A Menina Submersa - Caitlín R. Kiernan

Esse ano sem querer querendo só tenho escolhido livros com personagens com distúrbios psicológicos, e quando peguei A Menina Submersa, da autora Caitlín R. Kiernan publicado pela editora Darkside eu não imaginava onde estava me enfiando!

India Morgan Phelps é uma jovem que vive sob uma condição bastante única, diagnosticada com esquizofrenia ela parece ter desenvolvido um mundo a parte do que as cercam e diferente do esperado. Depois de uma carona inusitada seu mundo já frágil e quebradiço começa desmoronar mais rápido do que ela pode controlar.

Eu não sei como é ser uma pessoa esquizofrênica do ponto de vista da experiência, estudei sim esta condição na universidade, mas viver em primeira pessoa não é uma experiência que eu tenha. Entretanto através da narrativa em primeira pessoa de Kiernan eu consegui simular com muita riqueza como deve ser. Que jaula de loucura! O livro se propõe a ser um livro de memórias realizado através de três linhas da protagonista, temos as memórias propriamente ditas narradas que são questionadas e discutidas com a Imp  (Imp é o apelido de India, ou seja, ela conversa consigo mesma enquanto escreve em sua máquina de escrever), e por fim a India que não faz ideia da verdade a cerca do que aconteceu em sua vida. Pareceu confuso? Porque de fato é!

As memórias se confundem, ora mudam de tempo, ora sequer aconteceram, e não espere descobrir a verdade a cerca dos fatos. Isto não é importante. Para trama fazer sentido você deve realizar uma leitura subjetiva, observar a fala desconexa e deve ordenar os fatos e tentar compreender, nada simples ou pronto. Chegue a suas próprias conclusões, e amarrações. Terminei com poucas certezas, mas com os pontos de fixação da protagonista muito bem explorados.

O nome do livro vem de uma das obsessões de Imp, o quadro A Menina Submersa, além deste ela também têm outros temas de fixação como o conto da chapeuzinho vermelho e seu autor, sereias, lobos, corvos negros, números e por fim Eva C. a mulher nua que ela dá a carona e que muda tudo na sua vida. Tudo surge frequentemente e repetidamente. Ela enxerga em tudo estes itens, e chega a ter pastas com dados sobre estes temas. O livro acaba focando muito em Eva que é responsável pelo seu surto.

A questão de gênero e identidade sexual acaba sendo trabalhada também já que ela namora uma transexual, Abalynn (outro nó de fixação da mesma), e alguns diálogos correm nesta direção. Ela é bem resolvida quanto a sua orientação sexual, e nunca chega a ter crises quanto a isto.

O fato de sua mãe e avó também terem sido esquizofrênicas e ambas terem se suicidado já marcam sua estória, que ela diz ser uma estória sobre fantasmas. Não só de pessoas mortas, mas de pessoas que ressoam para sempre dentro delas, como fantasmas que assombram mesmo.

Imp é uma leitora ávida, assim são abundantes as citações a livros e trechos de poesias. A narrativa ganha um ar epistolar já que dentro dela tem dois contos de Imp, uma carta e reportagens. Tudo fruto da sua pesquisa obsessiva. A arte tanto através da música quanto de obras plásticas também são evocados com bastante frequência.

A leitura é muito desconfortável e nos tira de qualquer zona de conforto, já que nos imerge na loucura pura sem nos deixar um ponto de respiro ou um minuto de calmaria. Tudo é sob o olhar e a mente de Imp, logo tudo é distorcido sob sua ótica.
Novamente tenho discordância da abordagem psicológica da terapeuta da jovem. E sei que é pela abordagem que os americanos utilizam. Sempre as acho distante e parecem não dar a devida importância aos pacientes. Quando Imp está no consultório da psiquiatra, e está em surto o que é esperado é que ela entre em contato com a família já que a mesma mora sozinha, e o que acontece? Ela simplesmente pergunta se ela pode ir embora sozinha, esta atitude não entra na minha cabeça!

A Menina Submersa me deixou como o título diz, com a sensação de estar submersa em um mar onde os sentidos acabam distorcidos e falhos. Com a sensação da imensidão do mar e a fobia de um possível afogamento. É um livro ótimo, mas para os fortes, pessoas mais sensíveis ou com pouca experiência com narrativas desconexas não conseguirão chegar até o fim. Mas se você quer um pouco de loucura e um novo ângulo sobre a vida por alguns dias está é para você!

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