Cranford - Elizabeth Gaskell

Em meados do século XIX, na Era Vitoriana, vamos adentrar em Cranford, cidadezinha interiorana da Inglaterra, para conhecer seus habitantes, suas vidas, acontecimentos e relações, através do olhar da adorável Mary Smith, que visita o local sempre que possível para se hospedar com suas amigas. A cidade é habitada predominantemente por mulheres, solteiras ou viúvas, que têm seu próprio jeito de viver o dia a dia, assim como possui suas próprias ditaduras (ou não) de moda e comportamento.
Ainda assim, podemos ver e entender como viviam as pessoas naquela época, quais os costumes que seguiam, como as fofocas eram transmitidas e vistas pelos outros, como novos habitantes eram tratados, etc. Os personagens mexem com a trama e com nossas emoções, e os que ganham maior destaque nessa história, além da protagonista, que conta tudo sob sua perspectiva em primeira pessoa, são a meiga Miss Matty e sua irmã autoritária Mrs. Jekins, Lady Glenmire, Mrs. Jamienson, Capitão Brown, e também um homem inesperado que aparece depois de anos sumido, trazendo alegria para pessoas com quem não tinha contato há anos.
Em meio a alegrias, tristezas e as mais diversas emoções, vamos acompanhar esses personagens vivendo suas vidas, apoiando uns aos outros, questionando acontecimentos e nos fazendo refletir sobre a sociedade da época e também a nossa.

“Cranford pertence às amazonas; todos os moradores das melhores casas são mulheres. [...] Para manter os belos jardins guarnecidos das mais variadas flores sem uma erva daninha sequer para estragá-las; [...] para decidir todas as questões de literatura e política sem se desgastarem com debates ou discussões desnecessárias [...] e apoiar umas as outras quando em apuros, as damas de Cranford se bastam. ‘Um homem’, como observou uma delas para mim certa vez, é um estorvo em casa!’”.


De alguns anos para cá, venho me interessando cada vez mais por clássicos, a ponto de sempre escolher pelo menos um para ler todo mês do ano. Alguns deles são mais famosos, outros nem tanto, mas igualmente maravilhosos. O escolhido da vez não é a obra mais famosa da autora, Elizabeth Gaskell, mas merece ser lido por todo mundo que adora mergulhar em páginas escritas em outra época para adentrar numa sociedade que já não existe mais e poder conhecer mais a fundo aquelas pessoas, cenários e comportamentos.
Já queria conhecer suas histórias há muito tempo, mas ainda não tinha tido a oportunidade, tanto por não ter todos os seus títulos na estante, quanto por falta de tempo, afinal minha edição de “Norte e Sul” tem mais de 700 páginas, então preciso dedicar um bom tempo a ela, afinal a escrita, apesar de tranquila, é também um pouco mais indireta, o que faz com que eu demore mais tempo lendo-a, inclusive para prestar bastante atenção a cada detalhe e apreciar cada passagem lida.
Então, decidi começar por um de seus romances menores e foi por isso que escolhi o adorável “Cranford”, que nos apresenta diversos tipos de personagens, com suas personalidades fortes e marcantes e bem diferentes entre si. Por serem de uma cidade pequena, todos sabem tudo de todo mundo e estão sempre trocando informações, comentários, conselhos e julgamentos sobre os demais cidadãos.
Gostei muito da escrita da autora, que é leve, envolvente e flui bem dentro do ritmo que clássicos geralmente têm. Há um tom cômico, outro melancólico e ainda um reflexivo em suas palavras, fazendo com que o leitor tenha diversos tipos de emoção conforme as páginas vão sendo avançadas. Ora sentimos alegria, ora alívio, ora tristeza ou indignação, entre outros, mesmo que a trama seja curta.
A obra é inteiramente passada na pequena cidade de Cranford, mas não segue uma linha do tempo direta, afinal a protagonista e narradora é Mary Smith, que na verdade reside numa cidade vizinha, e só nos conta os acontecimentos que passa em Cranford quando fica hospedada na casa de suas amigas que moram lá, o que ela faz com alguma frequência e passa períodos longos ou quando tem notícias do local.


Por conta disso, os anos vão se passando e temos a chance de ver diversas cenas diferentes em épocas distintas, então podemos acompanhar vários acontecimentos. O mais incrível é que o livro é pequeno e conta com pouco mais de duzentas páginas e a trama nunca fica realmente parada, ainda que as situações sejam em sua grande maioria simples.
Se você não reconheceu o nome, Elizabeth Gaskell é autora de “Norte e Sul”, também conhecido como Margaret Hale, que inclusive também foi adaptado pela BBC, e é considerado bem semelhante a Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, porém tem como cenário uma Inglaterra durante a Revolução Industrial. A escritora também foi uma amiga íntima de Charlotte Brontë, autora de Jane Eyre, e responsável por escrever a primeira biografia desta última, depois que a mesma deixou este mundo.
Para quem espera encontrar uma leitura mais voltada para o romance, com personagens clichês ou acontecimentos que vão nos deixar de queixo caído, este não é exatamente o livro que procura. Mas ainda assim, vale a pena conhecê-lo se você tem interesse por conhecer mais da vida como ela é de pessoas gente como a gente que viveram numa pequena cidade da Inglaterra no século XIX. Ainda mais porque há um certo tom autobiográfico nessa obra, fazendo com que o leitor tenha a chance de saber como deve ter sido a vida da autora em algum momento.
A edição, publicada no Brasil pela Pedrazul, está simplesmente divina! Primeiro porque realmente amo as capas que eles escolhem para todas as suas obras e dessa vez, claro, não foi diferente. Estou completamente apaixonada pela capa e também pela quarta capa, que passam bem o clima do enredo. A diagramação está bastante confortável para uma leitura agradável e as páginas são amarelas. Mas o maior diferencial são as belíssimas ilustrações originais de Hugh Thomson e H. M. Brock, que trazem cenas da trama e complementam o texto. Acabei descobrindo que esse livro também já foi adaptado para uma série de TV pela BBC e já estou bem curiosa para conferir. Depois volto para contar o que achei.


“Cranford” é um encantador mergulho no passado que com certeza vai despertar diversas emoções no leitor, enquanto se delicia com uma trama interessante e real de habitantes ingleses de uma pequena cidade no século XIX.
Avaliação





Comente com o Facebook:

Nenhum comentário:

Postar um comentário