Cira e o Velho - Walter Tierno


"Qualquer um pode ver o futuro escrito no presente, se tiver sabedoria e a mente limpa". (Pág. 147)

Antes de começar a resenha devo contar um dado pessoal, um dos fatos responsáveis pelo meu interesse literário é o folclore brasileiro. Eu ainda era uma garotinha quando meu professor de artes resolveu ler lendas de um livro (esse aqui) com uma capa com um saci muito tentador, eu fiquei alucinada e comprei o livro. Depois disso desenvolvi um carinho muito grande pelas lendas e mitos brasileiro, então quando esbarrei com Cira e o Velho, escrito pelo autor Walter Tierno, e publicado pela Giz Editorial, foi vontade a primeira olhada!

Na trama conhecemos Cira, uma bruxa poderosa com uma beleza única que arrebata a todos que a vêem. Sua história é contada através de um admirador anônimo que busca obsessivamente informações sobre sua lenda, tudo por conta de uma figurinha de sua infância. Através da paisagem do Brasil Colônia conhecemos seu pai, Cobra Norato, sua mãe Guaracy, e toda a vingança de sua tia Maria Caninana que marca a história da guerreia. Uma história de vida que viaja entre personagens marcantes do folclore brasileiro.

É surpreendente como um livro pode nos transportar no tempo, eu me vi pequena ouvindo as histórias de Cira, e vibrando com os personagens que iam surgindo ao longo do desenvolvimento. Tierno tem uma narrativa peculiar: direta, detalhada, fria e com uma pitada de humor negro na medida que nos convida sem receios a ver as cenas como elas são, sem nos poupar dos detalhes sórdidos ou cruéis. É feita em terceira pessoa por esse indivíduo anônimo, que é revelado ao fim da trama (pelo menos eu compreendi assim =P). Outra característica marcante é a não linearidade, ela viaja no tempo a medida que a história pede por explicações.


O livro é repleto de ilustrações de traço forte feitas pelo próprio autor. A capa transmite a ideia do livro, mas gostava mais da capa da primeira edição. A diagramação foi bem feita, e conta com pequenas frases no início de alguns capítulos e pequenas espadas para dividir a narrativa.

Repleta de personagens, a história de Cira é muito rica, se apropriou muito bem da lenda do Cobra Norato para ambientar seu nascimento e história. Velhos conhecidos como lobisomens, boitatá, curupira, e etc nos brindam com sua presença e personalidade, sem efetivamente aparecerem com esses nomes. Entrelaçados com personagens escravos, inclusive do Quilombo dos Palmares e mercenários índios e brancos, torcemos pela felicidade de Cira tirada tão prematuramente.

Um destaque aos seres mitológicos, aqui eles aparecem humanizados, embora possuam os poderes por que são conhecidos, eles também se adaptaram a vida moderna e desenvolveram inclusive vícios, como é o caso do Curupira viciado em tabaco. Isso é sensacional, eu adoro quando um autor consegue trazer o sobrenatural para perto da realidade a ponto de olharmos para o lado e pensar será?

Cira é a união de opostos, é doce, atenciosa e sensível com quem ama e com quem acredita ser vítima nas situações (como é o caso dos escravos), não suporta que maltratem animais ou pessoas por crueldade. Mas ao mesmo tempo é cruel, impulsiva, meticulosa, espera o quanto for por sua vingança.

Nhá é uma das amantes de Cobra Norato, e foi companheira de Cira em suas aventuras. Uma personagem fofinha que se torna uma mulher para acompanhar e ajudar sua amiga fiel. A fidelidade entre as duas é linda, e mostra que embora tenhamos um objetivo ele não pode passar por cima de quem amamos!

Norato é uma cobra a maior parte do tempo, e age instintivamente como uma. Faz o que precisa, mas não é mal. Ao contrário, o achei ele até muito bonzinho diante de todas as desventuras que sua família sofreu.


Dizer que esse livro é único é chover no molhado, embora tenhamos um folclore rico e detalhado poucos autores se apropriam dele, ou o usam como pano de fundo. Uma pena! Que bom que Cira e o Velho estão ai para resgatar essa atmosfera única, em um tempo que desconfiamos conhecer mas que nada sabemos, sobre um povo que é nós também mas fingimos não nos pertencer. Leiam, o folclore brasileiro agradece!

SORTEIO
O autor walter nos cedeu 1 marcador autografado do Livro Cira e o Velho, para ganhar basta:

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>>> Comentar nesta resenha (com meio de contato) com conteúdo sobre o livro, qual sua relação com o folclore brasileiro?
>>> Comentar na entrevista do Walter Tierno aqui para o House.

O sorteio vai ser feito no dia 21.03.2014. Boa sorte!!

Avaliação










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4 comentários:

  1. Eu quero muito ler este livro! Adorei a resenha, só me deixou mais curiosa! Como comentei antes, conheci o Walter na bienal da minha cidade, e o achei fantástico! Ainda leio todos os seus livros! rsrsrsrsrsr

    Tbm adoro o folclore brasileiro, é uma pena que não tenha tantos livros assim sobre o assunto, mas tenho certeza que o trabalho do Walter é maravilhoso!

    Não vou participar do sorteio pq já tenho este marcador autografado, então boa sorte aos participantes!

    bjo bjo^^

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  2. Bruna!
    Sou fã da literatura nacional e claro que o folclore principalmente. Na infância lia muito Monteiro Lobato e ele era expert em divulgar o nosso folclore. E não podia ser diferente minha escolha em conhecer e me aprofundar cada vez mais nessa cultura tão incutida em nossa realidade.
    O livro é bem curioso e fiquei com vontade de ler.

    Rudynalva Correia Soares
    rudynalva@yahoo.com.br
    João Pessoa/PB – Brasil


    Vim agradecer a visita e o apoio lá no blog, obrigada! Demorei um pouco por ter de viajar para ficar ao lado da minha mãe que ainda está triste com o falecimento do meu irmão.
    Obrigada pela atenção e será sempre bem vinda.
    FELIZ DIA INTERNACIONAL DA MULHER!!
    Bom domingo!
    cheirinhos
    Rudy
    Blog Alegria de Viver e Amar o que é Bom!
    “O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.”(Maria Julia Paes de Silva)

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  3. Não conheço quase nada do folclore brasileiro além do básico do básico (digamos saci, curupira, iara, boto e acabou meu conhecimento), mas acho que eu realmente deveria saber mais! O livro parece ser bem diferente do que estou acostumada, é uma oportunidade para eu abrir meus horizontes ahha
    xx
    Flávia
    http://caverna-literaria.blogspot.com.br/

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  4. O livro parece ser tão bom quanto Anardeus, cheio de folclore, e dons bons, pois parece que Walter os inseriu de uma forma delicada, sem nada forçado.. Estou muito curioso para conhecer Cira e o velhor e desbravar as páginas mágicas, que tem como o folclore nacional ativo. Minha relação com o folclore nacional seria ao qual o acho importantissimo para o Brasil e que deveria ser mais divulgado.. Adoro o folclore, principalmente quando há livros que tem como personagens, o curupira, o saci e muitos outros desconhecidos por nós mesmos, os brasileiros..

    Bjoo

    fabricio-fenix2010@hotmail.com

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