Ferreiro de Bosque Grande – J. R. R. Tolkien

A aldeia de Bosque Grande era um local notável e conhecido na região devido aos artesãos que ali viviam e as suas habilidades em diversos ofícios, principalmente na culinária. A região fazia diversos festivais ao longo dos anos, mas um deles era especial e muito aguardado, pois era o único celebrado no inverno e durava uma semana, e no último dia havia uma festividade denominada Banquete das Boas Crianças. Mas somente vinte e quatro crianças podiam comparecer, e, como só acontecia a cada vinte e quatro anos, era a data de aniversário dos pequenos que os deixavam hábil de participar do Banquete de Vinte e Quatro.
Como era uma ocasião muito especial, o Mestre-Cuca do momento tinha que preparar o melhor bolo de todos, chamado de Grande Bolo, que além de ser muito doce e saboroso, levava alguns ingredientes diferenciados, sobretudo um artefato mágico, que daria a quem o engolisse o dom de entrar na Terra-Fada.
Não é segredo para ninguém que eu sou uma grande fã de Tolkien, apesar de ainda não ter lido todas as suas obras. Então, todas as vezes que algum trabalho inédito do autor é publicado no Brasil, eu já fico louca precisando tê-lo em mãos para ler o quanto antes. Desde que a WMF Martins Fontes anunciou a publicação desta obra, eu já estava empolgadíssima para lê-la, e fico feliz de poder dizer que a experiência de leitura foi realmente muito boa, principalmente por conta dos extras incríveis que a edição nacional possui.

A história de “Ferreiro de Bosque Grande” é, em si, bem curtinha – acaba na página quarenta e oito –, mas consegue ser incrivelmente agradável e fofa, além de reflexiva. Tolkien tem um dom tão notável em sua escrita, que a gente logo se sente inserido naquele mundo, naqueles cenários, e ainda cria uma profunda afeição por seus personagens.

Sua escrita é descritiva, mas desta vez de um jeito mais leve, mais sutil, inserindo-nos naquele mundo, fazendo com que os leitores facilmente visualizem todos os lugares e personagens. A narrativa é leve, muito envolvente e super fluida, fazendo com que a leitura seja ainda mais gostosa.

Depois de terminado o conto, começam os diversos extras desta edição. Primeiramente com um posfácio escrito por Verlyn Flieger, comentando sobre detalhes da criação desta história, exemplificando seus argumentos com cartas, trechos de apresentações, falando sobre os fac-símiles e manuscritos, entre outros.

Logo em seguida, vamos conhecer como tudo aquilo foi criado, o processo de Tolkien da criação e desenvolvimento da ideia, de como foi passá-la para o papel e as edições que fez até chegar a esta versão final que foi publicada no começo do exemplar. Então vamos encontrar notas do próprio Tolkien, esquemas de personagens, sugestões de um final alternativo, ensaio, rascunhos e transcrições.

Uma curiosidade interessante que vale a pena ser citada aqui é que esta história foi a última que Tolkien escreveu, em 1964, poucos anos antes de vir a falecer, e também a última a ser publicada quando ele ainda era vivo, em 1967. Seus demais títulos curtos “Roverandom”, “Mestre Gil de Ham” e “Sr. Bliss” (já li estas três, mas apenas a última tem resenha aqui no blog, clique no título para conferir) foram publicados nas décadas de 1920 e 1930, e “Folha de Migalha” em 1943, enquanto sua grande obra, “O Senhor dos Anéis”, já havia sido escrita há mais de uma década.

A edição da WMF Martins Fontes está um verdadeiro primor! As ilustrações do miolo, assim como a da capa, que são lindas, são as originais de Pauline Baynes, há diversas reproduções em imagem de trechos e comentários escritos ou datilografados pelo próprio Tolkien, (fac-símiles), incluindo suas edições. O formato do exemplar físico é pequenino, com 20,50 cm x 13,00 cm e 178 páginas, as folhas são amarelas, sendo duas em papel couché, uma com uma ilustração colorida antes do início da história, e outra no final dela, com uma imagem de um trecho dela datilografada pelo escritor e com comentários escritos pelo mesmo.

Este exemplar, em sua versão original, foi editado pela especialista em Tolkien, Verlyn Flieger, diferente da maioria dos demais publicados nos últimos anos, que foram editados por Christopher Tolkien, e a tradução ficou a cargo do magnífico Ronald Kyrmse, também especialista em Tolkien, muito renomado aqui no Brasil.


“Ferreiro de Bosque Grande”, apesar de curtinho, é um exemplar realmente bem completo, que nos faz “entrar” na mente do mestre Tolkien, entender tudo o que ele queria com relação a esta história, e ainda nos deliciamos com cada página. Para os fãs do autor e/ou para quem gosta de saber mais sobre os processos de criação de alguma história, este título é um prato cheio e recheado. Mais do que recomendado!

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4 comentários:

  1. Eu infelizmente ainda nao tive a oportunidade de ler nada do Tolkien. mas tenho aqui sua mais famosa obra, O senhor dos anéis, estava na minha meta de leitura ano passado, mas acabou que nao li, mas esse ano leio hahahahahaha
    Eu gosto as vezes quando o livro tem esses detalhes em desenhos, acho bem interessante *-*
    Douglas Fernandes
    douglas_bouvier@yahoo.com.br

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  2. Olá!

    Posso dizer que sou daquela que só conheciam das obras de Tolkien O Senhor dos Aneis e O Hobbit, afinal, foram eles que viraram filmes super populares nas mãos de Peter Jackson.
    Então saber que existe mais desde autor que estabeleceu o que é fantasia na literatura me deixou embasbacada.
    E mesmo o conto sendo curto, ele consegue ser muito bom e os extras mostram como ele criou essas histórias que encantam leitores há gerações e é uma verdadeira lição a todos os autores e leitores.

    Um abraço!

    @letiolive (Meu contato no Twitter e Instagram)

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  3. Não consegui ler "O Senhor dos Anéis" num primeiro momento. Era descritivo demais e não rolou muita "química". Mas pretendo tentar novamente. Talvez, se eu começar com uma história curtinha e gostosa assim, eu consiga ir entrando no mundo de Tolkien aos poucos e ele acabe me conquistando.

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  4. Ameeeeeei suas fotos!! Que livro mais adorável! Tolkien é realmente incrível, fico imaginando como deve ser maravilhoso ter tido aula com ele, e uma pena que eu não era viva na época ainda. rsrs Sua resenha está incrível e eu fiquei curiosa para conhecer o Grande Bolo e os personagens. E, mais ainda, para ver o processo de criação do autor, deve ser mais do que fantástico!

    juba.jujunascimento@gmail.com

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