Faz algum tempo que não leio um
livro que me desperta tantos sentimentos ambíguos ao mesmo tempo, Todos os
Pássaros no Céu, da autora Charlie Jane Anders publicado pela Morro Branco até
agora não me fez um sentimento definitivo por ele.
Patrícia e Laurence são duas
crianças que enxergavam o mundo de forma diferente, mas que mesmo assim tinham
um lugar em comum para compartilhar, ela embora com poderes mágicos e ele com
talento para ciência não eram bem aceitos pelos que os rodeavam. Ninguém os tolerava
e a exclusão social os uniu. Mesmo depois de anos de separação a vida volta os
unir, e cada um em seu lugar terão que unir forças para o bem comum.
A narrativa é dividida em quatro
livros que são passagens no tempo, a primeira e a segunda parte foram partes
muito incômodas para mim, foi terrível ver como os pais destas crianças eram
egoístas e ruins para os dois, os pais de Patrícia são péssimos, boicotam a
filha de todas as maneiras possíveis e despertam muita raiva (o que pensar de
um casal que deixa a filha trancada no quarto uma semana passando comida por de
baixo da porta?!!). Tinha vontade de parar a leitura e ir brigar com eles, e
olha esse sentimento é raro. Os pais de Lau não ficam para trás, mas parecem
mais perdidos do que de fato ruins como os de Patrícia.
Quanto ao estilo de escrita de
Anders é fluído e ágil, o livro assim passa rápido e não demorou a correr,
mesmo que eu me sentisse perdida em diversos momentos. Charlie tem um jeito
próprio de criar sua sequência de fatos que não segue o comum. As passagens de
tempo são quebradas e não avisadas, e as vezes o leitor pode se pegar perdido
no pedaço que foi subtraído.
Patrícia é uma garota sensível e
pura que desde muito pequena consegue falar com os animais e descobre através
de um pássaro que era uma bruxa. Este fato a marcou profundamente e desde então
tudo que ela quer é desenvolver a magia e encontrar seu lugar ao mundo, já que
na escola sofre bullying, e quando digo isso é dos pesados que envolvem
inclusive sua irmã. O modo como seus colegas a tratam cortou meu coração, e a
passividade da mesma é de se admirar! Com a passagem do tempo, depois que ela
vai estudar magia ela passa a ter mais segurança e certeza de seus talentos,
mas mesmo assim vive no medo porque de alguma forma ela parece ter poderes que
nem seus professores sabem bem como lidar. E sua vontade de salvar a todos é
mal interpretada pelos demais bruxos.
Laurence é muito inteligente e
não tem dificuldades em criar instrumentos tecnológicos, e isto é tão forte que
chega a assustar seus pais. Como todo nerd de estória ele também sofre na mão
dos colegas de escola, e assim como Patrícia também não os enfrenta. Essa
passividade e conformidade acaba por unir os dois que ora se ajudam, ora se
repelem, já que em certos momentos Laurence pensa que se afastar de Patrícia
pode melhorar sua reputação.
Junto a esses problemas escolares
surge um homem que faz parte de um grupo de assassinos e quer matá-los, ele é a
pá de cal para acabar com a vida dos dois que tem suas vidas viradas de cabeça
para baixo aos treze anos. Estes trechos da trama não me agradavam em nada, já
que ele era um assassino frio e sem muita explicação.
Quando chegamos a fase adulta dos
dois jovens fica mais clara a dualidade que a autora quer trabalhar, ciência
versus magia. E essa mensagem parece ser uma das que mais marca toda a trama.
Mas eu acho que o que mais me marcou é a tentativa desesperada destes seres
humanos de encontrar um lugar para existir, para serem eles mesmos sem crítica
e sem precisar da aprovação dos que o cercam. Ambos parecem viver todo o tempo
no medo, sob pressão, e sem saber o que é ser feliz.
Agora pensando em alguns
problemas do livro, o primeiro que me vem é o fato de as pessoas chamarem esse
livro de ficção científica, não sou especialista no gênero, mas ele é bem
diferente de todos os ditos clássicos do estilo, e eu não o chamaria assim,
menos ainda o chamaria de fantasia, talvez possamos colocá-lo em fantasia
urbana em um futuro próximo? Outro ponto é que acho dispensável as inúmeras
páginas que a autora usou da infância dos personagens, acho que se ela usasse o
recurso de lembranças de ambos durante a estória no momento presente o livro
seria mais dinâmico, e menos cruel também.
Por tratar-se de um livro
ganhador de dois prêmios eu esperava muito mais dele. Se a autora queria ter um
universo de fantasia e magia dentro de um tempo futuro com tecnologia ela
deveria ter se demorado em explicar estes mundos, e suas regras, parece que o
mundo é um iceberg cheio de pessoas loucas e cruéis, e que os protagonistas são
os dois únicos que tem sentimentos. Me senti desamparada junto a eles durante a
leitura.
Todos os pássaros no Céu ainda me
perturba, e honestamente ainda não terminei de escolher o lugar dele em minha
mente. Como muitos elementos diferentes é uma colcha de retalhos que pretende
passar uma mensagem, só ainda não estou tão certa que ele consegue ser claro
nela.
Avaliação
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