A Letra Escarlate – Nathaniel Hawthorne


Desde que assisti ao filme “Easy A” que citava esse livro, fiquei bem interessada nessa história. Olha que isso já foi há bastante tempo, mas por algum motivo ainda não havia lido. Quem me conhece sabe que amo ler livros Clássicos e sempre escolho algum para incluir nas minhas leituras. Por esse motivo, resolvi começar a ler “A Letra Escarlate”, cuja protagonista é considerada a primeira autêntica heroína da literatura norte-americana.
Nesse volume somos levados para Boston do século XVII, onde a comunidade era muito rígida e puritana. É nesse cenário que conhecemos Hester Prynne, uma jovem que cometeu adultério e terminou com o nascimento de uma criança ilegítima. Esse crime era muito grave, punido até mesmo com a morte.
Porém, como o marido de Hester estava desaparecido e ninguém sabia se ele estava vivo ou não, ela teve uma pena mais leve, sendo obrigada a levar sempre a letra “A” de adúltera bordada em seu peito. Desonrada e renegada publicamente, nossa protagonista passa a viver isolada em uma cabana com a filha, sem revelar a identidade do pai da criança. Acompanhamos como ela é forte e como consegue seu sustento e de sua filha, mesmo com tudo o que estava passando, sendo uma mulher amável e guerreira.
Esse título fala sobre uma sociedade hipócrita, que julga e guarda os seus segredos. É uma crítica a sociedade que serve até para os dias atuais. Vemos como a hipocrisia reina e como há personagens odiosos. Com muitos segredos e vingança, essa trama consegue nos prender do início ao fim com capítulos curtos além de uma protagonista maravilhosa, que me conquistou em cada linha. A narrativa é um pouco lenta, mas também muito interessante.


Bruce Dickinson: Uma Autobiografia - Bruce Dickinson


Eu não me lembro se em alguma resenha anterior eu citei que sou headbanger, ou seja, ouço metal em diversas vertentes e sou adepta ao estilo de quem curte esse gênero. Para quem nunca esteve entre nós pode soar como baboseira, mas só quem já foi em um show de metal e esteve entre os fãs sabe quanto é incrível ter pessoas com quem você têm diversas coisas em comum. Nesse sentido foi muito natural escolher ler uma biografia de um dos maiores vocalistas de uma das maiores bandas de metal, o Iron Maiden. E aproveitando que a quarentena tem mexido com minhas ansiedades ler Bruce Dickinson: Uma Biografia, escrito pelo próprio Bruce, e publicado pela editora Intrínseca, foi uma companhia excelente para esquecer um pouco o que está ao redor.

Já li algumas biografias, e em geral elas seguem um padrão de nascimento, estudos, relacionamentos e etc. Aqui Dickinson começou sim pela sua infância, mas o modo como ele conduziu sua própria história não seguiu o que eu esperava. Assim que ele começa a estudar não sabemos mais praticamente nada sobre sua família, seus relacionamentos amorosos e amigos. O foco dele é nas disciplinas que ao longo da vida ele estuda, as oportunidades e trabalhos que ele executa e sua relação com a música. Apenas nas páginas finais que ele aborda o câncer que teve e foi a parte mais pessoal sem dúvida que ele abordou. No posfácio ele explica que escolheu tirar a parte sobre relacionamentos porque o livro seria muito grande e que assim ninguém o leria (acho que ele não sabe do que um bookaholic é capaz!!rs)

Com isso talvez pareça que a biografia fique desinteressante, mas não se engane, mesmo sem o que soaria como fofoca, a história de vida deste homem é muito interessante! Isso porque ele é uma pessoa que se arrisca como ninguém a fazer qualquer coisa que alguém ofereça a ele, e veja bem se com isso parece que ele faz o estilo drogas e rock'n'roll, esqueça porque ele faz bem mais o estilo lobo solitário que bebe quieto lendo seus livros. Então se você procura algo mais voltado para esse mundo louco do rock sugiro que você assista o filme do motley crue, porque as vezes eu até esquecia que quem estava escrevendo era o Bruce do Iron Maiden.

Para fãs do Iron Maiden é um livro obrigatório que apresenta o vocalista como ele é em sua essência. Sem dúvida eu jamais imaginaria, por exemplo, que seu primeiro contato com o rock seria através de shows de rock dentro de seu colégio interno que era um tanto estranho eu diria. E menos ainda que ele havia começado a cantar de forma tão espontânea e nada esperada, isso porque ele queria ser baterista, mas sem uma bateria e na falta de um vocalista ele acabou achando que o padre da sua infância que tinha o alertado de sua boa voz seria a validação necessária para se arriscar.






O Duque Devasso – Decadent Dukes Society #02 – Madeline Hunter


De um lado conhecemos Gabriel St. James, o devasso Duque de Langford, rico, bonito e perigoso, dono de uma personalidade forte e que consegue o que quer. Do outro, Amanda Waverly, inteligente, sagaz, secretária de uma dama da alta sociedade e ladra nas horas vagas.
Tudo começou quando ela ainda era criança e seus pais, ladrões profissionais, passaram todos os seus ensinamentos para ela. Mesmo tendo habilidades natas, ela nunca quis seguir no mundo dos crimes, então conseguiu manter uma vida respeitável por anos. Mas agora sua mãe está enrascada e precisa de sua ajuda para escapar de um homem que a mantém presa. Para isso, ele chantageia Amanda a fazer roubos de peças valiosíssimas pela cidade.
E num baile a fantasia ela conhece Gabriel, que primeiramente só serviria como ponte para concluir seus planos, porém quanto mais eles se conhecem, mais conseguem ser verdadeiros e se encantam mutuamente. Mas um amor entre um Duque e uma secretária nunca iria adiante. Ou será que poderia?
Esse é o 2º Volume da série de Romance de Época “Decadent Dukes Society”. Li o 1º no final de 2018 e estava ansiosa para conferir as sequências porque adorei os personagens e esse é meu gênero favorito.
Confesso que mesmo gostando do casal, senti que não teve aquela química forte que nos faz suspirar e nos deixa apaixonados. Acho que faltou um pouco do desenvolvimento do romance, de como evoluiu de estranhos para apaixonados. Em compensação, gostei do relacionamento maduro entre eles, de como lidaram com os problemas e não ficaram sofrendo por coisas que poderiam ser facilmente resolvidas.
Curti como Amanda toma suas próprias decisões com relação a se envolver com um Duque, mesmo que ela seja uma “simples” secretária, sem se importar com as opiniões da Sociedade e se está arruinando ou não seu nome. Também gostei que Gabriel levou em consideração apenas os sentimentos dos dois e nada além disso (títulos, fortuna, nome, etc.).





Oblivion Song #02: Entre Dois Mundos – Robert Kirkman, Lorenzo de Felici e Annalisa Leoni


Depois que um acontecimento estranho ocorreu na Filadélfia 10 anos atrás e causou uma ruptura na dimensão de espaço-tempo, enviando milhares de pessoas para Oblivion (outra dimensão habitada por criaturas horríveis), vemos que o cientista Nathan Cole continua tentando salvar pessoas, visitando o local, enfrentando os perigos e trazendo-as de volta.
Depois que o governo para de financiar as buscas e descobre algumas verdades, Nathan fica encrencado. Mas com a ajuda de alguns indivíduos consegue dar mais um passo adiante para concluir seus planos. O problema é que ele acredita firmemente ter razão sobre suas ideias, porém nem sempre outras pessoas concordam com ele.
Após ter lido o final do primeiro volume, eu PRECISAVA da continuação para ontem. Então assim que foi publicada e o exemplar chegou em minhas mãos, fui correndo ler para saber o que aconteceria depois da revelação do desfecho.
Devo dizer que a trama avançou pouco neste volume, mas descobrimos algumas verdades, acompanhamos novos personagens e entendemos seus lados e motivações. Além do mais, também descobrimos o que fez tudo isso acontecer através de uma visão com explicações do passado do protagonista.



Essa série de HQs é o meu primeiro contato com a escrita do autor Robert Kirkman (de The Walking Dead) e estou gostando bastante da experiência. É bem bacana vê-lo trabalhar com o lado humano dos personagens, seus sentimentos, reflexões e questionamentos. Inclusive porque também nos faz pensar bastante e tem ligações com coisas que vivemos atualmente ou poderíamos vivenciar – mesmo que a base seja diferente.
Também estou curtindo muito os traços de Lorenzo de Felici e o trabalho de cores de Annalisa Leoni, que, juntos, completam o texto de forma magnífica e real. As ilustrações são bem detalhadas e focam bastante nos personagens e também nas criaturas e as cores são vibrantes e combinam bastante com o momento da trama.





Descender #01: Estrelas de Lata – Jeff Lemire e Dustin Nguyen


Eu sempre gostei bastante de Quadrinhos e HQs, inclusive foram eles que me fizeram embarcar no mundo das leituras ainda bem pequena. Por isso, sempre que é possível começo uma nova história, onde me encanto com os traços do ilustrador e fico desejando saber desenhar também. Dessa vez li “Descender: Estrelas de Lata” e agora venho compartilhar com vocês as minhas opiniões.
Nesse volume conhecemos o planeta Nyrata, o centro tecnológico e cultural do grupo de nove planetas nucleares conhecido como Conselho Galáctico Unido. Nesse universo todos viviam pacificamente. Até que certo dia os Ceifadores (robôs gigantes) invadiram a galáxia e destruíram planetas e civilizações inteiras, resultando em milhões de mortes e criando nos que restaram uma aversão às máquinas. Essas criaturas depois sumiram, deixando apenas o medo e um grande rastro de destruição.
Agora foram implementadas políticas de perseguição e extermínio de robôs e é nesse cenário que conhecemos Tim-21, um jovem androide de aparência humana que após uma década em um sono profundo se tornou o androide mais procurado do universo. Isso porque em seu código pode haver vestígios dos assassinos do passado.



Com isso, acompanhamos nosso protagonista Tim em uma grande aventura com os seus amigos Bandit e Perfurador por todos os planetas e galáxias, com o objetivo de sobreviver a essa grande caçada.
Essa é uma Graphic Novel que consegue conquistar a gente do início ao fim com uma narrativa eletrizante, personagens incríveis e encantadores e que aborda temas bem complexos como intolerância, medo, política e a relação entre os humanos e as tecnologias.



Depois de Você - Como Eu Era Antes de Você #02 - Jojo Moyes


Como Eu Era Antes de Você acabou com meu coraçãozinho quando o li, jamais pensei que me sentiria assim na leitura, mas ele mexeu muito comigo! Ao saber que a continuação, Depois de Você, da autora Jojo Moyes tinha sido lançado pela editora Intrínseca eu me perguntei se teria a mesma reação. Atenção por tratar-se de um segundo volume contém spoilers do livro anterior.

Louisa voltou da Europa depois de tentar superar o luto pela perda de Will, e falhou severamente em apenas viver como tinha sido pedido a ela fazer. Tentando começar de novo ela mora sozinha em Londres e trabalha em um pub, mas sua vida não consegue andar, as memórias não a abandonam, e a tristeza ainda é muito grande. Depois de uma crise ela sofre um acidente ao se assustar no telhado de seu apartamento, um novo homem surge em sua vida, e uma visita inesperada junto com um grupo de ajuda ao luto farão com que ela comece a enxergar luz no fim do túnel.

A narrativa de Moyes continua como em seu livro anterior, realizada em primeira pessoa de forma descontraída e dinâmica, sempre com Lou na narrativa, salvo um único capítulo narrado em terceira pessoa sob o ângulo de Lily. E o único problema que este volume tem, e que seu anterior não tinha, é que em determinado ponto da estória a autora passou tempo demais em lugar nenhum. Muitas páginas poderiam ter sido subtraídas, já que não acrescentam nada a trama, ao contrário acabam cansando o leitor.

A estratégia usada pela autora para retomar a estória de Lou é muito boa, primeiro porque podemos acompanhar uma estória muito realista, onde o final não foi um felizes para sempre, embora Lou tenha acabado de voltar de Paris, tenha um apartamento seu em um dos melhores locais de Londres, ela não consegue superar a perda de Will e mais que isso carrega uma culpa por acreditar que poderia de alguma forma o ter convencido a ficar. Segundo porque a nova personagem Lily surge com um problema que é capaz de criar tensão e gerar movimento para transformação de Louisa, é uma reviravolta inesperada!

Sam, o paramédico, também foi marcado pelo luto e a perda, mas teve outro modo de encarar a vida a partir disto. Ele tenta transmitir isto a Lou, que embora saiba racionalmente não consegue sentir assim em seu coração. Infelizmente o pretendente de Lou embora seja um homem muito interessante não teve destaque suficiente, assim como Lou não conseguia se entregar a ele, a autora parece ter também tido dificuldades de desenvolver o romance dos dois que muito tinham a conversar mas que pouco de fato o fizeram. O desfecho dos dois também não me agradou muito.

Lily, é uma nova personagem que não posso revelar sua origem, é uma adolescente muito chata! Não só porque é revoltada com a vida que tem e pelo que não tem, mas porque é do tipo que gosta de atacar verbalmente as pessoas a troco de nada. Faz uma verdadeira bagunça na vida Lou, mesmo quando ela se dispõe a ajudar, e demora muito a entrar nos eixos. O capítulo que é narrado exclusivamente sobre ela explica um pouco de seu comportamento desviante, e deveria ter sido revelado antes para atenuar a chatice da mesma!

O livro é marcado fortemente pela mensagem de superação de luto, no sentido de que seguir a vida não significa esquecer, deixar de amar, ou ainda amar menos. Significa seguir, viver porque é para isso que nascemos, para viver intensamente cada dia. Neste aspecto o livro aborda de forma muito sincera e honesta, especialmente nos encontros na Igreja que Lou passa a frequentar. Os membros deste grupo são ótimos, e são muito importantes para Louisa rever seu papel diante da morte de Will.


Lady Killer 02 – Joëlle Jones e Michelle Madsen

Josie Schuller está de volta. Depois de ter enfrentado certos imprevistos quase mortais, ela se muda com a família para a ensolarada Flórida. Em meio a panelas, limpeza e cuidados com a casa e a família, ela continua com o mesmo trabalho de antes: mata pessoas a sangue frio. Porém, agora está trabalhando sem uma empresa, então tem que lidar com todo o processo sozinha, montar um disfarce, localizar a vítima, assassiná-la e limpar tudo sem deixar vestígios, o que acaba demandando mais tempo do que o necessário.
Por conta disso, quando alguém de seu passado surge com a proposta de uma aliança benéfica para ambos os lados, ela não hesita em aceitar. Quando revelações sobre indivíduos próximos aparecem e novas pessoas surgem em seu caminho com intenção de recrutá-la, Josie acaba percebendo que há muito mais para descobrir do que ela imaginava. Quem será que fala a verdade? E o que pode acontecer se ela der um passo errado?
Mesmo gostando bastante do volume inicial, curti ainda mais essa sequência. Encontramos uma Josie Schuller ainda mais sanguinária e também uma trama bem mais elaborada do que antes. A história ganhou mais movimentação e revelações. Também continua falando sobre o papel da mulher na sociedade, sobretudo na década de 1960 nos EUA.


Foi bem bacana ter o vislumbre da infância de Josie e conhecer o passado de uma personagem importante. E curti bastante ver a protagonista se desdobrando para lidar com sua vida dupla e todas as complicações que foram aparecendo em seu caminho. E olha que foram várias.
A Graphic Novel acaba num cliffhanger de tirar o fôlego com uma cena reveladora que deixa margens para uma continuação. E o final desse volume também deixa algumas pontas soltas bem relevantes. Espero que a autora esteja escrevendo, porque preciso saber o que vai acontecer agora e o que vai mudar na vida e na profissão de Josie.

O melhor de tudo é que, por ser uma HQ, temos a mescla de história com ilustrações. E o trabalho de Joëlle Jones é simplesmente fantástico. Personagens e cenários muito bem desenhados, cheios de detalhes e com cores marcantes, trazendo o tom certo a narrativa e conquistando os leitores com facilidade.


O Filósofo e o Lobo - Mark Rowlands


De vez em quando surgem oportunidades de leituras inusitadas, livros que eu jamais compraria mas que acabam em minhas mãos, e inevitavelmente deixam uma mensagem. O Filósofo e o Lobo, do filósofo Mark Rowlands, publicado pela Objetiva está entre eles, na verdade eu nem sequer sabia da sua existência, e mesmo quando soube o que eu esperava deste livro não foi o que eu li. Surpresas que a vida trás.

Mark era um jovem professor universitário quando se deparou com um anúncio de venda de filhotes de lobo, o que era para ser uma visita descompromissada acabou com um filhote, Brenin, um lobo destruidor de lares que transformou para sempre a vida deste filósofo, a ponto de obras nascerem, e um novo homem surgir. A partir desta relação Rowlands narra sua estória com inserções da filosofia de uma relação que de normal não teve nada, mas que muito tem a ensinar!

Mark era um jovem comum que dava aulas em uma universidade, participava do time de rugbi e de festas com muita bebida e mulheres. Sua vida muda quando ele resolve comprar Brenin, este lobo puro dono de uma personalidade única, isto porque ele não podia ficar sozinho em casa, já que tinha uma tendência a destruir tudo (logo em seu primeiro dia em casa ele comeu a tubulação do ar condicionado). Com isto ele estava em todos os locais que Mark ia, como os jogos do time de rugbi, as aulas na universidade e inúmeras corridas, corridas estas que os dois faziam em grande cumplicidade.

Ao mesmo tempo que o lobo se tornava civilizado, o homem se tornava lobo. Isto porque com o tempo Mark se isolou mais e mais do mundo, a ponto de sair da universidade e se isolar com seus cachorros e Brenin, e só escrever. A relação que ele estabeleceu com o lobo foi muito peculiar, e é narrada em detalhes em primeira pessoa pelo autor, que inicialmente soa um pouco chato, mas a medida que consegue expor seus sentimentos e detalhes da convivência de ambos nos cativa.

"As vezes é necessário deixar que o lobo dentro de nós se manifeste, silenciar a tagarelice incessante do primata." (pg. 17)

O livro é conduzido pelo que Rowlands aprendeu na sua vida com Brenin, organizado em torno das lições que aprendeu, enfocando os acontecimentos relacionados com os pensamentos que o autor queria desenvolver. Inicialmente seu foco se dá muito na diferenciação de lobos e de cachorros, ele explica em detalhes porque embora da mesma linhagem eles sejam distintos em comportamento, e confesso que esta parte me cansou um pouco. Mas uma vez que ele se fez claro, e ele focou na relação dos dois, e trouxe conceitos da filosofia para ilustrar suas conclusões a narrativa ganha graça, e profundidade. Sem que a filosofia canse, já que ele não se demora muito nela.

O conceito que mais me despertou atenção foi o de que os homens são seres temporais que vivem o presente lembrando do passado que já não existe e projetando o futuro que ainda não aconteceu, logo podemos dizer com segurança que raramente de fato vive o presente. O passado que recordamos e o futuro que ainda não aconteceu molda de forma decisiva o aqui e agora. Enquanto que o lobo é um ser do momento, ele não tem passado ou expectativas do futuro, ele vive o momento presente intensamente, e são momentos assim que são para os homens lembrados como momentos bons, mesmo que quando vividos sejam experienciados como ruins.

Para se referir aos seres humanos o autor usa o termo primata, e esta alma símia é gananciosa, pois o importante é ter, já que valoriza em termos do que possui, já para o lobo o mais importante não é possuir, ou quantas coisas ele tem, mas sim ser certo tipo de lobo. Esse discurso do que importa é ser e não ter já é um pouco batido, mas ele o aborda sobre outro enfoque quando evoca o ponto de vista do lobo.

Ao fim do livro é no mínimo interessante perceber quanto o autor se deu conta de que suas lembranças quando vivia apenas com o lobo e suas cachorras tinha um ângulo de matilha, ele praticamente não se lembra dele como indivíduo, apenas como membro desta matilha que o tocou profundamente. E como tudo que transforma o fez sofrer, mas também crescer. Hoje ele é um homem bem sucedido do ângulo capitalista, não bebe mais como antes, e tem uma família, mas carrega dentro de si o que aprendeu, e foi o que compartilhou nas páginas de seu livro, que ora soava como um livro de filosofia, ora como um livro de memórias de um bêbado andarilho.

"Às vezes tenho uma sensação das mais estranhas: eu era um lobo, e agora sou apenas um labrador bobo. Brenin representa para mim uma parte da minha vida que já não existe. É uma sensação ambígua. Fico triste por já não ser o lobo que era. E fico feliz por já não ser o lobo que fui. O mais importante porém é que fui um lobo." (pg. 208)

O filósofo e o Lobo é um relato de uma estória de amor verdadeiro entre um lobo e um homem, onde a troca era genuína e desinteressada, são lições de como viver uma vida mais verdadeira e consciente. É inspirador para transformar, e nos trazer para o presente, não no passado, nem o futuro, o simples presente sem preocupações, apenas com a brisa do dia, um bom prato de comida ou uma corrida sem hora para voltar!




 Avaliação








O Mundo Invisível Entre Nós – Caitlín R. Kiernan


Apesar de ainda não ter lido nenhuma das obras dessa autora (a Darkside também publicou “A Menina Submersa), sempre escutei maravilhas de sua narrativa e sua forma de escrita única, que consegue conquistar a todos com o seu talento com as palavras. Sendo assim, resolvi começar por “O Mundo Invisível Entre Nós”, que é uma compilação de contos de Kiernan publicados entre 1993 e 2004, sendo os contos mais aclamados, textos raros, e sua primeira novela Sci-Fi.
O livro é dividido em duas partes, a primeira chamada de Mundo I, traz os contos escritos no período de 1993 a 1999. E a segunda parte, denominada Mundo II, traz os contos escritos entre 2000-2004, fazendo com que facilmente sejamos capazes de ver como o seu estilo de escrita foi amadurecendo, assim como seus pensamentos e técnicas.
Em todos os contos, temos uma mistura de horror com elementos fantásticos, fazendo com que a gente não consiga desgrudar os olhos das páginas. Os contos tratam de temas bem variados, alguns são mais fáceis de entender, outros encontrei um pouco de dificuldade. Talvez por não estar acostumada a ler obras do gênero, já que saí um pouco da minha zona de conforto com essa leitura – gosto muito quando tenho a oportunidade de fazer isso e curto a experiência.

Os enredos são bem rico de detalhes, tanto quanto de variedades de criaturas e mitos. Tem até uma releitura peculiar de A Pequena Sereia e outras referências. A escrita da autora é envolvente, descritiva e nos faz mergulhar nos cenários e situações de uma maneira bem vívida.



A edição da Darkside como sempre está impecável e lindíssima. Tem Capa Dura com acabamento em Soft Touch e insetos em detalhes na cor dourada, assim como o título, que só aparece na quarta capa. A folha de guarda é uma das mais bonitas que já vi e o miolo é todo trabalhado com ilustrações de insetos e suas anatomias que combinam com as ilustrações da capa, que por sinal está magnífica. Para fechar com chave de ouro, o corte das páginas também é dourado.