Tudo que um Geek deve Saber - Ethan Gilsdorf


Na minha época de escola eu sempre fui chamada de cdf, e nunca tive problemas com isso, porque sempre gostei muito de estudar e ainda gosto. O termo nerd surgiu um pouco mais tarde e também o aceitei sem problemas, mas quando o geek apareceu acreditava que não me enquadrava no grupo, porque embora eu goste de tecnologia eu não tenho fácil acesso as novidades. Minha opinião mudou depois de Tudo que um Geek deve Saber, do geek americano Ethan Gilsdorf, publicado pelo selo Novas Ideias da editora Novo Conceito.

Ethan já é um homem crescido, formado e que trabalha com o que gosta. Sua mãe muito jovem sofreu um aneurisma  e se transformou em outra pessoa, isso é a maior marca de Ethan que não conseguiu até o fim do livro aceitar a perda que teve com isto, já que seu pai já morava no Canadá e ele se viu sozinho com os irmãos para cuidar de uma momonster - sua mãe!.

Seu refúgio foi a fantasia, através do Rpg, que o ajudou a passar pela adolescência e seus dilemas. Determinado a encontrar uma namorada ele abandona tudo quando parte para faculdade, e acredita que tudo relacionado ao tema seja infantil e não mais pertencente a ele, sem problemas até ai se ele não esbarrasse em uma certa trilogia (O Senhor dos Anéis) que o fez ter que rever todo o seu passado, e resignificando tudo o que passou.

Quando escolhi este livro para ler fui com expectativas de que encontraria algo com listas e regras, e o que encontrei foi como uma etnografia mesclada a uma história de vida, repleta de memórias. Resultado, um livro repleto de emoção, conhecimento e diversão. Ethan resolve depois de mais velho buscar as origens e detalhes da fantasia que conheceu e se apaixonou. Para tanto traça um plano de viagens e experiências que quer fazer para compreender se afinal tudo isto não é apenas escapismo e falta de maturidade.

O que ele encontrou foi além de suas expectativas e das minhas também.  Sua primeira parada é logo na Inglaterra, em busca de informação de Tolkien (pronto já seria suficiente para que eu amasse o livro), os locais que morou, lecionou e até os pubs que frequentou. Parte para o rpg e seu nascimento, uma convenção e por fim um live-action.

Diversas conversas com geeks surgem ao longo do livro, explicando porque estes gostam do que gostam, sua relação com a fantasia e um pouco de suas vidas. A todo momento Ethan trás sua questão com a mãe e a não aceitação de sua paixão pela fantasia depois de crescido. Ele ainda passa um tempo entre um grupo no interior da França que está construindo um castelo de forma artesanal e medieval.

Ele acompanha então a turnê de uma banda inspirada nos livros do Harry Potter (eu nunca pensei em algo assim!), passa alguns dias em um evento de imersão da SCA, outros jogando e conversando com jogadores de World of Warcraft, e um fim de semana na Dragon Con. Por último a não menos importante parte em uma viagem para Nova Zelândia em busca dos resquícios do filme O Senhor dos Anéis, ou diria, uma jornada em busca de sua verdade interior guiada pelo filme.

Tudo com capítulos iniciados com citações referentes ao temas do capítulo e fotos dos eventos. De repente me descobri geek, porque amo tudo que surgiu como dito geek! E mais, muito do que ele trouxe como questão também foi algo que eu trabalhei no meu tcc. Assim a identificação com o livro foi grande.

O autor soube trazer um universo tão rico e amplo de forma enxuta que permite uma visão panorâmica do fenômeno, e mais que isso uma pequena imersão neste universo para aquele que lê e desconhece os temas. No fim a questão não é, e nunca foi tudo que um geek deve saber, mas a relação de Ethan com a vida e o lugar que ele colocou a fantasia nesta. Arrisco dizer que se ele aprendeu alguma coisa com sua pesquisa ele volta a navegar por este universo.


Tudo que um Geek deve Saber é mais do que falar do que os geeks gostam, é conhecer os detalhes de manifestações repletas de vida, emoção e verdade. É ver um homem conhecer a si mesmo, e perceber que não é o que gostamos que nos define mas nossas atitudes na vida. E se você tiver que ser um senhor de oitenta anos jogando rpg que seja, desde que seja responsável consigo mesmo e com as pessoas com que se compromete. É uma leitura que acrescenta e que pode pegar você se descobrindo geek como eu!


Avaliação






 



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