Em meados do
século XIX, na Era Vitoriana, vamos adentrar em Cranford, cidadezinha
interiorana da Inglaterra, para conhecer seus habitantes, suas vidas,
acontecimentos e relações, através do olhar da adorável Mary Smith, que visita
o local sempre que possível para se hospedar com suas amigas. A cidade é
habitada predominantemente por mulheres, solteiras ou viúvas, que têm seu
próprio jeito de viver o dia a dia, assim como possui suas próprias ditaduras
(ou não) de moda e comportamento.
Ainda assim,
podemos ver e entender como viviam as pessoas naquela época, quais os costumes
que seguiam, como as fofocas eram transmitidas e vistas pelos outros, como
novos habitantes eram tratados, etc. Os personagens mexem com a trama e com nossas
emoções, e os que ganham maior destaque nessa história, além da protagonista,
que conta tudo sob sua perspectiva em primeira pessoa, são a meiga Miss Matty e
sua irmã autoritária Mrs. Jekins, Lady Glenmire, Mrs. Jamienson, Capitão Brown,
e também um homem inesperado que aparece depois de anos sumido, trazendo
alegria para pessoas com quem não tinha contato há anos.
Em meio a
alegrias, tristezas e as mais diversas emoções, vamos acompanhar esses
personagens vivendo suas vidas, apoiando uns aos outros, questionando
acontecimentos e nos fazendo refletir sobre a sociedade da época e também a
nossa.
“Cranford pertence às amazonas; todos os moradores das melhores casas são mulheres. [...] Para manter os belos jardins guarnecidos das mais variadas flores sem uma erva daninha sequer para estragá-las; [...] para decidir todas as questões de literatura e política sem se desgastarem com debates ou discussões desnecessárias [...] e apoiar umas as outras quando em apuros, as damas de Cranford se bastam. ‘Um homem’, como observou uma delas para mim certa vez, é um estorvo em casa!’”.
“Cranford pertence às amazonas; todos os moradores das melhores casas são mulheres. [...] Para manter os belos jardins guarnecidos das mais variadas flores sem uma erva daninha sequer para estragá-las; [...] para decidir todas as questões de literatura e política sem se desgastarem com debates ou discussões desnecessárias [...] e apoiar umas as outras quando em apuros, as damas de Cranford se bastam. ‘Um homem’, como observou uma delas para mim certa vez, é um estorvo em casa!’”.
De alguns
anos para cá, venho me interessando cada vez mais por clássicos, a ponto de
sempre escolher pelo menos um para ler todo mês do ano. Alguns deles são mais
famosos, outros nem tanto, mas igualmente maravilhosos. O escolhido da vez não
é a obra mais famosa da autora, Elizabeth Gaskell, mas merece ser lido por todo
mundo que adora mergulhar em páginas escritas em outra época para adentrar numa
sociedade que já não existe mais e poder conhecer mais a fundo aquelas pessoas,
cenários e comportamentos.
Já queria
conhecer suas histórias há muito tempo, mas ainda não tinha tido a
oportunidade, tanto por não ter todos os seus títulos na estante, quanto por
falta de tempo, afinal minha edição de “Norte e Sul” tem mais de 700 páginas,
então preciso dedicar um bom tempo a ela, afinal a escrita, apesar de
tranquila, é também um pouco mais indireta, o que faz com que eu demore mais
tempo lendo-a, inclusive para prestar bastante atenção a cada detalhe e
apreciar cada passagem lida.
Então,
decidi começar por um de seus romances menores e foi por isso que escolhi o
adorável “Cranford”, que nos apresenta diversos tipos de personagens, com suas
personalidades fortes e marcantes e bem diferentes entre si. Por serem de uma
cidade pequena, todos sabem tudo de todo mundo e estão sempre trocando
informações, comentários, conselhos e julgamentos sobre os demais cidadãos.
Gostei muito
da escrita da autora, que é leve, envolvente e flui bem dentro do ritmo que
clássicos geralmente têm. Há um tom cômico, outro melancólico e ainda um
reflexivo em suas palavras, fazendo com que o leitor tenha diversos tipos de
emoção conforme as páginas vão sendo avançadas. Ora sentimos alegria, ora
alívio, ora tristeza ou indignação, entre outros, mesmo que a trama seja curta.
A obra é
inteiramente passada na pequena cidade de Cranford, mas não segue uma linha do
tempo direta, afinal a protagonista e narradora é Mary Smith, que na verdade
reside numa cidade vizinha, e só nos conta os acontecimentos que passa em
Cranford quando fica hospedada na casa de suas amigas que moram lá, o que ela
faz com alguma frequência e passa períodos longos ou quando tem notícias do
local.
Por conta
disso, os anos vão se passando e temos a chance de ver diversas cenas
diferentes em épocas distintas, então podemos acompanhar vários acontecimentos.
O mais incrível é que o livro é pequeno e conta com pouco mais de duzentas
páginas e a trama nunca fica realmente parada, ainda que as situações sejam em
sua grande maioria simples.
Se você não reconheceu o nome, Elizabeth Gaskell é autora de “Norte e Sul”, também
conhecido como Margaret Hale, que inclusive também foi adaptado pela BBC, e é
considerado bem semelhante a Orgulho e Preconceito, de Jane Austen, porém tem
como cenário uma Inglaterra durante a Revolução Industrial. A escritora também
foi uma amiga íntima de Charlotte Brontë, autora de Jane Eyre, e responsável por
escrever a primeira biografia desta última, depois que a mesma deixou este
mundo.
Para quem
espera encontrar uma leitura mais voltada para o romance, com personagens
clichês ou acontecimentos que vão nos deixar de queixo caído, este não é
exatamente o livro que procura. Mas ainda assim, vale a pena conhecê-lo se você
tem interesse por conhecer mais da vida como ela é de pessoas gente como a
gente que viveram numa pequena cidade da Inglaterra no século XIX. Ainda mais
porque há um certo tom autobiográfico nessa obra, fazendo com que o leitor
tenha a chance de saber como deve ter sido a vida da autora em algum momento.
A edição, publicada no Brasil pela Pedrazul,
está simplesmente divina! Primeiro porque realmente amo as capas que eles
escolhem para todas as suas obras e dessa vez, claro, não foi diferente. Estou
completamente apaixonada pela capa e também pela quarta capa, que passam bem o
clima do enredo. A diagramação está bastante confortável para uma leitura
agradável e as páginas são amarelas. Mas o maior diferencial são as belíssimas
ilustrações originais de Hugh Thomson e H. M. Brock, que trazem cenas da trama
e complementam o texto. Acabei descobrindo que esse livro também já foi
adaptado para uma série de TV pela BBC e já estou bem curiosa para conferir.
Depois volto para contar o que achei.
“Cranford” é
um encantador mergulho no passado que com certeza vai despertar diversas emoções
no leitor, enquanto se delicia com uma trama interessante e real de habitantes
ingleses de uma pequena cidade no século XIX.
Avaliação
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