Nem sempre
ao terminar um livro sou capaz de dizer se este é uma obra boa, as vezes saiu
com a sensação de que preciso 'ruminar' um pouco suas páginas para chegar a
alguma conclusão. Entretanto só de um livro ter este efeito já é algo digno de
leitura, e A Assombração da Casa da Colina, da autora Shirley Jackson,
publicado pela Suma de Letras é um caso assim.
Dr.Montague
é um pesquisador de fenômenos paranormais, e para sua nova pesquisa ele
convidou diversas pessoas que tenham histórico sobrenatural para passarem
alguns dias com o mesmo em uma mansão assombrada. Apenas duas pessoas respondem
ao seu pedido, e a família dona da mansão exige a presença de um integrante de
sua família. Assim se forma um grupo de quatro pessoas que irão investigar o
que se esconde nas paredes desta velha mansão, a Casa da Colina.
Jackson nos
convida através de sua sinopse a um livro de fantasmas e suspense, mas sua
narrativa realizada em terceira pessoa com especial foco em Eleonor e na casa
em si não acaba cumprindo sua promessa inicial, já que senti que o livro se
foca mais na loucura e na culpa do que em fantasmas propriamente ditos.
Theodora é
um mulher de personalidade muito forte que fala o que vem a sua mente sem se
importar em machucar quem a cerca. Tem necessidade de se mostrar independente e
forte, mesmo quando está evidentemente com medo prefere sorrir, e fingir
controle do que assumir seu estado. Tem uma relação de amor e ódio com Eleonor,
na verdade ela morre de ciúmes da outra jovem, e fica entre ser amiga da mesma,
e a diminuir.
Eleonor é
uma jovem perturbada, acompanhamos a personagem desde o instante em que sai de
casa até chegar a casa da colina, e o suspense envolvendo seu passado é
constante. Desde o inicio sabemos que ela perdeu a mãe, mas as circunstâncias
são desconhecidas, mas uma culpa é recorrente em seu discurso. Ela tem
pensamentos recorrentes com medo de soar boba ou fraca para as pessoas da casa,
e não sabe como agir em sociedade. Ela vai aos poucos se descobrindo sem a
sombra da mãe, infelizmente para ela, ela se descobre inadequada a sociedade da
época.
Luke é o
futuro herdeiro da casa, e não parece acreditar que a mesma tenha algum tipo de
espírito. É espirituoso e não desperta interesse das jovens como poderia ser
esperado. A verdade é que seu personagem é um pouco perdido e pouco explorado,
pois quase nada sabemos sobre ele.
Montague é
quem reúne todos, e acredita ter controle de tudo que acontece. Quando as
poucas coisas estranhas acontecem ele parece estar diante de qualquer evento
ordinário, e isso soou um pouco sem graça, já que ele estava lá para isso. O
grupo assim como ele parece todo tempo ocioso, sem ter o que fazer ou dizer.
Por isso o caminho para loucura acaba aberto rapidamente. Na reta final do
livro a esposa de Montague e um amigo surgem na casa, mas ambos são riquinhos e
muito chatos, e sabe-se lá tudo acontece diferente na experiência deles na
casa.
Os diálogos
dos personagens parecem começar como qualquer outra conversa, e de repente a
lógica se perde, e os personagens caem ou na brincadeira ou na loucura. As
cenas também não seguem o tempo comum, de repente a ação muda e você tem que se
relocar. O desfecho é inesperado, e não posso afirmar com toda certeza se minha
conclusão foi certa. Algumas coisas não ficam ditas, tenho cá minhas teorias.
E depois
dessas explicações todas eu digo leia e venha me dizer o que achou, porque esse
é o tipo de livro que precisa ser discutido e pensando, e que provavelmente
pode despertar opiniões variadas em cada leitor. Não foi feito para ser fácil
ou direto, propõe mais do que narrar uma estória.
A
Assombração da Casa da Colina não é um livro que desperta medo, e nem têm
nossos queridos fantasmas como são conhecidos, mas descortina com riqueza a
loucura que nasce diante do isolamento e o iminente acontecimento de suspense
que pode surgir a qualquer momento. Não é um livro para todos, embora se
proponha a um tema acessível, tem uma narrativa para quem quer mais do que
fantasmas.
Avaliação
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