As vezes me pego na vergonha de
não ter lido certos autores, não porque são clássicos universais, mas porque
eles tem haver com a minha personalidade e eu já deveria tê-los lido. Um destes
autores é Edgar Allan Poe, que eu já havia lido O Corvo, mas nunca tinha parado
para apreciar seus contos, ou seja, praticamente não o conhecia! Em Os Crimes
da Rua Morgue e Outras Histórias Extraordinárias, publicado pela Fantástica
Rocco, eu finalmente resolvi este problema!
Publicado originalmente em 1841
na Graham's Magazine este volume contém o conto, os Crimes da Rua Morgue, que é
considerado como a obra inaugural da literatura policial. Ao todo são dezoito
contos do autor, e ao contrário do que costumo fazer com livros de contos não
pretendo comentar cada um deles isoladamente, mas explorar as características
da narrativa do autor, isto porque são contos breves, e assim falar sobre seus
enredos pode prejudicar na leitura do mesmo.
Poe realiza sua narrativa em sua
maioria das vezes em primeira pessoa, com o protagonista narrando um fato de
seu passado, apenas dois contos foram narrados em terceira pessoa. O fato de
serem feitos em primeira pessoa trabalha com maior riqueza a mente dos personagens
que não só nos contam os fatos, mas seus pensamentos a respeito do que fizeram
e porque fizeram.
Basicamente podemos pensar que os
contos trabalham com dois tipos de personalidade, primeiro e em sua maioria
indivíduos perversos que por muitos seriam chamados de psicopatas. São homens,
e agora pensando todos são protagonizados por homens, que entram em uma espiral
de loucura e comentem crimes dos mais variados, desde arrancar um olho de um
gato até matar um ser humano. Alguns porque são maus outros porque parecem
sofrer influência do diabo. O segundo
tipo são os deprimidos e melancólicos que não veem sentido na vida, e logo se
entregam a enfermidades. Alias é muito frequente as doenças que consomem, em
sua maioria as mulheres, que perdem o ânimo de viver e definham pouco a pouco.
Poe é excelente em explorar estas
naturezas humanas, diria que sua grande riqueza é exatamente o produto humano,
pois um conto ou outro não tem muito sentido, pelo menos não a primeira
leitura, mas seus personagens são muito bem explorados mesmo que em tão poucas
páginas. E ele explora isso tão bem que ler muitos contos em seguida pode
acabar pode deixá-lo um pouco deprimido como os personagens.
Ele trabalha também muito dentro
do gênero fantástico, pois muitas estórias até quase seu fim deixam claro se o
que está acontecendo é algo paranormal ou algo apenas bizarro, mas que tem uma
explicação possível. O sobrenatural, a aniquilação, a destruição e a loucura
são seus grandes temas. Edgar é ótimo em criar climas macabros, alimentar cenas
repugnantes e nos deixar desconfiados de tudo e todos.
Ao começar a leitura do livro não
me identifiquei logo no começo, o primeiro conto que tem um pobre gato
envolvido me pegou desprevenida, mas agora ao término do livro o clima do livro
deixou um gosto de quero mais. Porque sim, eu sou das que gostam de coisas
góticas, e Poe constrói uma atmosfera densa e sombria como poucos.
O conto que dá nome ao livro é
muito divertido, isto porque o desfecho do crime é tudo menos o esperado, e sim
é visivelmente quem traçou e influenciou as personalidades de Sherlock Holmes e
Watson, já que tudo está ali neste pequeno conto. Infelizmente ele é o único do
gênero no livro (Ao todo o autor tem em sua obra apenas três contos deste
estilo, mas só está neste livro).
A edição feita pela Rocco está muito interessante, com fonte grande e contos separados por imagens de chapas de partes humanas que alimentam o clima que os contos trabalham. Ele conta ainda com um posfácio sobre a tradução da obra, tradução esta que foi feita por ninguém menos que Clarice Lispector.
Crimes da Rua Morgue é um livro
de contos peculiar porque têm estórias criativas e que têm seres humanos muito
próximos da realidade. Mostrando a natureza humana de um ângulo ao mesmo tempo
verdadeiro e histórico já que é evidente muitas características da época em que
o livro foi escrito. Poe é obrigatório não porque é considerado um clássico,
mas porque nos ensina como contar em poucas páginas uma boa estória e ao mesmo
tempo explorar personalidades tão complexas.
Avaliação
Olá! Ganhei esse livro més passado, porem ainda não li, a fila de leitura está imensa, ficou pra 2018, curto muito a escrita Edgar Allan Poe, essa resenha me deixou ainda mais curiosa em conferi isso tudo que foi dito aqui.
ResponderExcluirMesmo não tendo costume de ler livros de contos desse gênero, a forma como descreveu a obra me despertou interesse, já que possui um desfecho inesperado, mostrando personagens reais, e descritos por acontecimentos da época na qual a narrativa e demonstrada, tudo isto de uma forma geral me pareceu deixar a leitura bastante agradável.
ResponderExcluirLi muito Poe no meu ensino médio. O que me faz pensar que eu era meio sinistra naquela época! rs
ResponderExcluirHoje em dia luto pra ler qualquer coisa de terror, ate mesmo um suspense muito bem feito. Não porque não goste, mas fiquei medrosa saca?
Mas como você disse, contos rápidos e muito bem narrados descrevem esse autor magnifico! O meu predileto é o Retrato Oval! E triste pensar que nas bibliotecas publicas e das escolas tinham tanta coisa boa, que gracas a Deus tive a oportunidade de ler, e hoje, quase nem tem mais bibliotecas. Pelo menos não por aqui onde moro. Mas voltando.. Mais triste ainda é que não tenho ainda pra mim nenhum livro dele. rs
Tudo que li dele foi das bibliotecas. Essa edição parece que ficou muito boa, depois daquela maravilhosa da Darkside pretendo comprar esta. ;)
Adorei a resenha! =*