Horizonte Vertical - Ana Beatriz Barbosa Silva e Andréa Duarte

Sabe-se lá porque eu as vezes crio na minha mente como um livro irá ser, as vezes é simplesmente a ideia de que será bom ou ruim, outras vezes que será fácil ou difícil. O fato é que raramente esses pensamentos dão certo, salvo quando são de autores já conhecidos. Horizonte Vertical, das autoras brasileiras Ana Beatriz Barbosa Silva e Andréa Duarte, publicado pela Globo Livros, tinha uma carinha de livro que não ia ser rápido de ler, mas no fim ele só tinha a carinha, porque a complexidade não existiu!

Sophia é uma jovem médica que tem um passado repleto de mistérios. O segredo não é apenas dela mas de algumas gerações de sua família que tem origem indígena, e o segredo ainda não se relaciona apenas com ela em si, mas com o mundo que está passando por transformações, onde ela tem um papel fundamental no que esta por vir. Mas para entender o futuro é preciso resgatar o passado, e conhecer sua própria história que fico perdida em sua própria mente.

Volta e meia acontece, e acho que não fazem tantas resenhas assim de eu reclamar de sinopses né? Pois é, eis eu aqui novamente reclamando dela novamente. Eu criei uma sinopse dentro do que eu acredito ser o ponto mais importante, mas se você ler a sinopse que está no livro ela promete muito mais do que de fato vai entregar. Isso porque o tema transição planetária é abordado juntamente com o xamanismo, e são temas que tenho familiaridade, logo não consegui aceitar qualquer coisa que foi dita.

Mas vamos por partes, primeiro ponto que me incomodou muito no livro foi a linha do tempo, não é linear, e até ai tudo bem, mas perdemos muito tempo no passado sem grandes informações, para depois dar um grande salto no tempo que acaba desenvolvendo a estória de forma corrida em relação as demais partes. Isso porque a estória da avó de Sophia é contada, assim como de sua mãe. E eu estava gostando até que tudo ficou muito prolixo sem chegar a local algum!

Quando o livro se estabelece no futuro, 2028, já estava cansada de nadar e não chegar a local algum, sem compreender o que de fato era o enredo da trama. Juntamente a linha do tempo de Sophia e família, temos também a linha do tempo de um pesquisador inglês Peter Foley que se embrenha na serra do roncador em busca de uma civilização perdida que habitaria o interior da Terra.

A ideia de utilizar a transição planetária é ótima, assim como também de explorar esta civilização que habitaria a Terra, mas tudo morreu na praia, porque as autoras não souberam o que desenvolver. O xamanismo também aparece já que a avó de Sophia é índia, mas ficou evidente que as autoras sabiam muito pouco sobre o assunto, pelo menos no que é mostrado no livro. Agora quando a narrativa citava conceitos da medicina elas como médicas detalhavam tudo minuciosamente.

Houve pesquisa no livro, mas estes dados não se amarraram. É uma ficção então não tem teoricamente compromisso com a verdade, e poderia criar qualquer coisa dentro dos temas, mas o livro ficou entre um realismo (no estilo Dan Brown) e uma fantasia, sem definir por onde caminhar. É possível dividir o livro em duas partes distintas, do passado e futuro, onde ambas se propõe a estilos diferentes de gênero.

Um erro muito impactante é encontrado nas primeiras páginas do livro, onde Fowley está de partida em sua expedição. A narração se perde nos tempos verbais, e fiquei com medo que o resto do livro também fosse assim. Ainda bem não foi, e a narrativa feita em terceira pessoa teve um ritmo adequado.
Sophia não é uma personagem que desperte empatia, e infelizmente não posso dizer muito a seu respeito sem dar spoilers. Como a trama não tem grandes acontecimentos não me arrisco a dizer mais do que ela é chatinha, sua avó é muito mais interessante e rica em sua construção do que ela.

Ana, a avó de Sophia é uma índia que saiu de sua tribo para morar em uma cidade, mas que levou consigo conhecimento para cura através das plantas. É um pouco passiva demais, mas é forte como uma onça pintada, e resiste aos tombos da vida. Sua filha Luzia não tem grande participação, mas deveria ter tido mais espaço porque tinha um dom de cura muito especial que poderia ter seu potencial trabalhado. Ela morre durante o parto de Sophia, então a conhecemos apenas no passado.

O pai de Sophia é terrível, morre sem pagar pelos seus erros, e isso não foi muito agradável de acompanhar. Seu maior erro foi um pouco difícil de engolir, e pediu um pouco de força de quem lê para aceitar. André um mestiço que tem uma relação muito próxima de Sophia, mas por este ato do pai da moça acaba por não vê-la mais.

Zion é um personagem que só surge no futuro, e é muito estranho e enigmático. Se diz guardião de Sophia, e não conhecemos nada sobre sua própria estória, é o tipo personagem que soa forçado e que a moça se envolve sem muito questionamento!

Horizonte Vertical teria muitos caminhos para caminhar, e infelizmente se perdeu em sua trama. Poderia transmitir conhecimento além de entreter, mas não conseguiu. Uma pena porque faltam livros que se propõe a trabalhar com temas tão importantes, mesmo que através da ficção.

Avaliação








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