De vez em quando não faço ideia
do que ler e eu simplesmente peço ao meu namorado para passear pelas minhas
estantes e escolher um livro que chame sua atenção, foi assim que meio sem ter
certeza li Firmin, do autor Sam Savage, publicado pela editora Planeta.
Nos anos 50 na cidade de Boston
em um porão de um livraria nasce um pequeno ratinho, em meio aos livros ele não
só se alimenta de suas páginas para encher sua barriga, quanto desenvolve um
amor incondicional pela leitura, de tudo e qualquer assunto. Buscando um lugar
no mundo entre o livreiro e o escritor já que sua família o renegou, ele se
torna mais humano e menos rato, sem se dar muita conta das mudanças que o mundo
sofre ao seu redor.
Ao ler a sinopse do livro e saber
que o livro trabalhava a vida deste pequeno ratinho eu honestamente acreditava
que a narrativa teria um tom infantil, mas a narrativa em primeira pessoa de
Savage em nada lembra um livro infantil, menos ainda infanto-juvenil. De forma
fluída, mas repleta de pensamentos profundos gerados pelas inúmeras leituras de
Firmin, suas palavras são repletas de visões sobre a Boston da década de 50 em
um bairro decadente, ao mesmo tempo em que desenvolve aos poucos através da
observação e o que aprendeu com os livros, uma personalidade mais humana do que
os personagens humanos da trama.
Firmin tem uma personalidade
muito ingênua, e uma visão limitada da realidade. Seu maior desejo por boa
parte da vida é ser amigo do livreiro, ajudá-lo com os clientes, já que ele
acaba sozinho depois que sua família parte para vida. Mas ele não consegue
compreender a visão humana para com os ratos, até o fim ele não compreende o
asco que humanos sentem por estes animais. Mesmo assim ele consegue estabelecer
um relação com um escritor, e por um breve tempo se realiza.
O livro tem um tom depressivo,
primeiro pelo local (Rialto) que a estória se passa que aos poucos está
sofrendo uma reurbanização, depois porque a solidão e uma depressão são
constantes em Firmin que além da vida problemática e cheia de infortúnios que
leva também se vê como um indivíduo feio e fora da sociedade dos ratos, como o
rato mais desproporcional que conheceu.
São inúmeros os livros e autores
citados já que o ratinho utiliza estes livros em seu discurso o tempo todo. E
de forma muito inusitada alguns destes livros são do autor que ele faz amizade,
digo inusitada porque a temática destes livros foge ao esperado, ambos falam
sobre extraterrestres, e em um deles estes ets usariam corpos de ratos para
fazer contato na terra. Parece não fazer conexão com o restante da estória, mas
acreditem tudo é muito bem aplanado.
O desfecho é triste, ao mesmo
tempo em que desperta identificação em leitores que como Firmin não conseguem
imaginar um mundo sem os livros. Gostaria que tivesse sido diferente, mas ele
foi realista, foi honesto, e não fantasioso, outro motivo para que se afaste
radicalmente de narrativas infantis, que não nos consola, e nos joga na
angústia.
Firmin é uma pequena perola que
deve estar em todas as estantes e que deve ser visitado esporadicamente, já que
explora através de alegorias diversas questões de homens e porque não ratos? É
poético, é único e apaixonante desde suas primeiras páginas! Quando nada lhe
apetecer em sua estante, Firmin certamente o fará!
Avaliação
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