O Menino no Alto da Montanha - John Boyne

Entre os psicólogos e educadores muito se discute o que influencia afinal no comportamento e formação dos indivíduos. Algumas coisas são atribuídas a genética, mas a grande maioria é modelada pela influência ambiental. No livro O Menino no Alto da Montanha, do irlandês John Boyne, publicado pelo selo Seguinte, conseguimos perceber o quanto o entorno pode mudar radicalmente uma vida!

Pierrot é apenas uma criança quando sua mãe morre, sem parentes por perto ele acaba partindo da cidade de Paris, onde mora, para morar com a tia Beatrix nas montanhas alemãs. Na proximidade da explosão da segunda guerra mundial o casarão onde sua tia é governanta não é um lugar qualquer, é nada menos do que a casa onde Adolf Hitler se refugia do mundo, Berghof. Conhecer este homem e suas ideias nazistas acaba por mudar a vida de Pierrot, tanto quanto mudou o mundo, e talvez ele nunca mais consiga escapar desta mudança.

A narrativa do autor foi como todo livro de Boyne é, encantadora! A ponto de vezes me esquecer que o personagem que estava a minha frente era ninguém menos do que Hitler! Seu estilo de escrita em terceira pessoa conta em minúcias grandes eventos da época as vésperas da guerra até o seu término de um ângulo muito criativo, o de um menino que começa o livro com apenas sete anos, e termina já bem mais velho muito tempo depois da guerra terminar (1936 até 1945). Ver os acontecimentos sob o ângulo de uma criança suavizou muitos fatos fortes como o preconceito/crimes contra os judeus e a violência do próprio Adolf que se mostra uma pessoa ora muito ponderada, ora fanática pelos seus próprias ideias.

Um artifício que o autor usa, e que é genial, são as mudanças de nome do personagem que nasce como Pierrot, torna-se Pieter quando vai para Alemanha e depois ganha títulos em alemão de acordo com os graus do reich. Com isso fica claro as mudanças do menino, que de fato foram radicais.

Pierrot tinha verdadeira adoração pelo pai, que fora soldado na primeira guerra mundial. Entretanto a guerra o mudou a ponto de não conseguir seguir sua vida sem beber ou ter pesadelos. Com o vício ele abandona a família, e posteriormente morre, não sem antes ter marcado profundamente a mente do filho com ideias de raça pura e proteção da hegemonia alemã. Logo quando o menino conhece Hilter vê nele o pai que perdeu com as mesmas ideia, e Hitler por sua vez vê no menino a chance de modelar um mini ditador, que inclusive protege sem querer mandá-lo para guerra. De garoto inocente e doce para um nazista vemos o garoto crescendo e perdendo o rumo a ponto de trair a própria família. O que ele demora a perceber é quem estava certo na guerra, e que as coisas que ele fez nunca mais irão abandoná-lo.

O Hitler criado aqui pelo autor segue uma personalidade que acredito deva ser semelhante ao original, pelo menos ao que eu sei do mesmo. Como seu amor pelos animais (ironicamente Hitler tinha adoração pelos animais), gosto pela arte e sua certeza de que os seus ideais eram o melhor para Alemanha e o mundo.

Beatrix, a tia do menino esconde um segredo que o sobrinho acaba por descobrir. É uma moça gentil e com ideias próprias que só quis proteger o menino quando o levou para seu trabalho. Infelizmente o tiro saiu pela culatra, e acabei por sentir todos os tipos de sentimento por Pierrot, desde de dó e empatia quando ele fica orfã até raiva e desprezo quando ele assume a juventude hitleriana. Cheguei ao ponto que nosso protagonista tivesse um fim ruim, e eu diria que seu fim foi ruim, já que viver com as memórias que fez é um pesadelo acordado!

O desfecho da trama foi surpreendente, não exatamente por conta do fim da saga de Pierrot, mas por uma descoberta que se dá nas páginas finais e que trouxe uma beleza única para o livro, a ponto de subir a nota do livro e até trazer suspiros. Boyne é sempre surpreendente, é sempre único na maneira que escreve e consegue criar estórias em cima de histórias de vida verdadeiras. Ele consegue trazer a realidade para perto, nos envolver com ela e depois nos deixar como se de alguma maneira estivéssemos nos lugares que ele narrou, com as pessoas que ele descreveu. Com ele já estive entre os czares, os padres irlandeses e uma casa assombrada, neste livro estive em meio as estratégias desta guerra que deixo o mundo marcado para sempre sobre a intolerância e o preconceito.

O Menino no Alto da Montanha nos conta como seres humanos se tornam monstros, e como até os monstros tem sua parte luminosa, a dualidade presente em todo ser humano.  É sobre os caminhos que o medo e a solidão acabam por oferecer, e quanto que antes de escolher um lado precisamos saber se depois de nossas escolhas elas serão algo que possamos viver e acordar todos os dias. E para que não reste dúvidas, o meio influencia tanto que uma alma inocente pode se perder nos abismos na sombra.

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