Cecilia Fitzpatrick
leva uma vida maravilhosa. Tem uma família incrível, filhas adoráveis, um ótimo
marido, ambos são bem-sucedidos em seus trabalhos, e tudo ao seu redor é
completamente organizado, assim como sua casa. Ela tem grande participação na
comunidade, no colégio das filhas, possui diversos amigos e é querida por
muitos. Sua vida social também vai bem e ela é excelente em lidar com problemas
e resolver situações.
Até que encontra
acidentalmente uma carta misteriosa deixada por seu marido para ser lida por
ela na ocasião da morte dele. Primeiramente, ela decide respeitar o pedido,
porém algo bem estranho acontece e Cecilia percebe que precisa saber o
conteúdo, por isso decide lê-la. O que ela não sabia é que encontraria ali uma
grandiosíssima confissão de John-Paul, que tem muito potencial para estragar
não apenas a vida que eles construíram até então e até a sua família, mas
também a vida de outras pessoas ao redor deles, sejam elas importantes ou quase
desconhecidas.
Em paralelo,
conhecemos Rachel, que perdeu sua filha quando esta ainda era adolescente, mais
de vinte anos atrás. Porém, a dor ainda a corrói profundamente e ela continua
enfrentando um dia após o outro com muito sofrimento, saudade e pensamentos
sobre o que a jovem poderia ter se tornado se ainda fosse viva. E também
acompanhamos Tess, que acreditava que tinha um casamento feliz, sincero e normal,
até que seu marido e sua prima, que é quase uma irmã para ela, fazem uma
confissão que pode mudar tudo.
Agora
Cecilia tem uma grande responsabilidade em suas mãos e ainda não sabe como
lidar com isso. Afinal, se optar por revelar o segredo, irá prejudicar e mudar
a vida de muitas pessoas especiais, mas se guardá-lo para si, fará com que não
consiga viver normalmente por muito mais tempo, já que a verdade está correndo
seu coração aos poucos.
No início
deste ano eu tive minha primeira experiência lendo algo dessa autora com a obra
“Pequenas Grandes Mentiras”, e gostei bastante de seu trabalho. Por conta
disso, fiquei empolgada para conhecer outros de seus títulos. E o escolhido da
vez foi “O Segredo do Meu Marido”, que eu também adorei.
Uma das
principais características da escrita de Liane é a sua capacidade de construir personagens
tão reais, cheios de problemas, pensamentos conflitantes, vivendo uma vida
inteira de coisas diferentes, nem sempre esperadas ou desejadas. Essas pessoas
poderiam ser gente que nós conhecemos, já que ninguém conhece perfeitamente o
outro, e o ser humano tem a capacidade de só mostrar o que deseja que as outras
pessoas saibam. Então somos todos multifacetados, assim como os personagens
criados por essa magnífica autora.
E ela mostra
como o ser humano é complexo! Em 99,9% das ocasiões (claro que isso não é um número
real, apenas uma estimativa de brincadeira) uma situação em que não estamos envolvidas
ou que não protagonizamos não acontece da maneira como acreditamos. Isso porque
cada ser humano é único e tem sua própria maneira de pensar e agir independente
dos demais. E muitos ainda guardam diversos segredos (ou apenas coisas que não
saem compartilhando sem motivo aparente) dentro de si, ainda que não percebam.
Acho
maravilhoso ter a oportunidade de acompanhar todos esses ângulos que ela nos
faz enxergar, nos quais podemos ver cada nuance diferente que uma situação
apresenta, ainda que os envolvidos tenham uma percepção daquele momento, que, é
claro, é diferente dos demais. Ou seja, como somos apenas observadores daquela
trama que está sendo contada, podemos entender o os pensamentos e o que se
passa dentro de cada personagem envolvido, assim como suas ações. Então
conseguimos perceber que alguns acreditam firmemente saberem a verdade sobre
outra pessoa ou algo, mas nós (e a pessoa de fato) sabem que aquilo não é bem
assim.
Como deu
para notar, esse enredo também é muito reflexivo. Não há como ler essa obra sem
imaginar o que você poderia fazer em situações semelhantes. E também sempre
começamos a questionar o que é certo e o que é errado. Será que a vida é tão
preto no branco como em diversas ocasiões pensamos e agimos sem nem perceber?
Ou será que sempre há uma pequena nuance que, se pararmos para analisar, ou se
simplesmente vivenciarmos aquilo, poderemos notar que não era de fato como
julgamos a princípio?
O segredo do
título não é algo assim tão surpreendente porque a gente já consegue imaginar
desde o começo da leitura. Antes de ler não achei que fosse algo evidente, mas
dava para saber que esse era o caminho que a autora iria seguir, ainda que não
desse para entender os motivos por trás das ações de John-Paul. Confesso que em
um momento até pensei que ela iria optar por algo diferente, mas não.
A narrativa
é em terceira pessoa e acompanha três personagens principais e suas
perspectivas e vidas. A mais importante acaba sendo Cecilia, já que o núcleo de
sua família deu origem ao título e o tal segredo pode mudar a vida de outras
pessoas. Mas também vamos conhecer intimamente Tess e Rachel, o que sentem,
como vivem. Confesso que achei algumas características de duas delas (Cecilia e
Tess) bem semelhantes com algumas das personagens de “Pequenas Grandes Mentiras”.
Uma coisa
que detestei foram os comentários gordofóbicos de Tess em relação a prima,
Felicity. Em diversos momentos pensei que ela iria se consertar ou dizer que
mudou os pensamentos ridículos, mas isso nunca aconteceu. Detesto qualquer tipo
de preconceito e, por isso, me senti muito incomodada mesmo com tudo isso.
Se fosse um
tempo atrás, eu diria que a reviravolta que o livro traz poderia ser
considerada como algo um pouco forçado para trazer um resultado “ideal” para o
segredo de John-Paul. Mas os tempos mudam e nossa percepção pela vida também,
assim como nossas crenças. Hoje eu digo que acredito que algo assim poderia sim
ocorrer na vida real, já que acredito que o universo tem sua própria forma de
fazer as coisas “entrarem em equilíbrio”, mesmo que demore. O que eu quero
dizer com isso é que coisas boas vão trazer bons resultados futuramente, assim
como coisas ruins também geram consequências ruins no futuro.
Só o final
que foi um pouco sem graça. Particularmente, queria algumas respostas, já que
certas coisas ficaram no ar e eu queria mais um pouquinho de detalhes. Mas algo
que gostei bastante foi do epílogo maravilhoso que ela nos presenteou para,
mais uma vez, nos fazer refletir (e também nos “acalmar” a respeito da falta de
respostas) sobre diversos pontos, inclusive que nunca devemos pensar no que
aconteceria se as coisas fossem diferentes. Achei isso simplesmente incrível mesmo.
“Nenhum de nós conhece todos os possíveis
cursos que nossas vidas poderiam ter tomado. E provavelmente é melhor assim.
Alguns segredos devem ficar guardados para sempre. Pergunte a Pandora.”
“O Segredo
do Meu Marido” traz Liane Moriarty em ótima forma. Com personagens maravilhosos
e bem construídos, uma trama envolvente, reflexiva e com reviravoltas
arrebatadoras, você vai mergulhar nas páginas sem intenção de voltar à
superfície até finalizar a leitura. Recomendadíssimo!
Avaliação
Seu site é ótimo...
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