados por
elas me enchem de felicidade e orgulho. E posso afirmar que Jane Eyre,
definitivamente é uma das protagonistas femininas mais fortes que já conheci em
minha vida de leitora. Foi realmente muito admirável vê-la lutando para ser ela
mesma, independentemente do que os outros faziam, falavam ou como gostariam que
ela agisse. E se tivesse que enfrentar o que fosse para continuar com seus
princípios e seu caráter, fazia sem nem pensar duas vezes.
Talvez por
conta de sua idade (ela tinha apenas 18 anos) e vivência até aquele momento, já
que não conhecia muito do mundo ou das pessoas, afinal viveu numa casa ruim com
gente desagradável e nociva por toda a sua infância, depois viveu quase
trancada num local convivendo apenas com mulheres (salvo uma ou outra visita de
homens ao local, mas com quem não tinha muito contato direto), Jane Eyre é
bastante ingênua e também submissa em determinados momentos. É claro que o
leitor que conhece sua personalidade forte, determinada e sincera espera que
ela só entregue comportamentos condizentes e mais rebeldes, sem abaixar a
cabeça para qualquer situação. Mas eu entendi a personagem, ainda que tenha
querido que ela fosse menos submissa algumas vezes.
Porém, é bem
difícil sermos exatamente quem queremos ser hoje em dia (isso vale para ambos
os sexos, apesar de ainda ser mais difícil para as mulheres) e isso porque
vivemos num século mais avançado e mais liberal do que o que ela viveu, então
consegui enxergá-la como quem realmente era: uma garota bem jovem, que ainda
não conhecia muito da vida, que não tinha dinheiro, família, pessoas queridas
por perto, amigos, que não tinha para onde ir, nem muito o que fazer de sua
vida, já que a sociedade restringia muito as mulheres e suas “permissões”, e
pela primeira vez em sua existência estava se sentindo bem. E ainda é dona de
uma personalidade bondosa que só quer fazer o bem ao próximo e sempre ajudar no
que puder.
Ela curtia
aquele novo ambiente, gostava das pessoas que estavam por perto, de seu
trabalho e de Adèle, de ter um teto para morar, comida para comer, fogo para se
esquentar, indivíduos com quem pudesse conversar e também alguém que fazia seu
coração ficar mais quente. E isso se repetiu novamente depois, quando ela foi
para outro lar e gostava muito da convivência com aquelas pessoas, com quem
logo construiu amizades genuínas. E Jane não queria estragar essas coisas,
então acabava abaixando a cabeça em determinados momentos, mas sem nunca perder
sua essência, seu discurso afiado ou sua personalidade adorável, sincera e
autêntica, falando o que pensava, sem se importar com as consequências, desde
criança. E foi por isso que amei a personagem.
Devo dizer
que Sr. Rochester é um personagem de quem gosto bastante, ainda que não aprove
ou concorde com todas as suas atitudes. Pelo contrário, inclusive detestei
algumas de suas falas e modo como tratava Jane. No entanto, olhando pelo ponto
de vista dele e não do de Jane (ou de uma mulher ou de alguém do século XXI),
pude entender que como um homem daquela época, como foi criado e como via
outras pessoas, além do que era esperado dele, parecia que Rochester
simplesmente não entendia e/ou não gostaria de aceitar seus sentimentos por
Jane Eyre, provavelmente por conta de sua própria condição de um homem de
posses, rico e respeitável, mas, mais do que isso, porque ele era bem mais
velho e também por tudo o que passou em sua vida. E pareceu que ele achava
difícil de acreditar que ela pudesse nutrir por ele uma reciprocidade de
sentimentos, já que não o achava bonito e era muito mais nova.
Então, pelo seu ponto de vista, ele apenas queria testá-la para descobrir a verdade já que não podia fazer isso perguntando diretamente. E graças a essa nova descoberta, ele acabou amadurecendo como pessoa e mudando algumas coisas em sua forma de pensar e também de agir, fazendo com que, no desenrolar de tudo isso, tenha se tornado alguém melhor. O que eu acho interessante nessa situação é que ele quis mudar e conseguiu, e todos sabemos que essas coisas são difíceis de acontecer, principalmente com homens de séculos anteriores, que tinham visões bem claras e fechadas em suas mentes e dificilmente evoluíam. Claro que na prática ele infelizmente pareceu grosso e fez comentários desnecessários durante o caminho, mas acredito que isso tenha apenas soado realista para a época e contexto histórico. Sem dúvidas tudo isso que comentei acima são apenas minhas opiniões pessoais, podem nem ser o que a autora tentou transmitir.
Não fui
muito fã de uma coincidência que aconteceu na obra, quando já estamos nos
aproximando do final da leitura. Acho que ficou um pouco forçado, mas entendo
que essa foi a forma que Charlotte encontrou para entregar uma felicidade mais
genuína a Jane. Eu teria mudado apenas um detalhe, mas entendo que ela tenha
feito exatamente da forma que fez.
A escrita de
Charlotte flui, surpreendentemente, de forma maravilhosa. Mal começamos a ler
seu exemplar e, quando notamos, muitas folhas já foram deixadas para trás.
Algumas pessoas têm receio de ler por conta da quantidade de páginas (são mais
de quinhentas) e por se tratar de uma trama de quase dois séculos atrás, mas
digo para mergulharem sem medo, já que a narrativa é bem desenvolvida, muito
gostosa, e traz um misto de sentimentos e sensações no leitor, que ora fica
feliz, ora triste, em alguns momentos revoltados e em outros orgulhosos, etc.
Além do
mais, dá muito orgulho de ver que uma mulher que viveu naquele período já
pensasse tantas coisas revolucionárias para a época, que buscasse a igualdade entre
sexos e quisesse/lutasse para que o papel da mulher fosse mais do que apenas o
de coadjuvante na vida dos homens. Sem medo, Brontë apresenta pensamentos
inquietantes para o contexto histórico em que vivia e nos brinda com uma
protagonista admirável, inteligente, íntegra e afiada. Além disso, as críticas
sociais nos fazem entender mais a Inglaterra daqueles anos e como as pessoas
precisavam de coisas diferentes.
Apenas dois
pontos me incomodaram muito na leitura inteira. O primeiro foi a participação
estendida de St. John. Que personagem chato! E pior é que ele ficou presente
por bastante tempo e eu não aguentava mais vê-lo abrir a boca e soltar aqueles
comentários ridículos tentando impor seus próprios desejos e o que achava ser o
correto em Jane. E isso também não soou muito humano, empático ou religioso da
parte dele e nem parecia com tudo o que ele fazia e como agia com as outras
pessoas. Eu realmente fiquei com vontade de entrar no livro e tirá-la de perto
dele e levá-la para beeeem longe o quanto antes. A pior coisa é que, com tanta
insistência em um assunto específico, ele quase, quase mesmo, fez nossa querida Eyre mudar quem era e se transformar
completamente, fazendo com que sua essência se perdesse para todo o sempre, o
que seria uma pena, já que a personagem é maravilhosa e uma das melhores que eu
já tive o prazer de conhecer. Mas que alívio senti já que tudo isso ficou
apenas no quase e pudemos continuar
vendo-a ser ela mesma!
O segundo é
que achei alguns comentários ou situações preconceituosas ou etnocêntricas,
talvez por conta de uma visão da própria Charlotte Brontë. Em uma delas Jane
Eyre fala de forma esquisita sobre Adéle ser francesa, em outra sobre as
crianças da escola em que ela ensinou, já que as considera superiores a outras
simplesmente por serem britânicas. E,
também, a mulher louca da trama e também uma nada confiável eram estrangeiras.
Sempre gosto
bastante das Notas de Rodapé encontradas nas obras da Coleção Clássicos Zahar e
dessa vez não foi diferente. Elas estão ali para nos situar em momentos,
situações, pessoas, fatos, etc. E sempre ajudam o leitor a entender passagens
que não necessariamente estavam claras, além de nos situar no momento
histórico. Algo que achei inusitado (não porque não entendo ou é estranho,
apenas por não estar esperando isso especificamente nessa obra) é que as desse
livro têm um cunho mais religioso e muitas delas (acredito que a maioria) são
referências a passagens da Bíblia ou relacionadas a esse contexto.
Na incrível
Apresentação, Antonia Pellegrino fez alguns comentários breves sobre as
adaptações da obra e afirmou que a série da BBC de 2006, com Ruth Wilson e Toby
Stephens, é a melhor e mais fiel. Depois fui em busca de outros comentários
sobre o assunto e percebi que realmente muitas pessoas preferem essa adaptação,
então já estou em busca dos episódios e pretendo assistir em breve. Depois
posso voltar para comentar sobre a experiência.
Quando
comecei a minha leitura de “Jane Eyre”, já estava com boas expectativas e
acreditava que iria gostar bastante do resultado final. Charlotte Brontë
conseguiu superar tudo o que eu esperava e transformou minha experiência em
algo ainda melhor, mais envolvente e com um enredo trabalhado de forma
excepcional.
Fico
realmente muito feliz de ter tido a oportunidade de ler essa deliciosa obra,
escrita no Século XIX, que com certeza só trouxe acréscimos à sociedade mundial
por sua existência. Recheado de reviravoltas surpreendentes e com críticas
sociais para fazer o leitor refletir, principalmente sobre o papel da mulher
(incluindo a igualdade dos sexos), conhecemos uma protagonista incrível, forte
e autêntica, que é fiel a seus princípios e transmite coisas boas ao próximo. Esse
livro acabou se transformando num dos meus favoritos da vida e espero que
muitas outras pessoas tenham a oportunidade de lê-lo e se apaixonarem tanto
quanto eu.
Avaliação
Vou ler com certeza, sempre vi ótimas críticas sobre o livro!
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