Cenas Londrinas - Virginia Woolf

Já faz alguns anos que gostaria de ler alguma obra da autora Virginia Woolf, não pelo motivo que a maioria das mulheres lê, simplesmente porque acho relevante conhecer autores que são reconhecidos como bons. E desde então eu nunca soube por onde começar até que soube da existência de Cenas Londrinas, publicado por aqui pela Editora José Olympio. Depois da minha visita a Londres virou uma obsessão ler coisas sobre o lugar, então quando a Saraiva fez a promoção do dia das mulheres não dúvida quanto a sua compra!

O livro é composto por seis crônicas, sendo que todas elas foram publicadas originalmente a cada dois meses na revista Good Housekeeping a partir de dezembro de 1931 e durante o ano de 1932. Encomendadas pela revista todos os textos têm como proposta falar sobre Londres, sendo Woolf uma londrina amante da cidade não poderiam ter encontrado melhor autora para tanto.

Os cinco primeiros textos não são ficcionais, narrados em primeira pessoa narram diversos aspectos do dia a dia da cidade de Londres da época, enquanto que o último texto adicionado é uma ficção que mesmo assim soa muito realista sobre como a cidade funciona, este já narrado em terceira pessoa. O livro conta ainda com uma breve introdução feita por Ivo Barroso que fala brevemente sobre a vida da autora, além de alguns detalhes sobre cada crônica.

Segundo Barroso este livro apresenta um aspecto diferenciado da escrita da autora, que muito se diferencia de suas demais obras. Como não li outra obra da autora não posso fazer este paralelo, o que posso dizer é que em seus escritos Virginia é bastante descritiva ao mesmo tempo em que se utiliza de metáforas e visões poéticas do que vê. Esta junção de aspectos nos permite ter uma noção bastante precisa de como era a Londres da época não só do ponto de vista físico mas comportamental.

A Inglaterra do início do século XX é marcada pela presença da aristocracia,  em um local que foi por séculos dominado pela monarquia e todas as camadas de títulos que ela distribuía, acabou por sofrer com a vinda de empresários que mais se focavam em comércio e menos em tradição.  As palavras de Woolf nos permitem ter uma pouco desta visão.

Quanto a cada cena em si nenhuma delas chega a ser muito longa (a maior têm 14 páginas), o livro em si tem apenas 94 páginas. Mesmo assim nenhum deles se perde ao que propõe, ela é bastante objetiva em sua narrativa. A primeira cena é focada nas docas, como todo o trabalho se desenvolve ao longo do rio Tâmisa, desde o que é transportado e vendido, até como são as pessoas que por lá circulam. A autora criou este texto em cima de uma viagem de barco que realizou no rio.

A segunda cena é a Maré de Oxford Street, uma das mais interessantes, especialmente para quem já esteve lá, já que ela descreve como o local era na época, o que mudou em todos estes anos é a tecnologia, mas a rua continua sendo um local não chique de compras. Não consigo pensar em um lugar paralelo aqui no Brasil, já que esta rua é larga e têm lojas grandes e de diversos segmentos. Woolf nos relata quanto era um local mal visto pelos ricos que preferiam os arredores da Bond Street.

Casas de Grandes Homens é a terceira cena, e se foca em detalhar como era uma casa no século XVIII, como exempo se foca na casa do autor Thomas Carlyle e sua esposa, dando grande ênfase ao fato de não haver água encanada e quanto isto acabou por influenciar Carlyle. Hampstead também é um bairro citado. Tive oportunidade de estar nesta bairro, pois é onde está o Museu de Freud, local onde ele morou e faleceu, e posso afirmar que é um bairro muito simpático da cidade!
Na quarta cena Abadias e Catedrais, Woolf explora um pouco das Igrejas da cidade, e nos trás a realidade de pessoas que hoje são desconhecidas têm túmulos que são maiores do que moradias de pessoas vivas atuais. St. Paul e a Abadia de Westminster são as principais citadas, e ambas são muito impactantes de se ver.

Esta é a Câmara dos Comuns é o texto mais sem graça, já que se foca no interior e alguns outros aspectos deste local composta ao que seria equivalente aos deputados aqui. Lá também existe a câmara dos lordes.

Por fim a sexta cena, Retratos de uma Londrina é uma narrativa ficcional que conta a estória de Mrs. Crowe, uma senhora que passou anos a fio em sua casa, recebendo diversas pessoas para tomar chá e saber das fofocas da cidade. Ela em sua casa sabia e era mais bem informada do que as pessoas que circulavam pela cidade. Sua proposta era retratar uma mulher típica inglesa de classe média. É de longe o texto que mais me agradou, mesmo que com uma posposta simples consegue nos transportar para o dia a dia desta senhora que vive de forma modesta a grandiosidade desta cidade!

Cenas Londrinas é um livro ótimo para quem esteve ou quer estar na cidade já que retrata locais que necessitam ser visto para darem vida a cada texto, sem ser um guia. E do ponto de vista da escrita é uma obra muito válida para conhecer melhor a autora e também o comportamento social inglês. Além de ser uma visão repleta de sentimento de ninguém menos que Virginia Woolf, alguém que amava Londres, assim como eu descobrir amar!


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