Se eu pudesse dar uma dica aos
autores de fantasia, sejam eles nacionais ou internacionais, seria não cite
Tolkien, não deixem que o citem no prefácio, pois isso pode se voltar contra
você, já que ele é o mestre, e tudo depois dele tem que ser muito bom, para ser
apenas bom rs! Dicas a parte, a fantasia que acabei de terminar foi Cheiro de
Tempestade, primeiro volume da série O Mundo de Quatuorian, escrito pela
brasileira Cristina Pezel, e publicado pela Editora Mundo Uno.
Teriva nascia enquanto em uma
arena de batalha seu pai morria, a morte deste marcou o início da ascensão do
mal em uma terra onde a paz e o equilíbrio reinava. Aos poucos o menino se
torna um adolescente, e seus poderes desabrocham, ao lado de outros jovens,
eles parecem fazer parte de uma profecia que vai se realizar em tempo sombrios.
Se eu disser a vocês que o livro
não tem uma sinopse em sua edição vocês acreditam? Criei a minha a partir de um
ponto da trama que achei principal, mas na sua aba as informações não trazem
uma sinopse propriamente dita, menos ainda na parte traseiro do livro. E devo
acrescentar que foi um pouco complicado de fazê-la porque o livro é bem confuso.
E quando digo confuso não me
refiro a palavras usadas ou quanto ao conteúdo trabalhado (é uma fantasia, e se
atem a isso), mas sim a escolha de fatos narrada e sua ordem. Inicialmente eu
achava que nosso protagonista seria Teriva de Khor, que desde o início do livro
tem sua estória contada a partir da morte do pai. Mas junta-se a ele a estória
do vilão, Vorten Mibos que está criando um plano que sabe-se lá qual para algo
que deduzimos ser acabar com a paz, já que ele nunca fica muito claro, apenas o
que sabemos é que ele é mal e não tem escrúpulos para alcançar o que deseja.
Gostaria de saber suas motivações, porque ele é como é ou porque deseja o mal
de todos.
Durante dois terços do livro
segue-se estes dois pontos da estória, tendo como codjuvante dois amigos de
Teriva, Vinich de Gharn e Julenis. Nenhum destes tem suas personalidades
aprofundadas. Os capítulos passam os anos de desenvolvimento destes, passando
por seus estudos e rituais de transição, mas sem se focar ou aprofundar em
nada.
Em determinado momento eles
entram em uma escola para aprimorar seus poderes, e aí o livro ganha um ar
infanto-juvenil que acaba reforçado pelas ilustrações de personagens que surgem
pelo livro (as ilustrações são legais devo dizer). Mas nada de aprofundado, não
acompanhamos o dia a dia, é tudo passageiro.
E na reta final do livro
'conhecemos' o plano de Vorten, na verdade mais sabemos do resultado dele, do
que de fato o conhecemos. E aí Teriva que passou páginas e mais páginas
mostrando sua vida termina onde? No nada! Sim não há um desfecho para o personagem
que eu acreditava ser um ponto importante, se eu disser a vocês onde ele
termina o livro você não terá spoiler algum!
E depois de tantos parágrafos
tentando me fazer clara talvez você me pergunte, afinal o que a estória quer
contar? A impressão que eu tenho é que a autora tinha em mente uma estória, mas
não um mundo, e inspirada em O Senhor dos Anéis (que é citado no prefácio como
obra similar ao que a autora pretende, e por favor esqueçam isso!) quis criar
um mundo novo, mas morreu na praia. Porque criar um mundo requer literalmente a
criação dele, como se o escritor brincasse e deus, e se esmerasse em todos os
detalhes. E quando um mundo é criado e apresentado a outra pessoa você deve se
ater a apresentá-lo.
A figura de Deus não nos é
apresentada, menos ainda como a crença no mesmo se dá. Sabemos que existe uma
profecia, mas ela nunca é explicada direito, e apenas migalhas são jogadas ao
chão. A estrutura de mundo é apenas dita, existe isso, aquilo e pronto. Não
sabemos que classes de seres existem, e assim quem esperar esbarrar. Os poderes
que os humanos têm também tem nomes mas não são explorados.
Outro ponto que me incomodou
muito é que os personagens tem poderes, alguns deles surgem como novos em
determinado ponto, e temos que engolir. Acho que ela poderia ter mostrado estes
poderes acontecendo em alguma cena deles sozinhos ou em diálogos como
familiares. Eles surgem, eles dizem que foram escondidos por ordem dos pais e
pronto, logo não foi bem explorado.
Eu juro que entrei com boa
vontade na leitura, mas ao meu ver faltou foco, ou ela se propunha em ter como
protagonista este universo sem focar em personagens, ou ela escolhia um como
Teriva e detalhava tudo. Talvez o que tenha faltado é amadurecer a estória, e
estruturá-la em um diagrama antes escrever de fato. Existem ideias boas e
interessantes no livro, e algumas delas até originais, mas infelizmente não
gostei da forma como a autora as trabalhou, sem nos dar quase informações sobre
o mundo que criou e suas leis.
Cheiro de Tempestade infelizmente
é uma colcha de retalhos, e não é com felicidade que digo isso, porque quem me
acompanha sabe quanto gosto de boas fantasias, ainda mais as nacionais. Não
funcionou para mim, talvez pessoas menos exigentes ou com menos alta fantasia
em mente vejam diferente.
Avaliação
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