A pequena cidade de Coldwater
seguia seu ritmo, nada de novo acontecia até que um belo dia Tess Rafferty
recebe um telefonema, é sua mãe que morreu a quatro anos. Outros moradores
começam a receber telefonemas também de seus entes que já partiram, e uma onda
começa a se aproximar da pacata cidade.
Mas o que parecia um milagre e uma
prova de fé não soa como verdadeiro para Sully Harding, ex-piloto das forças
armadas que acabou de ter sua vida revirada por fortes emoções: a queda do
avião que pilotava, a morte de sua mulher e um período na prisão. Então quando
ele se vê diante da missão de recomeçar, essas ligações começam assombrá-lo e
ele parte em busca de respostas. O que ele vai encontrar talvez não seja o que
esperava!
Achei genial a ideia de pessoas
receberem ligações dos que partiram, primeiro porque é simples e não soa
impossível, depois porque de alguma forma acredito que com o tempo é um fato
que possa vir se tornar realidade. E é interessante se pegar pensando de quem
você gostaria de receber essas ligações e como elas seriam.
A narrativa de Albon é o
problema, embora seu ponto de partida seja ótimo ele teve problemas no seu
desenvolvimento, o livro poderia ter se resolvido bem antes, e a sensação de
quem havia mais do que necessário perdurou por metade do livro. Os fatos
demoram muito para desenrolar a ponto de quase despertar o desinteresse. Ela é
feita em terceira pessoa sob o ponto de vista das pessoas que receberam as
ligações, embora se foque mais na linha investigativa de Sully.
É interessante conhecer um pouco
da história de vida de cada personagem e suas ligações com as pessoas que ligam
para elas, mas as ligações em si são muito vagas, e fazem com que o fato que é
surpreendente fique maçante. O personagem de maior destaque em complexidade é
Sully, ele leva nas costas quase toda a atenção do livro, já que seu passado
vai se descortinando ao longo das páginas.
Sully é um marido em luto, ele
carrega mais culpas do que possui, pelo marido que deveria ter sido, pelo pai
que não consegue ser e pela vida que se perdeu por pequenos detalhes. Detalhes
estes que fazem ele perder de foco o que de fato é o mais importante na sua
vida. Sua investigação não só esclarece a verdade quanto as ligações, se são
falsas ou verdadeiras, como a verdade a cerca de sua própria vida. A morte é um
processo para quem fica, mas é mais difícil quando de alguma forma o indivíduo
sente que teve contribuição com ela, Sully tem que vencer mais do que sombras,
ele tem que vencer ele mesmo, aquele que ele olha todos os dias no espelho.
O desenrolar da história é bom,
eu honestamente não desconfiava da verdade por trás de todo o processo, algumas
pistas de fato foram jogadas, mas as peças só se encaixaram quando tudo veio a
tona. Se o autor tivesse cortado boa parte da enrolação o desfecho seria ótimo,
e o livro teria muito mérito.
O que mais me fascinou no
desenvolvimento foi a capacidade do autor de conseguir simular como seria se as
pessoas soubessem que ligações dos mortos estavam ocorrendo. E em como tudo o
caos começou a reinar, e me lembrou muito a sensação que Ensaio sobre a
cegueira me despertou: quando seus interesses são os mais importantes não
importa por cima de quem ou o que você tem passar por cima.
Embora o livro trabalhe com
diversos aspectos interessante como fé, superação, resignificação e recomeço, o
ritmo foi o seu vilão. Porque embora a morte precise de tempo para curar suas
feridas ela precisa de profundidade e continuidade, senão é como chorar
constantemente por uma memória que já não se sabe mais de quem. O Primeiro
telefonema do Céu é assim, um grande telefonema que só se ouviu os ecos.
Olá, Bruna!
ResponderExcluirA premissa do livro é muito boa, mas como no caso do Sully, foram os detalhes que fizeram tudo se perder, mas por colocar muitos detalhes na trama, dando um aspecto de novela da TV, cheia de fatos que esticam a trama principal e deixam ela mais enrolada. Se o autor notasse isso, a trama iria fluir bem melhor, como você bem falou.
Um abraço!
@letiolive (Meu contato no Twitter e no Instagram)