Mary Poppins – Mary Poppins #01 - P. L. Travers

A família Banks vive no número dezessete da Cherry Tree Lane, em Londres, e é composta pelos seguintes membros: sra. Banks, esposa e mãe, que vive de aparências e não tem muito tempo para os filhos; sr. Banks, pai e marido, que sai de casa todos os dias para trabalhar num banco em City, é pão-duro e também não tem tempo para as crianças; e os quatro filhos: Jane, a mais velha, seguida de Michael, e dois bebês gêmeos, John e Barbara. Depois de a última babá ir embora, resolvem encontrar uma substituta para ficar com os pequenos.
E é aí que surge Mary Poppins, voando, literalmente, até a entrada da casa, logo quando a família mais precisava dela. Quando essa mulher peculiar, misteriosa e séria chegou ao local, Jane e Michael, assim como os bebês, não poderiam imaginar que suas vidas mudariam bastante. Agora, além de ter um adulto que lhes faça companhia, eles têm a oportunidade de viver diversas aventuras, sendo algumas delas bem inusitadas, e percebem que a vida é cheia de ensinamentos e também pode ser bem divertida.
A primeira coisa que quero comentar é que estava muito ansiosa para ler esse livro, já que minha mãe sempre adorou a adaptação cinematográfica feita pela Disney e estrelada pela maravilhosa Julie Andrews. Ela ama musicais e sempre canta as músicas do filme e, quando viu que essa obra iria ser publicada pela Zahar, ficou bastante empolgada, o que me deixou ainda mais animada pela leitura.



Muita gente ama o filme da Disney, mas devo confessar que eu nunca assisti, inclusive porque eu não sou a maior entusiasta de musicais. Então não posso dizer que eu sabia exatamente o que poderia encontrar nesse livro, além do fato de algumas crianças ganharem uma nova babá, dona de algumas particularidades, que utiliza um guarda-chuva para ir voando por aí, e que elas adoraram essa nova pessoa em suas vidas.
Mas acredito que estava com uma expectativa um pouco alta demais para a obra, que acabou me decepcionando um pouco. Não que a mesma tenha sido ruim, até porque gostei bastante, mas acho que alguns pontos poderiam ter sido melhor explorados pela autora.
Claro que este é apenas o volume inicial de uma série enorme, então muita água ainda vai rolar debaixo dessa ponte e, provavelmente, muitos detalhes serão melhor desenvolvidos mais para a frente. Porém, achei que, como um primeiro livro de uma série, a autora poderia, sim, ter dado atenção especial a mais explicações e também um maior convívio do leitor com a personagem principal, Mary Poppins, que eu não considero que tenha conhecido tão bem assim.



E achei Mary um pouco arrogante e senti falta de uma exploração maior de seu relacionamento com as crianças também, porque vi que elas começaram a apreciar bastante sua companhia, mas não vi nada que indicasse que esses sentimentos surgiriam desta forma. E eu queria sentir isso junto com eles. Sim, eles se divertiam com as situações inusitadas e diferentes que vivenciavam, mas a pessoa Poppins não era tão agradável assim.
Mas a obra em si é muito divertida, leve, descontraída e interessante. E, mesmo que a escritora, Pamela, tenha dito que não escreveu para o público infantil, acredito que são principalmente as crianças que se encantam mais por essa história, ainda mais levando em consideração que não vão se preocupar tanto assim com os detalhes ou pormenores que ficaram sem explicações.
Tem também cenas tocantes e reflexivas, que nos encantam e nos fazem pensar em coisas que provavelmente nunca antes teríamos imaginado algo semelhante. Pelo menos eu nunca tinha feito isso. Como exemplo, vou citar uma cena bem emocionante com relação aos bebês e como eles falam com animais e coisas, mas depois que chegam a um ano de vida, o amadurecimento faz com que tudo mude e eles nunca mais possam fazer isso. Não posso entrar em mais detalhes, porque poderia estragar o momento da leitura, mas é realmente algo bem bonito e comovente.




Algo muito bacana é que vemos que Mary Poppins ajuda a mudar um pouco a estrutura familiar, sendo uma figura importante para essas crianças que antes eram negligenciadas por pais ausentes, que serve como exemplo para pessoas da época em que a obra é retratada, mas também para os dias de hoje, mesmo que os motivos sejam diferentes. Na atualidade, mesmo que os pais estejam em casa depois do trabalho ou nem trabalhem, eles têm a companhia dos celulares e aparelhos eletrônicos, muitas vezes deixando seus filhos de lado em prol dessas tecnologias. Não é algo dado como certo, porém é mais frequente do que o esperado. Só que, diferentemente daquele tempo, hoje as babás são menos empregadas, o que pode deixar as crianças que leem essa obra ainda mais empolgadas com a trama, tendo uma maior proximidade com essa figura da babá e todas as situações que os pequenos vivenciam com ela.
Mary Poppins é uma personagem bem peculiar, que consegue fazer coisas diferentes, que as pessoas “normais” não fazem, como conversar com animais e as coisas, usar o vento para chegar ou ir embora; ela também conhece pessoas inusitadas e pode viajar para outros lugares com uma facilidade incrível.



As crianças sempre se divertem em sua presença, mesmo que ela se finja de desentendida ou fique brava com alguns dos comentários deles. E os protagonistas desse livro vivenciam coisas surreais e incríveis junto com sua babá excêntrica, como um zoológico ao contrário, um chá invertido e uma mãe baixinha malvada que controla suas gigantes filhas. Entre outras coisas memoráveis.
Aliás, algo que achei interessantíssimo foi a utilização da direção do vento com significados. O Leste traz coisas boas e transformações, já que é associado à direção simbólica da presença divina, e é quando a querida Mary Poppins chega à casa daquela família, onde vai ficar por um tempo como babá, modificando a estrutura familiar discretamente, mas de maneira bastante significativa, suprindo o abandono. E vai embora com o Vento Oeste, que, de acordo com a mitologia grega, é o vento benfazejo e mensageiro da primavera. Essas informações estão, inclusive, presentes nas notas de rodapé, que por sinal são magníficas e nos ajudam muito a nos situar na trama e no contexto social da época.
E também o fato de que crescer e amadurecer é uma coisa normal e agradável, que todos vamos passar por diversas situações e vamos nos modificar por conta de cada uma delas. O mundo é um lugar grande, repleto de aventuras, e, com coragem e força de vontade, todos podemos vivenciar grandes jornadas, memoráveis e especiais. E mesmo as coisas ruins que temos que enfrentar acabam fazendo com que a gente absorva algo delas.
A narrativa da autora é leve, possui um tom divertido e flui maravilhosamente bem. Cada capítulo representa uma historinha diferente, que poderia ser até mesma considerada independente das demais, mesmo que juntas formem um todo em ordem cronológica, fazendo com que a dinâmica da leitura seja muito agradável e gostosa. Algo que notei em Travers é que ela aprecia muito a mitologia grega, sempre fazendo referências a algo relacionado ao assunto no texto, e isso também é fascinante.
Como comentei no início da resenha, ainda não assisti ao filme da Disney, só que há comentários sobre essa adaptação nesta edição, no texto de apresentação A Vida Secreta de Mary Poppins, escrito pelo tradutor Joca Reiners Terron, que também é o responsável pelas maravilhosas notas.



P. L. Travers não queria que sua história virasse um filme e o Walt Disney teve que se desdobrar, assediando a autora até convencê-la a vender seus direitos – algo que durou uma década e meia para se concretizar. Só que ela não gostou do roteiro, visto que foge completamente de tudo o que criou e do que queria passar com sua obra, e lhe pediu para modificar alguns detalhes, coisa que ele não fez e lhe deu como resposta “O navio já partiu, sra. Travers”. A escritora, inclusive, chorou de desgosto depois de ter assistido à adaptação e preferiu fingir que a mesma nem existia. Mas ela ficou rica, ganhou notoriedade e o filme foi agraciado com diversos prêmios.
Alguns anos depois, a trama virou um musical, o qual ela teve a oportunidade de assistir e ficou extasiada e feliz com o resultado final, que seguia bem sua linha de pensamentos e conseguiu transmitir tudo o que queria, inclusive com um elenco exclusivamente composto de atores ingleses.
Esse é o primeiro volume de uma série imensa, que possui oito títulos no total. No Brasil, somente este inicial foi publicado algumas vezes em edições diferentes. Alguns dos outros até foram lançados, mas acredito que não são facilmente encontrados e já estão esgotados. E também não encontrei informações de que alguém tenha o intuito de voltar ou continuar publicando os demais.



Essa edição maravilhosa, comentada e ilustrada, faz parte da coleção Clássicos Zahar e, como sempre, está um arraso! Primeiramente porque possui TODAS as ilustrações originais de Mary Shepard, depois porque conta com uma tradução impecável, além de apresentação e notas muito interessantes do escritor Joca Reiners Terron, e, além do mais, traz cronologia da vida e obra de P. L. Travers, assim como o texto de uma palestra da autora denominada Sobre Não Escrever para Crianças, como anexo.
A parte gráfica também está incrível, a capa é dura e conta com uma ilustração magnífica, produzida pelo Rafael Nobre, da Babilonia Cultura Editorial (meu sonho escrever um livro e ter a capa feita por ele!), folha de guarda lindíssima com uma silhueta pequena de Mary Poppins voando, texto bem diagramado com fonte e espaçamentos confortáveis, e páginas amarelas.
Ainda que “Mary Poppins” seja amplamente lido por crianças, que se encantam com as excêntricas aventuras vivenciadas pelos jovens protagonistas que estão sob os cuidados desta babá misteriosa, acredito, assim como a própria autora, P. L. Travers, que a obra tenha seu valor e pontos interessantes para pessoas de todas as idades, inclusive adultos. Se você quer se divertir com essa peculiar personagem e vivenciar, mesmo que apenas através das páginas de um livro, uma trama envolvente e deliciosa, embarque nesta obra também.



Avaliação



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3 comentários:

  1. Também não sou uma fã de musicais, nunca assistir ao filme, mesmo tendo interesse. Tenho curiosidade em ler o livro e pelo jeito é melhor não ter muitas expectativas kkkk

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  2. Achei a premissa do livro encantadora, todas essas aventuras que são experienciadas pela personagem me pareceu muito cativante, talvez seja por isso que as crianças tenha tanto interesse em ler a obra. Confesso que fiquei curiosa para saber mais sobre a adaptação cinematográfica. Esta edição esta lindíssima e encheu meus olhos.

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  3. nossa eu estou louca para ler esse livro eu amo o filme e sei que vou amar o livro a sua resenha fez eu ter mais vontade ainda de ler essa edição e muito linda <3

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