Muita gente gosta de John Green,
meu contato com ele se resumia ao conto dele em Deixe a Neve Cair, conto este
que não me impressionou em nada. Quando anunciaram o novo livro dele depois de
tanto tempo sem novidades vi a oportunidade de tirar a limpo, afinal este
senhor é bom ou não? Tartarugas até Lá embaixo publicado pela editora
Intrínseca é a vítima rs.
Aza Holmes é uma adolescente de
dezesseis anos que parece ser uma jovem normal cursando o ensino médio, mas
olhando mais de perto percebemos que pequenas atitudes estranhas e repetitivas
a perseguem, isto porque ela sofre de TOC. Como se não fosse suficiente
atravessar a adolescência com este problema ela ainda parte em busca do
paradeiro de um bilionário com sua melhor amiga Daisy, afinal uma recompensa
grande é oferecida, e a faculdade é muito cara. Mas a busca que começa atrás de
um homem pode terminar dentro de si mesma, será que Aza será capaz de enfrentar
a si mesma?
É o Sr. Green não é para minha
pessoa, a narrativa feita em primeira pessoa através da jovem Aza não teve
grande impacto sobre mim, embora sim trate de um tema bastante forte como o
TOC, não foi capaz de despertar em mim empatia pela personagem, menos ainda
pela trama que se sucedeu. Isto porque a estória soou um pouco fraca, o autor soube
descrever em detalhes como é ter toc, como é entrar em uma espiral infinita de
pensamentos, mas parece que ele ao escrever acabou preso nesta mesma espiral.
A parte investigativa da trama
foi fraca, e acabou por se resolver de forma muito sem graça, sem muitas
explicações. Não gostei nada do desfecho do livro tanto quanto o caso do
bilionário quanto da própria Aza. Isto porque gosto de livros que transmitam
superação e melhora. O livro começa na tristeza e termina na mesma. Muitos
podem pensar que isto é realista, mas gosto de acreditar que um livro deve
cumprir um papel além de comunicar a realidade, sempre deve propor mais, exigir
mais, e neste caso ajudar quem tem o mesmo problema.
Aza é chata, sejamos honestos,
sua amiga Daisy ao descrevê-la em uma discussão das duas a define bem: é uma
menina egoísta que pensa apenas em si mesma, logo está sempre presa em seus
pensamentos, pensamentos estes que sempre temem infecções e doenças. Por este
motivo ela inflige um machucado na própria mão constantemente, o reabrindo e
limpando todos os dias e várias vezes ao dia.
A questão é que a protagonista
frequenta a terapia, e algumas sessões com a terapeuta até são narradas, mas
tanto a terapia para mim foi fraca (acredito que isto se deva ao método
utilizado pelos americanos que não vai de encontro ao que penso ser uma terapia
mais adequada- os americanos usam muito a terapia cognitivo comportamental,
enquanto que eu tenho um olhar psicanalítico) quanto o empenho da paciente no
tratamento (isto acredito se deva pelo luto não trabalhado, a morte do pai de
Aza ainda é um assunto não resolvido para ela e o que ao meu ver impede a
melhora da adolescente).
Aza parece ser a única a sentir,
os demais personagens a sua volta parecem apáticos e sem vida. Não é possível
que todos a vêem se machucando, tomando álcool em gel e apenas perguntam se ela
está bem?! Como sua mãe não acompanha de perto se a filha está tomando remédios?,
até porque a mãe parece não estar deprimida ou algo assim.
Daisy, a melhor amiga é divertida
sim, mas é outra egoísta que só consegue pensar em suas fan-fics e Star Wars.
Passa anos com a amiga em uma relação eu diria maluca, já que ela fala, a amiga
escuta e pouco fala, é um monólogo. É só depois da briga que elas são capazes
de ver como a amizade delas é pautada é quase nada!
Davis é o filho do bilionário
desaparecido, e tem uma personalidade interessante e introspectiva que deveria
ter sido explorada. Ele acaba por estabelecer uma relação breve com Aza, e aí
está um ponto que também deveria ter sido trabalhado, e que traria riqueza a
trama. Como seria a relação de duas pessoas tão comprometidas? Elas seriam
capazes de se ajudar, acredito que sim porque eles conseguiam estabelecer bons
diálogos.
Não compreendi até agora porque
tantas pessoas amaram o livro, existem outros livros que trabalham outros
transtornos de forma muito melhor e que não ganharam tanto ânimo, Garotas de
Vidro, por exemplo. O livro é repleto de frases de efeito, o próprio título tem
uma estória legal por trás, mas é só. A ansiedade de Aza transborda e não vai
para lugar nenhum, e acabamos sofrendo com ela porque não podemos fazer nada
por ela, apenas assisti-la sofrer.
Eu me preocupo com a ideia de que
um livro assim acabe conquistando tantas pessoas, porque ele não contribui para
melhora de quem tem TOC, ele parece mais ser uma afirmação da condição. Como psicóloga
não aconselho a leitura para quem tem o mesmo, porque se para mim que não tenho
sai da leitura com uma energia ruim, imagino para quem já tem tendências ao TOC
ou a hipocondria. E mesmo do ponto de vista literário não entretém, deixa muita
a desejar.
Tartarugas até Lá Embaixo não
está entre as minhas piores leituras, mas também está longe de ser um livro
bom. Talvez os fãs de Green amem, mas eu honestamente abri meu coração e quase
nada encontrei no livro.
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