Contos Clássicos de Terror

Eu sempre pensei que antologia de contos são ótimos meios para conhecer novos autores, mas em Contos Clássicos de Terror elevou essa opinião muito acima, já que nessa reunião de contos feita pelo Julio Jeha, e publicado pela Companhia das Letras o contato não é com novos autores, mas com autores velhos e consagrados!

A coletânea pretende reunir o que existe de melhor dentro dos gêneros gótico, terror e horror, o livro é composto por dezenove contos onde os sentimentos despertam os mais diferentes afetos nos protagonistas que se veem nas mais variadas situações as vezes cotidianas, as vezes nunca antes imaginadas. Medo, loucura, imaginação, terror, repulsa, anormalidade e paranormalidade são alguns dos itens abordados por autores tidos como clássicos.

E ao contrário do que costuma acontecer muito não trata-se de um livro com autores somente brasileiros, ou só estrangeiros, já que Jeha se valeu de muitos brasileiros em sua seleção. E é notável a diferença entres os nacionais, que pendem para um estilo facilmente reconhecível. E para os fãs da diversidades temos tanto homens como mulheres.

O primeiro autor, por exemplo, é George Sand que na verdade é pseudônimo da baronesa Amandine Aurore Lucile Dupin, seu conto Espiridião, no entanto não chamou minha atenção. Já Morte na Sala de Aula, do autor Walt Whitman é simples e macabro, conseguindo extrair em poucas folhas o que a maldade nas salas de aula de antigamente poderia gerar.

Edgar Allan Poe não poderia ficar de fora já que está entre um dos mestres do gênero, seu conto O Barril do Amontillado, no entanto foi uma releitura, visto que já li em uma reunião de contos do autor, mas o conto não deixa de ser um ótimo registro de uma vingança a sangue frio!

Muito conhecido por suas obras A Ilha do Tesouro e O Médico e o Monstro, R.L. Stevenson através do seu conto O Ladrão de Corpos narra exatamente o tipo de estória que esperamos para uma estória de terror, em um cotidiano de pessoas de índole duvidosa, mas onde a justiça busca através do sobrenatural ser realizada.  A Causa Secreta escrito por Machado de Assis, não aborda nenhum tema estranho, ao contrário é uma narrativa cotidiana sobre a natureza humana, natureza essa que Assis era intimo conhecedor!

Auguste Villiers de L'Isle-Adam com A Tortura pela Esperança não me agradou pela temática, a inquisição, não gosto de nada com esse tema de ignorância e intolerância. Já em Bárbara, da Casa de Grebe, com o autor Thomas Hardy, tudo soava como um romance de época até que um terrível acidente desperta a loucura! Está entre meus favoritos pelo modo sutil e pontual que abordou sua estória.

Dizer nessa altura que nunca tinha lido Bram Stoker é uma vergonha, então poder finalmente conhecer sua narrativa através de A Selvagem foi um prazer! Seu conto é muito simples, mas não sem certa complexidade nos detalhes que permite uma conexão tamanha que me fez pensar na estória muitas horas depois da leitura. Mesmo nesta pequena obra é possível perceber seu talento.

H.G. Wells é um dos meus autores do coração, Pollock e o Homem de Porroh foi uma releitura, e ela mostra como foi para os ocidentais difícil compreender e respeitar a cultura e a religião dos países africanos.  A Tapera segue com Henrique Coelho Neto, autor brasileiro fundador da cadeira número dois da Academia de Letras, e que eu nunca tinha ouvido falar. Em seu conto encontramos elementos da cultura da época da escravidão e do plantio de cana de açúcar, a sua narrativa é muito característica e consegue ter falas ora rebuscadas, ora simples e regionais.

A Mão do Macaco é um conto muito comentado, escrito por W.W. Jacobs, extrai da natureza humana a ambição aliada ao macabro. É um ótimo conto! Joseph Conrad, em A Fera, tem como protagonista nada menos do que um barco que tinha um humor sádico para matar seus tripulantes. O conto do carioca João do Rio, Emoções, é provavelmente o mais sem graça de todos.

Hugh Walpole, com o Tarn, é outro conto que segue o clima esperado e teve uma ótima execução mostrando como a inveja leva um homem a cometer um crime que ninguém viu, mas que teve seu rápido retorno. Meu conto favorito (junto ao de King) sem dúvida foi o de ninguém menos que H.P. Lovecraft, com Na Cripta, foi meu primeiro contato com o autor e adorei o estilo da escrita do mesmo, e como ela conseguiu ser macabra sem ser explícito, apenas dando a entender o que se passava.

Humberto de Campos foi escolhido com Os Olhos que Comiam Carne, é um conto que parece não levar a lugar algum, mas que termina como um soco no estômago! Já Shirley Jackson, em  A Loteria segue o mesmo gênero de conto despretensioso, mas que nos deixa sem fala no final. Com Lygia Fagundes Teles, Venha ver o pôr do Sol mostra a crueldade que um homem rejeitado tem ao marcar um último encontro com a mulher que gosta.

Por fim, o livro termina com Stephen King e o conto Vovó. O meu favorito empatado com Lovrecraft. King é incrível ao criar uma narrativa que por boa parte aborda o simples fato de uma criança ficar sozinha em casa com sua avó velha e doente. Ele descreve coisas simples como a aparência da avó, e como isso assusta o garoto, é simples e genial, depois a narrativa segue para um caminho mais sobrenatural, e tem um desfecho que abre a interpretações.

Acredito que uma breve resenha de cada autor ajudaria a ambientar os contos, já que alguns deles são bem antigos e são desconhecidos do público. A edição em capa dura está bem gótica e só falha em não ter uma fita de cetim como marcador,  seria um excelente adição ao livro.

Contos Clássicos de Terror é uma reunião que vale cada página, porque permite encontros com autores consagrados e com boas estórias. Os autores escolhidos nem sempre são associados com o gênero, ao mesmo tempo que os clássicos do estilo se fazem presentes. Não existem estórias ruins, e com certeza alguma delas vai agradar ao leitor. Fã ou não do terror a leitura é para quem gosta de boas estórias e aquele friozinho na barriga pelo desconhecido!

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