A Sereia – Kiera Cass

Kahlen vivenciou um naufrágio, no qual viu todos os tripulantes do navio se afogarem, mas, contra todas as probabilidades, ela sobreviveu. Mas não de forma normal. A Água, que é uma entidade, lhe deu uma nova chance de viver, só que ela teria que lhe servir pelos próximos cem anos como uma sereia. Ou seja, sua vida até aquele momento acabou e ela foi considerada morta, mas ganhou a juventude e a beleza e um quê de imortalidade (não pode morrer, ficar doente ou mudar com os anos) por aquele período de tempo.
Porém, tudo vem com um preço e, em troca de sua nova vida, que é normal, como as de outras pessoas, só que sem poder falar e com a juventude e a quase imortalidade, e de tudo de bom que vem com ela, a garota precisará cantar para navios, pois sua voz atrairá as pessoas e as conduzirá à morte, pois seus afogamentos são os únicos capazes de alimentar a Água e ela poder continuar servindo os seres humanos que estão vivos ainda. Ou seja, é a troca de centenas de pessoas por bilhões que necessitam de água para viver.
Kahlen sempre foi uma menina certinha e fazia tudo o necessário para cumprir suas obrigações, por mais que sentisse o peso da morte e ficava ainda mais retraída e deprimida a cada vez que cantava. Até que conhece o bondoso Akinli, que viu nela mais do que a aparência estonteante e o fato de ela não poder usar sua voz para falar com ele (pois isso resultaria na morte do garoto), e os sentimentos entre eles ganham tamanha intensidade que nada mais importa.
Só que nossa protagonista não pode ficar com ele, já que entre as poucas regras impostas pela Água, esta é uma das mais importantes. Mas, talvez, nem Kahlen nem Akinli tenham controle sobre o que sentem e a força disso poderá destruí-los completamente.
Desde a primeira vez que a Editora Seguinte anunciou o lançamento deste livro, estava bastante empolgada para ler, afinal sou fã da autora, então fiquei contando os dias para tê-lo em mãos. Quando a fofa da Diana, que cuida das parcerias com a editora, enviou um e-mail oferecendo provas para os primeiros a responderem, logo saí respondendo e, por sorte (eu nunca estou online nestes momentos!), eu consegui ser uma das contempladas. Assim que ele chegou, fui correndo ler, cheia de expectativas, mas, infelizmente, elas foram por água abaixo.
O que acontece é que Kiera soube construir muito bem sua mitologia de sereias, nos explicando tudo certinho, e de um jeito que não fica chato, apenas interessante. Confesso que acho que poderia ter tido mais detalhes, ou um aprofundamento em certas situações, mas entendo que ela tenha escolhido optar por algo mais simples e não acho que isso tenha sido ruim.
Porém, acho que faltou algo mais nas outras áreas da história. Por exemplo, a protagonista, Kahlen, é uma moça boa, que apesar de não ser mais totalmente humana, tem muita humanidade e sentimentos dentro de si, vivendo e sentindo muito intensamente algumas das situações que presencia. Eu não posso dizer que não tenha gostado dela, nem que não tenha torcido por seu final feliz, mas também não consigo afirmar que a adorei ou que ela será de alguma forma marcante para mim.
Outra coisa que me incomodou nela foi a grande imaturidade da protagonista. No primeiro capítulo a conhecemos brevemente antes de ela se tornar sereia e como foi a transformação, e no próximo capítulo já se passaram oitenta anos e vamos acompanhá-la agora, ainda com a aparência de uma jovem, belíssima e letal, mas parece que aquele tempo não aconteceu de fato. Kahlen tem um estilo mais intelectual, não gosta de baladas, nem de sair, nem de ter contatos com seres humanos normais, gosta de ler e ficar na dela, dentro de casa, e foi assim que viveu por todas aquelas décadas, mas continua tendo uma personalidade bem juvenil e romântica, que não condizem com tudo o que viveu. Teria me convencido mais se ela tivesse vivido como uma jovem inconsequente a vida inteira e que só agora quisesse amadurecer.
E, com sinceridade, não gostei nem um pouco do relacionamento amoroso desta história. Claro que dá para entender que Cass quis usar o recurso de almas gêmeas, daquele tipo que um olha para o outro e é amor porque não existe mais ninguém no mundo que poderia ser literalmente perfeito para a outra pessoa, mas isso não me convence. Eu aceitaria toda a grandiosidade deste sentimento se eu visse eles se apaixonando de verdade, se sentisse junto com eles, até mesmo se passassem mais tempo juntos (não digo em dias, meses ou anos, mas, sim, palavras, frases e parágrafos), mas não é isso que acontece. Eles mal se falam (ela tem que ser muda na frente de pessoas normais), não tem assuntos tão variados ou importantes, se encontram muito, muito, muito pouco, e passam apenas um dia realmente juntos, mas que também não foi tão mostrado assim. E, mesmo assim, suas vidas mudam completamente, fazendo com que algo quase impossível de acontecer ocorra, de tão grande a necessidade que um tem do outro, a ponto de poderem morrer por conta da distância.
E aí vem outro ponto que me incomodou, tudo aquilo que lemos até aquele momento, todos os sentimentos, aflições, coisas importantes que Kahlen tanto viveu, comentou, reclamou, amargurou, guardou, etc., vai embora. Nada mais tem importância a não ser Akinli. Isso poderia ser normal se as coisas ao redor continuassem a acontecer também, afinal paixão às vezes cega as pessoas, mas, não. Tudo realmente foi esquecido e passou a girar em torno do seu amor por ele e da necessidade que um passou a ter pelo outro. E também foi tudo muito rápido, o ritmo estava seguindo uma constante, mas de repente muita coisa acontece, explicações são raras, e depois acaba.
Posso até dizer que conheci Kahlen até certo momento da leitura, mas não posso dizer nada disso a respeito de Akinli. Sei que ele não é o protagonista e ela sim, porém, pela importância que ele adquire, esperava conhecê-lo mais. Se existisse um jogo de adivinhações e me falassem características dele para eu acertar que era deste personagem que se tratava, eu não iria ganhar este jogo. Pelo menos adorei as outras sereias, irmãs de Kahlen, Miaka, Elizabeth, Aisling e Padma, elas são divertidas, leais, amigas, que sabem balancear os momentos bons com os ruins (a protagonista não sabe, ela é depressiva, acho inclusive que só teve raros momentos de felicidade – só com Akinli, ou seja, depois da metade para o final do livro).
E a Água (que é viva como um tipo de deus), é uma personagem que desperta sentimentos conflitantes, tanto nos demais personagens quanto nos leitores, afinal ela é vilã, com tudo de ruim que faz as sereias sentirem, mas também é uma vítima, porque não poderia sobreviver sem isso, e ela obriga ao mesmo tempo em que protege, ajuda e ainda tem o poder de acabar com tudo. Foi interessante ver como a autora construiu e utilizou esta entidade na trama, pois ficou coerente e até mesmo aceitável sua existência desta forma.
Mesmo enfatizando os pontos que me incomodaram na leitura, avaliando de maneira geral eu a achei mediana, visto que não fiquei com vontade de abandoná-la e li até o fim. Penso que poderia ser melhor, mas é interessante e gostei de passar aqueles momentos com o livro em mãos, mergulhando em suas páginas.
A escrita de Cass é muito, muito gostosa e envolvente. Quando abri meu exemplar e comecei a ler, logo embarquei nesta trama que ela construiu e me via virando as páginas rapidamente, até que pareceu tudo mais do mesmo, sem algo realmente emocionante ocorrendo, então meu interesse foi decaindo, assim como meu ritmo de leitura, que depois de um tempo acabou sendo arrastado.
Para quem não sabe ou não prestou atenção no nome da escritora, Kiera Cass é autora da série “A Seleção”, que também chegou ao Brasil pela Editora Seguinte, e fez muito sucesso, tanto lá fora quando por aqui, e eu a adoro. Tem resenha dos quatro primeiros volumes aqui no blog, “A Seleção”, “A Elite”, “A Escolha” e “A Herdeira”, além do livro de contos, “Contos da Seleção” (clique nos títulos para conferir as resenhas). Dos já publicados, tanto no exterior quanto em território nacional, só falta eu ler "Felizes para Sempre", que também é um exemplar de contos, mas é uma das próximas leituras e em breve terá resenha por aqui também. "The Crown", último volume da série, tem previsão de lançamento mundial em maio deste ano e não vejo a hora de conhecer o desfecho.
Uma curiosidade é que este livro havia sido escrito em 2009 e publicado de forma independente. Mas esta aqui é uma nova edição, com o conteúdo um pouco modificado, pois teve a supervisão dos editores de Kiera, e está sendo publicada com lançamento oficial hoje, vinte e seis de janeiro de 2016 (sim, por isso publiquei a resenha nesta data!). E, diferente de seus trabalhos anteriores – a série “A Seleção” – este é um volume único.
A edição que eu tenho em mãos, como comentei lá no início da resenha, é uma prova, ou seja, não posso dar detalhes certeiros de como ficará a versão impressa final, mas já deu para ter uma ideia da diagramação, que eu acredito que irá se manter assim, com uma ilustração de concha no início de cada capítulo, texto bem espaçado e com fonte em tamanho confortável para leitura. A capa é muito bonita e é uma adaptação da original para nosso idioma.
De maneira geral, posso dizer que “A Sereia” é uma obra gostosa e envolvente, mas faltou profundidade. Por ter sido reescrita e reeditada, depois de ter tido a experiência de escrever vários títulos de sucesso, realmente esperava mais do que algo mediano. Vale a pena para os fãs da autora conhecerem esta sua outra faceta, tão diferente da série “A Seleção”, só peço para não darem um mergulho muito fundo para não se decepcionarem também.
Avaliação



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4 comentários:

  1. Ooii, tudo certo? Comigo está tudo bem. Parabéns à vocês pela resenha, e parabéns a autora Kiera Kass pelo livro. Ainda não tive oportunidade de lê-lo, mas como é da Kiera, tenho certeza que vai ser uma ótima leitura!
    Além dessa capa maravilhosa (fiquei apaixonada só de olhar) a sinopse também é muito linda. Muito sucesso à vocês!
    Beijos.
    Gostaria também de participar do sorteio. Email:alinemkomohl@gmail.com

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  2. Ooii, tudo certo? Comigo está tudo bem. Parabéns à vocês pela resenha, e parabéns a autora Kiera Kass pelo livro. Ainda não tive oportunidade de lê-lo, mas como é da Kiera, tenho certeza que vai ser uma ótima leitura!
    Além dessa capa maravilhosa (fiquei apaixonada só de olhar) a sinopse também é muito linda. Muito sucesso à vocês!
    Beijos.
    Gostaria também de participar do sorteio. Email:alinemkomohl@gmail.com

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  3. Kiera Cass é uma ótima autora, uma pena que você não gostou tanto assim deste livro, mas pelos seus comentários acho que vou acabar sentindo a mesma coisa, sabia? Mas fiquei curiosa quanto a mitologia, como assim a água sendo uma entidade? Eu quero ver como isso ficou e acho a leitura válida.

    juba.jujunascimento@gmail.com

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  4. Olá, Talitha!

    Eu acho que a Kiara não quis modificar tanto o texto de A Sereia mesmo com ajuda dos editores, e isso nem é por preguiça e sim porque temia desandar e mudar a trama a ponto de ficar muito diferente da versão que foi publicada originalmente.
    Sei que agora muitos autores relançam os livros que foram publicados de forma independente nas editoras em que agora são publicados, como o caso da Juliana Parrini e da Nana Pauvolih, e mesmo com as modificações no texto, há ainda leitores que temem mudanças demais numa trama que ele já conhece ou que acha que não precisa comprar, pois já leu a versão independente e acha que conhece tudo da história. Mas acho que a Kiera temeu esse primeiro tipo de leitor que falei. Mas, fã que é fã de autor de verdade não teme isso e lê a nova versão numa boa.
    Só penso se Karlen não pensou em escrever para o Akilin, pois esse é um furo enorme que só agora perceberam em A pequena sereia (tanto o conto quanto o filme da Disney), trama que deve ter sido a inspiração de A Sereia, e que espero que a Kiera tenha resolvido, porque se você não pode dizer "Eu te amo!", pode escrever uma carta de amor.
    Ah, achei a Água como personagem algo muito parecido com o comportamento de alguns monstros e aliens em Doctor Who, em que tem que matar parte dos homens, ou controla-los para garantir a sobrevivência, só que fazendo isso no silêncio, para que não sejam atacados. Só que aqui a água tem função de proteção, que é paga com essas mortes. Espero que no final tenham achado uma saída a la Doctor Who para ela poder deixar o amor acontecer.

    Um abraço!

    @letiolive (Meu contato no Twitter e no Instagram)

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