Mesmo com minhas restrições, eu
sempre acabo surpresa com os temas e questões que a autora Madeleine L'Engle
escolhe em seus livros, o quarto livro da série Uma Dobra no Tempo, Muitas
Águas, lançado por aqui pela Harper Collins Brasil é rico em física quântica e
com temas muito atuais.
Sandy e Dennys, os gêmeos da
família Murry, são os mais céticos da família, e também os mais 'normais'.
Nunca passaram por nenhuma situação extraordinária, ou metafísica, até que em
uma visita inocente ao laboratório do pais acabam se transportando para muitos
anos atrás na história da Terra, e com isso os fazendo questionar suas crenças.
Eu fiquei bastante surpresa e
satisfeita com as escolhas da autora neste volume, ao contrário Dos demais livros
da série esse livro é bem mais acessível tanto do ponto de vista científico
quanto em suas escolhas de nomes e diálogos. Assim é bem mais fácil de nos
conectarmos a trama e as reflexões que ela propõe.
A narrativa segue em terceira
pessoa, desta vez acompanhando os gêmeos com quinze anos (embora o terceiro
livro eles estejam adultos já, aqui eles são adolescentes). Ao contrário de
seus irmãos eles não acreditam em nada que não podem ver, então quando se veem
na época de Nóe, eles demoram um pouco para acreditar no que aconteceu e nas
criaturas que lá existiam.
Os unicórnios habitam juntamente
a nefilins e serafins a estória. É bem interessante a escolha destas criaturas,
já que existem algumas teorias sobre a raça humana provir de criaturas com
esses nomes, que seriam civilizações extraterrestres. Essas teorias por sinal
estão bastante em voga hoje, por isso o livro consegue ser bastante atual.
Uma questão marcante é do crer
para existir. Quando eles chamam os unicórnios e acreditam neles, eles
aparecem, quando deixam de acreditar eles desaparecem. Existem experiências
nesse sentindo, dizendo que o átomo muda seu trajeto quando existe um
observador o olhando, é o experimento da dupla fenda, assim outra teoria atual é
abordada pela autora em 1986, data da publicação do livro.
Junto a tudo isso o tempo
abordado é o da época de Nóe, ou seja, pessoas tinham estaturas diferentes
(eram muito pequenos), crenças diferentes, e até chegavam a idades mais
avançadas. Sem que tenha um tom bíblico, a autora consegue utilizar da clássica
história do dilúvio para abordar os temas que citei, além do paradoxo do tempo
de não alterar nada no passado para não alterar o futuro que já aconteceu.
Com sutileza a autora deixou
claro que não agrada a ideia de que na bíblia, e na história do dilúvio as
personagens femininas não tinham cara nem nome. Assim em seu livro elas não só
tem nomes, como personalidades marcantes.
Dennys e Sandy são personagens
muito similares, por serem gêmeos fazem tudo junto e tendem a se completar. Mas
nesta estória acabam um tempo separados o que favoreceu um pouco o autoconhecimento
de cada um sem o gêmeo ao lado, ao mesmo tempo que despertam para interesses
femininos.
Todos os personagens do passado
que são da família de Nóe são agradáveis e simplórios pela época que vivem,
salvo o avô Lameque que já tem tanta idade e se comunica com El (Deus), e assim
desenvolveu sabedoria e conhecimentos que o diferenciam dos demais.
Gostei muito dos animais de
estimação deles que eram mamutes pequenos no tamanho de cachorros, eles trazem
leveza a trama. E da ideia de tanto nefelins quanto serafins habitarem animais
quando não estão na forma angelical.
Muitas Águas poderia ser mais um
livro sobre viagem no tempo, mas trabalha com tantas variáveis de uma vez que é
uma viagem muito rica que só acrescenta a quem lê. Com muita realidade com um
toque de fantasia a autora se mostrou mais madura para fazer seu leitor
compreendê-la, e trazer um boa experiência de leitura.
Avaliação
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